O risco de sofrer um ataque cibernético ocupa o primeiro lugar na lista de preocupações das empresas em Portugal, conclui o estudo "A Visão das Empresas Portuguesas sobre os Riscos 2021", divulgado esta quinta-feira pela Marsh Portugal, consultor de riscos e corretor de seguros.
Entre as empresas inquiridas, 57% apontou como riscos que a sua empresa poderá enfrentar este ano os ataques cibernéticos, seguidos por pandemia/surtos (53%) ou instabilidade política ou social (53%). O risco de recessão ocupa o quarto lugar entre as preocupações (37%), seguido por eventos climáticos extremos (29%) e ainda a crise financeira/crises fiscais (24%).
Na edição de 2020, apenas 6% das empresas portuguesas inquiridas identificavam o risco de pandemia ou surtos, mesmo que, em alguns países asiáticos, a pandemia já desse os primeiros passos.
Conforme explica Fernando Chaves, Risk Specialist da Marsh Portugal, o risco de ataques cibernéticos já figurava no topo da lista de preocupações das empresas em Portugal há vários relatórios. Feita a comparação com os últimos anos, o risco de ataques cibernéticos ocupa a lista de preocupações desde 2018.
O responsável da Marsh Portugal nota que a passagem rápida para o teletrabalho deixou à vista as fragilidades de segurança. "As empresas têm a clara noção de toda a necessidade que tiveram de se adaptar a uma nova realidade, num muito curto espaço de tempo", afirma Fernando Chaves. "As empresas adaptaram-se de facto rápido e souberam responder, sim, mas criaram um criaram um apetite enorme para os atacantes - que estão sempre muito à frente da presa. Estão a avaliar há muito tempo a circunstância."
Recordando que "mais de 90% dos riscos cibernéticos são gerados por falha humana", o risk specialist da Marsh Portugal sublinha que "a maior parte dos ataques ocorre por falta de cultura digital" nas organizações. "Sabermos usar um computador não quer dizer que tenhamos cultura digital para o mundo em que vivemos".
Além da cultura digital, Fernando Chaves aponta ainda que, se numa primeira vaga da pandemia as prioridades foram a segurança dos trabalhadores e a continuidade do negócio e só passado algum tempo aspetos ligados à segurança dos equipamentos. Neste campo, dada a rapidez da passagem dos escritórios para o teletrabalho, o uso de computadores privados para trabalho e lazer também merece atenção.
Este estudo contou com a participação de 152 empresas portuguesas, pertencentes a 21 setores de atividade. Nesta amostra, 18% são empresas cotadas em bolsa.
Risco de recessão com entrada direta na lista
O tema do risco de recessão, que já não figurava nesta tabela desde 2016, tem entrada direta para o topo da lista de preocupações, muito devido à crise pandémica.
Em relação à forma sobre como estão a ser impactadas pela pandemia de Covid-19, as principais respostas das empresas inquiridas referem os impactos financeiro e operacional negativos: 36% e 31% das respostas. Já entre as áreas mais afetadas pela pandemia, as empresas portuguesas identificaram as áreas de vendas e de operações (ambas com 45%).
"Estes resultados espelham, naturalmente, os receios demonstrados relativamente aos riscos cibernéticos, de recessão ou de crise financeira, tal como dá relevo ao impacto financeiro e operacional que os eventos climáticos extremos geram nas empresas", diz Fernando Chaves. "No entanto, existe também um lado positivo: a crise pandémica trouxe a paragem para muitos, mas, também, o aumento de procura para diversos setores. Realçamos que 16% dos respondentes afirmou que as suas empresas não foram impactadas pela pandemia, bem como 9% afirma que esta teve um impacto operacional positivo e 8% um impacto financeiro positivo. Estas serão aquelas organizações que, dentro de algum tempo, poderão apresentar crescimentos menores, ou mais estáveis, mas serão certamente as que permitirão que outras encontrem novas oportunidades e renasçam ou voltem a atingir resultados positivos, no processo de retoma da economia nacional e global."
Gestão de riscos
Entre as inquiridas, a grande maioria das empresas (90%) aponta que a importância que a respetiva organização dá à gestão de riscos é suficiente ou elevada.
Note-se que a percentagem de importância elevada dada ao risco é superior à suficiente (48% contra 42%). Apenas 1% das empresas inquiridas referem que não dão nenhuma importância à gestão de riscos.
Relativamente aos valores orçamentados para esta rubrica, verifica-se que 35% dos respondentes admite que o valor aumentou para 2021; 1% diz que este valor diminuiu. Já 19% das empresas inquiridas dizem não saber qual o valor orçamentado para a gestão de riscos nas suas empresas.
Pandemia e ataques cibernéticos no topo dos riscos globais
Além de questionar às empresas quais são os principais riscos que a respetiva organização poderá enfrentar em 2021, as perguntas da Marsh também questionam que riscos é que o mundo pode enfrentar em 2021.
No topo da lista, com 63%, surge a pandemia e a propagação rápida de doenças infeciosas, seguida por ataques cibernéticos em grande escala (62%). Já 46% apontam como terceiro risco as crises fiscais e financeiras em economias chave.
38% aponta como risco o elevado desemprego ou subemprego estrutural. Com a mesma percentagem (34%), as empresas portuguesas apontam preocupação com falha de governance nacional ou eventos climáticos extremos.