36% dos cidadãos está disposto a pagar mais para viver numa cidade inteligente

Um estudo da Capgemini feito em vários países mostra que mais de metade dos inquiridos acha que as smart cities permitem ter melhores serviços urbanos
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Mais de um terço dos cidadãos (36%) está disposto a pagar mais para viver numa cidade inteligente (smart city), revela um estudo feito pela Capgemini, que contou com mais de 10 mil participantes em 58 cidades de dez países.

O estudo "Street Smart: Putting the citizen at the center o Smart City iniciatives", algo como colocando o cidadão no centro das iniciativas de cidade inteligente, quis apreender que perceção é que os citadinos têm sobre estas soluções e que fatores é que os levariam a abandonar a vida na cidade no futuro. No geral, as preocupações com o elevado custo de vida (52%), nível de poluição (42%), falta de segurança pública (40%) ou o tempo gasto entre deslocações casa-trabalho (38%) são alguns dos fatores que mais influenciam a decisão.

74% dos responsáveis pelas cidades acredita que este tipo de soluções poderá mesmo atrair uma força de trabalho mais qualificada e disponibilizar um destino para startups e negócios já estabelecidos.

Já entre os cidadãos, 73% refere que quando usou iniciativas de smart cities sentiu-se mais feliz com a sua qualidade de vida; já 58% acredita que o recurso à tecnologia poderá tornar as cidades mais sustentáveis. Mais de metade (57%) acredita ainda que as smart cities podem melhorar a qualidade dos serviços urbanos.

Com estes resultados, o estudo questiona se os cidadãos estariam dispostos a pagar mais para poder ter acesso a estas soluções nas suas cidades. Em média, 36% dos inquiridos está disposto a gastar mais dinheiro para viver numa cidade inteligente. Analisando por geração, os valores sobem: entre os millennials 44% tem disponibilidade para pagar mais e 41% entre os indivíduos da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010).

O estudo foi feito em localizações como a Suécia, Holanda, França, Alemanha, Reino Unido, Singapura, Itália, Estados Unidos, Espanha e Índia. Por território, os suecos e holandeses representam quem menos quer pagar para viver numa cidade inteligente: 22 e 27%, respetivamente. Do outro lado do espectro, bem acima da média, 69% dos inquiridos na Índia está disposto a pagar mais.

Gonçalo Sousa, account executive de Energy & Utilities da Capgemeni Portugal, explica que esta diferença no mercado indiano está ligada à mudança demográfica do país. "A Índia está a passar por uma transição demográfica que aumentou a proporção da população em idade ativa de 58% para 64%, nas últimas duas décadas. Numa população com 1,2 mil milhões de cidadãos, 700 milhões tem menos de 35 anos e os próximos vinte anos apresentam boas perspetivas de crescimento em termos demográficos".

"Além disto, a Índia tem um sistema jurídico sólido e muitos cidadãos a falar inglês, o que tem sido chave para atrair investimento de empresas como as especializadas em terceirização de TI, o que tem ajudado à formação de quadros médios e superiores nesta áreas. A par, a economia da Índia desenvolveu com sucesso grupos de negócios altamente avançados e atraentes no espaço de tecnologia. Talvez por isto, o cidadão indiano tenha rapidamente percebido as vantagens que o desenvolvimento tecnológico tem na sua qualidade de vida, justificando assim esta disponibilidade para investirem em iniciativas relacionadas com as smart cities."

Na análise geral dos vários países, as iniciativas de smart cities ligadas às áreas dos transportes e mobilidade, gestão de água e eletricidade são aquelas que representam tanto a maior disponibilidade para pagar mais quanto vontade de uso destas soluções.

Financiamento continua a ser entrave

Além dos dez mil cidadãos, foram ouvidos também mais de 300 responsáveis pelas cidades. 69% referia que a falta de financiamento era uma entrave à implementação destas soluções, assim como a falta de especialização para uso tecnológico e a ausência de uma visão clara de planeamento para o futuro das cidades (ambas com 68%).

Já 62% apontava como desafio para o sucesso a falta de colaboração com os parceiros tecnológicos durante o design e a implementação das soluções.

"Não há dúvidas de que as smart cities podem oferecer soluções para muitos dos problemas tradicionais das grandes cidades e acredito que é o que fica comprovado pelos dados", explica Gonçalo Sousa, ressalvando que é importante ter em conta o utilizador final das iniciativas de smart cities.

"É quase impossível desenvolver smart cities sem que se desenvolvam cidadãos também eles smart. Como beneficiário final deste tipo de iniciativas, é necessário envolvê-los na definição e construção da smart city de amanhã. Dar resposta às necessidades materiais e emocionais dos cidadãos, permitindo-lhes fazer parte da mudança e dos desenvolvimentos, o que lhes dá um sentido de pertença numa realidade cada vez mais interligada e em constante evolução. Quanto menos o cidadão sentir que lhe é imposto algo, mas que, em contrapartida lhe é dada a possibilidade de moldar a sua própria realidade, mais sucesso as smart cities vão ter e maior retenção de cidadãos vão conseguir."

Projetos na Europa

Com uma área dedicada às smart cities, a Capgemini tem vindo a desenvolver projetos em vários pontos da Europa, como em Oslo, na Noruega, Toulouse (França), Düsseldorf (Alemanha) ou Texel (Holanda).

"Na Capgemini estamos a trabalhar em iniciativas que vão desde as áreas da fiscalização municipal, à gestão inteligente de energia e iluminação, segurança na via pública ou transformação da mobilidade urbana, com recurso a tecnologias de processamento de dados, analítica avançada e automação inteligente", explica Gonçalo Sousa.

"Pelo que temos observado, a evolução deste segmento irá passar por uma estreita colaboração entre os principais interessados - autoridades municipais, cidadãos e partes externas (startups, institutos académicos ou fundos de capital de risco ), com foco em três vetores: confiança, inovação e dados."

"Na prática, acreditamos que os programas de Smart Cities devem concentrar-se nos principais casos de uso que conseguem dar resposta às necessidades mais críticas dos cidadão, com resultados diretos na qualidade de vida, desde os serviços digitais públicos, à gestão de transportes e estacionamento, segurança pública, gestão de energia até à gestão de enchentes", considera o account executive da Capgemini Portugal.

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