2021: o desafio é digital e o propósito humanista

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O ano de 2020 fechou com a tão expectante chegada da vacina contra a Covid-19. Um sinal de esperança capital para a saúde das populações e para a economia dos países. É certo que o processo de vacinação decorrerá a um ritmo gradual e que seremos forçados a um novo confinamento já no início do ano, mas que este recuo, ainda que necessário, nos permita dar os passos necessários em frente com confiança em fazer de 2021 um ano de efetiva recuperação a todos os níveis.

Num quadro de enorme incerteza em relação ao futuro, refletir sobre os acontecimentos do passado pode ajudar-nos a melhor prever o que está por vir. E se há um dado adquirido ao longo do último ano é que o digital assumiu uma dimensão sem precedentes em áreas como o teletrabalho, o ensino à distância, o comércio eletrónico, as consultas online, o entretenimento e os contactos sociais possíveis.

O Relatório Anual de Competitividade do World Economic Forum, que analisou não apenas o impacto da pandemia e as consequências sociais e económicas para os países, mas também o caminho que cada um está a traçar do ponto de vista da recuperação financeira, é claro a demonstrar que países com economias digitais avançadas e melhores competências digitais têm tido mais sucesso no combate à crise.

É este o desafio que Portugal tem pela frente: efetivar a transição digital através da capacitação das pessoas, da transformação das empresas e da modernização do Estado, sem deixar ninguém para trás. A Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, assim como o pacote financeiro que chegará de Bruxelas, são oportunidades únicas que o País não poderá desperdiçar e uma alavanca fundamental para acelerar a transformação digital enquanto motor da recuperação económica e social.

A transição para uma sociedade ainda mais digital apenas se fará acompanhada de uma aposta no desenvolvimento das competências digitais dos cidadãos e de um trabalho conjunto em torno da inclusão para que todos, sem exceção, se possam adaptar aos novos processos e às ferramentas inovadoras de que hoje dispomos, com o conhecimento, a segurança e a confiança que se impõe.

Quando pensamos a estratégia digital do País importa ter em conta que cerca de 20% da nossa população nunca acedeu à internet e que 36% das mulheres não a utiliza diariamente, sendo que apenas 15% do emprego tecnológico é feminino, segundo o Índice de Igualdade de Género do Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE). É, por isso, urgente trazer todos para o digital e criar as condições para que o acesso seja cada vez mais facilitado e encorajado, de Norte a Sul, do Litoral ao Interior e nas ilhas. Iniciativas e programas como o Portugal Digital e o INCoDe.2030 têm funcionado como importantes veículos de desenvolvimento digital e terão um novo fôlego conjunto e cooperante já em 2021, de forma a dar resposta à crescente necessidade de capacitação e literacia digitais.

Neste contexto, e em linha com as ambições europeias no domínio digital, Portugal tem percorrido a sua jornada digital, reforçada como um dos principais desígnios do programa de Governo enquanto prioridade estratégica e vetor essencial ao crescimento económico.

Com a Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, teremos a oportunidade única de deixar uma marca digital. É chegado, portanto, o momento de concretizar a aposta na transformação digital para acelerar a recuperação e promover o investimento em áreas-chave como o emprego, a educação, a saúde e o ambiente. Não podemos perder tempo. Esta é a dimensão do desafio e o desafio é digital, mas o propósito deve ser humanista.

Luísa Ribeiro Lopes é presidente do Conselho Diretivo do .PT

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