A corrida ao espaço já não se joga apenas na esfera pública. Depois de várias décadas a ser dominada pela medição de forças por blocos económicos e políticos, recentemente a indústria entrou numa nova era com empresas privadas e "players" como Elon Musk, Richard Branson ou Jeff Bezos a assumir o protagonismo. A exploração espacial tem despertado o interesse por parte dos investidores, apesar de todos os riscos e incertezas que a rodeiam. Mas começam a surgir mais produtos que permitem ganhar exposição a este tema..Até agora só era possível investir diretamente em ações de empresas que estão na corrida ao espaço ou através de fundos negociados em bolsa (ETFs), mas começam a ser lançados outros instrumentos que permitem apostar neste setor. No Velho Continente, a gestora gestora La Financière de L"Échiquier lançou o primeiro fundo de investimento europeu dedicado a esta área que começou recentemente a ser comercializado pelo Banco Best. Rui Castro Pacheco, director de investimento da instituição, diz que este não é um produto para todos os perfis de risco. Mas salienta as potencialidades desta nova fronteira na economia e nos investimentos.."Estamos numa nova era espacial, a fase 2.0", começou por explicar o responsável ao Dinheiro Vivo, detalhando que atualmente há um forte dinamismo deste mercado com a democratização de acesso ao espaço. Exemplo disso é a aceleração do número de lançamento de satélites, que em 2021 atingiu o valor record de 1.400. O que prova o aumento do número, cada vez maior, de players espaciais a atuar neste novo mercado. "Além de alguns Governos que ainda continuam a investir, claro, o que vemos é um grande conjunto de empresas privadas a apostar nesta indústria, directa ou indiretamente, com modelos de negócios que podem ser rentabilizados", sublinhou Rui Castro Pacheco..O caminho espacial da Humanidade começou por ser uma corrida entre blocos geopolíticos, nomeadamente entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, num espetáculo a tentar competir por "uma montra de tecnologia para ver quem é o primeiro a chegar", acrescentou. "Os recursos eram ilimitados e não havia qualquer incentivo para reduzir custos ou preocupações em suportar um modelo de negócio". Algo que não acontece com a viagem das empresas privadas a esta nova realidade..Atualmente, a indústria espacial soma investimentos de cerca de 400 mil milhões de dólares, um número que até 2045 deve atingir 2,7 biliões de dólares, segundo as mais recentes estimativas, à boleia de investimentos de empresas como a Space X e a Blue Origin, e à criação de novos negócios que vão poder ser criados com o arranque desta nova era. Além disso, como recorda o responsável do Banco Best, a aposta no espaço tem contribuído para outros fins como o combate aos fogos, através das imagens captadas pelo sistema de emergência da União Europeia de navegação por satélite Copernicus, ou, por exemplo, a ajuda que os satélites de Elon Musk estão a dar à Ucrânia com a cedência de dados de telecomunicações e localização das tropas russas. "Há muitas coisas que podem vir a acontecer na medida que a tecnologia está disponível e que os preços começam a ser mais em conta", acrescentou..Viagem atribulada.As novas empresas aventureiras desta viagem ao mercado espacial, e que integram a carteira do fundo, atuam principalmente em quatro eixos: Entre a terra e o espaço, onde estão incluídas cotadas dos setores de sistemas de telecomunicações e do lançamento de ativos espaciais; na terra, tratando-se de fabricantes de foguetões e satélites, por exemplo; no espaço, dedicando-se a atividades como a observação da terra, a exploração espacial, produção industrial no espaço, e mineração espacial; e, por fim, na tecnologia, onde cabem as empresas que facilitam o desenvolvimento de todo este ecossistema espacial, como o cloud computing, o software industrial, software de simulação e o research de inovação fundamental. A Iridium Communications, Planet Labs, Maxar Technologies, Microsoft, Rocket Labs ou Amazon são algumas das empresas que estão a tentar apanhar este voo e em que o fundo mais investia no final de junho..Apesar do potencial da exploração espacial, a verdade é que nos últimos meses as ações deste setor têm estado entre as mais penalizadas no mercado, o que levou o fundo a desvalorizar 38% na primeira metade do ano. Um sinal de que este pode ser um setor turbulento e que não se destina a todos. "Um investimento em ações é sempre arriscado e quando estamos a falar de algumas empresas tecnológicas o risco aumenta", contextualizou Rui Castro Pacheco, detalhando que em negócios que estão em fase inicial - como o da corrida ao espaço - o perigo de grandes oscilações de valor é ainda maior."Diria que o interessante aqui na constituição deste fundo é que permite investir neste tema, mas com gestores profissionais que entendem a indústria e modelos de negócios para depois constituir um portfólio entre 25 a 35 empresas, por isso, o nosso risco fica mais diluído", apontou..É neste cenário que Rui Castro Pacheco adverte que este produto não é para todos os investidores. "Tem de ser um um tipo de investidor dinâmico ou agressivo". Além disso, como é um investimento específico, não deve ser alocada uma parte significativa da carteira e a aposta deve ser feita numa perspectiva de longo prazo. "Temos a noção que é um fundo de algum nicho, mas pensamos que faz todo o sentido e que a aceitação será boa", referiu, confessando que alguns clientes do Banco Best já tinham explorado produtos desta temática.