Há muito que o 5G tem sido fonte de teorias da conspiração infundadas, a mais recente e com larga exposição ao longo de 2020 nas redes sociais (YouTube incluído) dava conta de contribuir para disseminar a pandemia de covid-19. Um investigador no Reino Unido manifestou esta semana preocupações com o 5G, embora admita que as teorias relacionadas com a covid-19 "não façam sentido". A notícia tornou-se viral no Reino Unido.
John William Frank, do Instituto Usher da Universidade de Edimburgo, afirma num artigo de opinião no Journal of Epidemiology & Community Health que não deveriam ser montadas mais torres de 5G como forma de limitar a exposição do público enquanto os padrões de segurança são revistos.
O investigador fala nos campos eletromagnéticos de radiofrequência (RF-EMFs) emitidos por torres 5G que poderiam estar ligados a "suspeitas de efeitos adversos à saúde", admite que não tem qualquer indicação de que hajam problemas, mas pede mais estudos.
O especialista português Rui Aguiar não concorda com esta perspetiva e alarmismo. O professor na Universidade de Aveiro e investigador Instituto de Telecomunicações é também um dos seis membros do Comité de Gestão das Plataformas Tecnológicas Europeias (PTE) Net!Works, que analisa precisamente as comunicações móveis e o 5G.
Aguiar explica-nos que a tecnologia 5G na Europa usa três gamas de frequências distintas (os 700MHz, os 3.6GHz e os 26GHz) e não há qualquer motivo para preocupação.
"O 5G é garantidamente seguro em Portugal, neste momento só estão a ser planeadas instalações nos 700MHz e nos 3.6GHz e em ambos os casos temos muitos anos de experiência no seu uso - basta lembrar que os 700MHz é essencialmente a zona onde se encontrava a TDT (que teve de ser reposicionada por causa do 5G, como é conhecimento público)", explica-nos o investigador.
O desenvolvimento do 5G (e das restantes comunicações móveis), no que diz respeito à chamada radiação não-ionizante (os 700MHz e os 3.6GHz), "tem sido acompanhado por órgãos independentes de saúde pública, que limitam os valores máximos de radiação que podem existir".
O especialista português - um dos mais prestigiados na área na Europa -, explica que as tecnologias 5G "emitem radiação com intensidade substancialmente abaixo dos valores considerados como seguros por esses órgãos, não existindo qualquer dúvida comprovável de que façam mal à saúde".
É ainda dado o exemplo da potência que uma antena de televisão transmite. "Usam-se aí as mesmas frequências e é muito (mas mesmo muito!) superior à potência das antenas de 5G, e nunca se ouviu falar que quem vive junto a essas antenas tenha problemas de saúde causadas por esses transmissores".
Rui Aguiar explica também que o 5G a usar no futuro (com frequências mais elevadas) é que "ainda está em estudo". "No caso dos 26GHz, o conhecimento não é tão profundo".
"O conhecimento existente é já suficientemente indicativo da segurança desta banda, mas para evitar qualquer dúvida, a comunidade científica ainda tem estudos a decorrer - mas este não é um problema presente, porque não iremos instalar equipamentos nessa banda no futuro mais imediato", explica.
Sobre este tipo de artigos polémicos como o de John William Frank que alimentam ainda mais teorias da conspiração, Aguiar diz que "a comunicação social é frequentemente manipulada nesta discussão". "Infelizmente, a discussão sobre a (in)segurança do 5G enferma frequentemente de ruído causado por elementos que rejeitam todo e qualquer uso das comunicações móveis (incluindo as atuais) e que exploram os naturais medos humanos perante uma novidade tecnológica para prosseguir uma agenda de redução de qualquer desenvolvimento das comunicações móveis", admite.
O professor da Universidade de Aveiro diz mesmo que "o ruído causado é de tal forma que se chega ao cúmulo de associar ao covid-19 ao desenvolvimento do 5G... mesmo quando não há ou havia 5G em operação!"