2025: inteligência artificial e capacitação de recursos humanos

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À medida que nos aproximamos do final do ano, torna-se natural começarmos a perspetivar 2025. Este é o momento em que as tendências para o ano seguinte ganham destaque, mas também a ocasião em que se cruzam os caminhos entre o ano que termina e o que está por vir. Essa interceção centra-se atualmente em dois pilares fundamentais para as empresas: a inteligência artificial e a capacitação dos recursos humanos.

Esta é, pelo menos, uma visão estratégica para o país que se depreende de dois anúncios feitos pelo Governo neste último trimestre. Quanto à sua concretização, isso só será possível avaliar no próximo ano.

Começo pelo mais recente anúncio, feito pelo ministro da Economia, sobre o Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos nas Empresas, com novo aviso para uma dotação de 30 milhões de euros. Como esclarece o Ministério, esta formação responde à crescente necessidade de “inovação, digitalização e sustentabilidade, reforçando a competitividade e qualificação das empresas”, especialmente num motor de desenvolvimento económico que é a indústria transformadora.

A medida toca em três pontos essenciais: a criação de emprego com diferentes qualificações; o incentivo à criatividade, que é crucial para a inovação; e a promoção da internacionalização, que é justamente um dos objetivos estratégicos apresentados também pelo ministro Pedro Reis no Parlamento esta semana.

Qualificar, requalificar e reciclar conhecimentos é fundamental para assegurar uma mão-de-obra capaz de dar resposta às exigências de um mercado global altamente competitivo e aos desafios económicos que a Europa enfrentará em 2025. A formação é o combustível da inovação e do ecossistema empreendedor, da adaptação às novas tecnologias e do aumento da produtividade, da atração de investimento estrangeiro e da plena integração de Portugal na Europa.

Esta é a mensagem mais importante que um Governo deve transmitir: ninguém pode ficar para trás. São precisas, por exemplo, iniciativas que alcancem populações mais desfavorecidas do ponto de vista tecnológico. Ou, no caso das PME, que sejam criados iniciativas que promovam o acesso a ferramentas de IA, inclusive através de financiamento e de programas de formação, com impacto positivo na gestão das empresas, operacionalização, diferenciação e para torná-las mais sustentáveis. É necessário que todo o país seja convocado para este desígnio. E para isso é preciso mais ousadia do Governo, mais investimento e maior inclusão.

Senão, dificilmente entraremos também no segundo pilar: a inteligência artificial. Em primeiro lugar, começando pela literacia em IA, de forma alargada à população, até à capacitação dos nossos recursos humanos para trabalharem em ambientes que recorram a esta tecnologia – que já é transversal a toda a sociedade.

Aqui entra o segundo anúncio do Governo. Na abertura da Web Summit, a 11 de novembro, o primeiro-ministro apresentou ao país o primeiro elemento daquele que poderá vir a ser um ecossistema português de IA. Luís Montenegro anunciou que será lançado um Modelo de Linguagem em Grande Escala em português de Portugal (LLM Português), numa comunicação ao país que deixou questões por esclarecer – sem direito a perguntas dos jornalistas, falta conhecer o real investimento no desenvolvimento deste modelo de IA, o âmbito de aplicação e como servirá depois a Administração Pública, as empresas e toda a sociedade. Modelos como este, baseados em IA para processar, compreender e gerar texto em linguagem natural, permitem a defesa da soberania da língua portuguesa, o que é fundamental, mas é preciso mais: é preciso que estas sejam ferramentas transformadoras da Administração Pública e que este imperativo, por si só, já responsabilize o próprio Governo.

Levar a IA para as Educação – desde logo através da criação de ferramentas e de processos de aprendizagem que possam acelerar a capacitação de recursos humanos –, para a Saúde, para a modernização do aparelho do Estado e para a desburocratização dos processos, será um grande alavancador do desenvolvimento tecnológico e da transformação digital no nosso país. Esta tecnologia servirá depois para que as PME possam crescer competitivamente e para que possam emergir startups com produtos inovadores e diferenciados. Em 2025, será essencial criar parcerias público-privadas, fomentar a investigação em IA nas universidades e garantir financiamento para startups com potencial de internacionalização.

Jornalista

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