A escrita de código é a sua especialidade, mas são os números dos últimos tempos que a distinguem no ramo da empregabilidade. Através do seu bootcamp de programação de 14 semanas, a Academia de Código, criada pela startup lusa Code for All e baseada no Porto, já transformou a vida de 1492 pessoas, desde o seu início, em 2014, conferindo-lhes conhecimentos tecnológicos para ingressarem numa profissão com perspetiva de futuro.
O pacote de escalada para o ápice de carreira inclui "um ensino de qualidade" certificado pela Ernst & Young, uma taxa de empregabilidade atual na ordem dos 98%, em 90 dias - para a qual contribuem as contratações das centenas de empresas parceiras, nas quais se incluem a Feedzai, Farfetch, OutSystems e Talkdesk - e um aumento de 500 a 700 euros líquidos no vencimento mensal em início de atividade, assegura ao Dinheiro Vivo o CEO e cofundador da empresa, João Magalhães.
Nos primeiros anos, quase 100% do público que procurava a escola de programação "eram desempregados, à procura de uma atividade laboral". Contudo, "a tendência tem vindo a alterar-se", revela o responsável, indicando 2020 como o ponto de viragem. Hoje, grande parte dos alunos da Academia de Código são pessoas que têm emprego, mas que querem fazer conversão de carreira. Destacam-se os "profissionais de supermercado, call centers" e outros que estejam ligados a "setores com menos segurança financeira", como o da música.
A procura tem sido "cada vez maior", garante o CEO. A previsão é de terminar o ano com um crescimento de 40%, face a 2021, e lançar mais 100 novos programadores no mercado. Apesar de os portugueses serem os que assumem maior peso nesta matéria, a origem daqueles que veem na programação uma oportunidade para melhorar a qualidade de vida percorre 18 pontos do globo, que vão do Nepal à Suíça, e da Holanda ao Brasil.
Mas, afinal, o que motiva este incremento? João Magalhães explica que, para as gerações mais recentes, o investimento na formação ao longo da vida é ponto assente. Este é, "sem dúvida, um dos fatores que tem potenciado o aumento da procura pelo nosso bootcamp, já que os profissionais tomam a iniciativa de se formarem em novas áreas", refere. Rumo ao mesmo sentido, a atratividade salarial é discrepante aos olhos de outras atividades. As propostas feitas e aceites pelos alunos da Academia de Código, em início de carreira, asseguram-lhes, ao final do mês, 1183 euros líquidos. A facilidade de acesso ao curso - que custa aproximadamente sete mil euros - através de opções financiadas, proporcionadas pela Fundação José Neves e o Banco Montepio, motiva também a aposta.
Mais de duas centenas de pessoas constituem a equipa da startup. Espalhados por Portugal, México, Polónia, Andorra e Bahrain, 55% dos que para ela trabalham são fruto de retenção após conclusão do bootcamp. É o trabalho conjunto de todos estes elementos que levou a Academia de Código a ser distinguida pelo Best for the World, na categoria Cliente. Apenas 5% das organizações mundiais com a mesma dimensão têm esse privilégio.
"Este reconhecimento demonstra bem o foco e a energia que depositamos em tudo o que fazemos", afirma o CEO, salientando que o objetivo está em criar "comunidades sustentáveis num mundo cada vez mais global e tecnológico", sem deixar "nenhum talento de fora". "Vemos os nossos bootcamps não como um curso, mas como uma oportunidade para mudar de vida, e isso faz toda a diferença", remata.
Além de impactar a vida dos alunos, permitindo-lhes alcançar rendimentos superiores à média, a escola de programação aponta uma repercussão regional além Lisboa e Porto. Desde 2017, já 22 empresas foram constituídas nos Açores em consequência de uma parceria com a empresa. Também em Castelo Branco foram criados mais de 170 empregos, resultantes da formação. Já a nível nacional, "a nossa estimativa é de que a reconversão profissional e taxa de empregabilidade do nosso bootcamp devam impactar positivamente entre 2,5 e 3 milhões de euros a receita fiscal", assinala o cofundador da empresa, dando conta de que está a ser finalizado um estudo com uma consultora para quantificar e confirmar esse impacto.
Com Portugal a ser "visto por muitas empresas no espaço europeu como um hub tecnológico", torna-se essencial "investir em mais conhecimento e educação" - e isto, para João Magalhães, passa por incluir a programação no currículo de todas as escolas do país. A Academia de Código já trabalha neste sentido, estendendo a sua atuação aos mais novos, através da plataforma online Ubbu, na qual mais de 180 mil crianças de todo o mundo já realizaram 26 milhões de atividades relacionadas com ciências da computação e programação.
O futuro da startup passa por dar resposta a quem precisa - nestes, incluem-se as pessoas e o mercado. Por esse motivo, a escola vai lançar uma nova formação em cibersegurança, em diversos modelos de ensino, para fazer face ao crescente número de ataques informáticos. Os primeiros workshops sobre o tema acontecerão já nos próximos dias 3 e 24 de setembro.