Se o país tivesse acabamentos em areia e mar, ia ser a Meca do Adorador Solar, o Nilo do Turista Banhista, a Oitava Maravilha do Mundo Ideal (a seguir ao atualíssimo vencedor de revista que é, obviamente, Portugal)..Mas a Mãe Natureza, sabichona e fértil, resolveu oferecer ao Laos, um sucedâneo balnear à maneira, um paraíso mais fluvial que fiscal, com muitos zeros nas milhas. Os locais chamaram-se Si Phan Don, os viajantes, "Quatro mil ilhas"..Rezam os guias-que-eu-ignoro que a melhor época para visitar esta zona é de Novembro a Janeiro, quando a temperatura é favorável a seres sem escamas. Mas quando o calendário acusa Maio, Si Phan Don pode traduzir-se como "A Sauna" e nós conseguimos perceber porque é que os ovos cozem. Neste momento, até à febre é fresca!.Mas chega de queixumes, que Si Phan Don é um lugar divino. Diabo é cá chegar. Pois como em qualquer peregrinação que se pregue, o caminho desafia o explorador a provar o seu valor. Nela, o herói tem que resolver o famoso paradoxo matemático no qual os meios de transporte vão diminuindo de tamanho enquanto os passageiros se multiplicam, sendo que o tempo varia entre demasiado e mais infinito e a paciência tende para zero. O resultado é sempre negativo. A não ser que se faça batota e se vá ao fim do livro ver a solução, que neste caso é vir de avião..Quando finalmente se chega a Si Phan Don, depois de 2 autocarros, uma carrinha de caixa aberta e uma barcaça, o viajante dá de caras com o dilema cósmico fatal: Que ilha escolher afinal?.Se há pessoas que não conseguem decidir entre um prego e um bifana, imaginem quando há outras 3988 alternativas no menu!.Uma vez mais a Mãe Natureza (que como mãe não se pode dar ao luxo da indecisão) resolve dar-nos uma ajuda molhada e eis que na estação das chuvadas (que este ano está sequiosomente atrasada), faz o Mekong subir e comer 3000 ilhas..Destas 1000 só temos que encontrar as que alugam cabanas e dessas, descobrir aquelas aonde já chegou o iluminado invento do Sr. Edison. No fim das contas só sobram 3. Don Det para quem gosta de festa, Don Khon para quem quer romance e Don Khong para quem não quer nem uma coisa nem outra..Agora que chegámos e escolhemos a ilha. Eis as principais atividades:.Acordar devagar, comer devagar, passear devagar (podem fazer isto tudo depressa mas depois ainda sobram 23 horas para acabar o dia). Também podem descobrir, vagarosamente, a maior cascata da Ásia, contemplar, demoradamente, os raros golfinhos do Irrawaddy e chapinhar, lentamente, ao sabor da corrente. Podem ainda tentar apanhar um letárgico Búfalo de Água (cuja locomoção rivaliza com a do caracol) ou brindar a um sonolento pôr-do-sol..Precisam de adrenalina? Emoções fortes? Temos a solução. O principal desporto desta região é baloiçar na hamaca e há pessoas que vêm de todo o mundo para se especializar. É um jogo de equilíbrio e paciência. Podem balançar à esquerda ou tentar a direita (como um mau político), há quem adormeça mas também há quem enlouqueça. Afinal, isto do equilíbrio está todo na cabeça..Uma coisa é certa, a hamaca está para o Laos como a cadeira de baloiço está para a Nicarágua, mais que um objeto, o verdadeiro criador da personalidade nacional. Há que experimentar sem parar..Aí têm uma boa razão para sair de casa. Descobrir estas ilhas encantadas. Sobre as outras 3999, conto-vos depois da sesta... ou da sexta... próxima semana... era o quê?.ZZZZzzzzzZzzzz.Menos de um ano depois da despedida, Mami Pereira regressa às viagens. Não perca as Crónicas Asiáticas, todas as 5ª, no Dinheiro Vivo. Acompanhe também todos os passos da viagem no Facebook e no Instagram.