90% da mão de obra imigrante no turismo no Algarve é do Brasil, Índia e Nepal

Maioria dos trabalhadores estrangeiros que trabalha no setor do turismo algarvio procura melhores condições de vida e estabilidade financeira. Apenas 8% são “altamente qualificados”.
Foto: Adelino Meireles
Foto: Adelino Meireles
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A falta de mão de obra no setor do turismo, que no pós-pandemia ascendia a uma carência de cerca de 45 mil postos de trabalho, refreou nos últimos anos à boleia do crescimento do número de imigrantes que chegaram ao país. Foram os profissionais de outras nacionalidades que acabaram por preencher milhares de vagas da hotelaria à restauração e o Algarve, uma das principais regiões turísticas no país, não foi exceção.

Metade dos trabalhadores imigrantes que exercem funções no turismo do Algarve são de nacionalidade brasileira e procuram Portugal com o objetivo de melhorar as suas condições de vida. No total, cerca de 90% da mão de obra estrangeira do setor vem, além do Brasil, da Índia e do Nepal.

Esta é uma das conclusões preliminares do estudo Imigrantes na Profissão em Turismo e Hospitalidade no Algarve, a que o DN teve acesso, e que será apresentado na próxima sexta-feira, em Albufeira. O trabalho, desenvolvido em parceria pela Associação KIPT, Inovação e Turismo, Laboratório Colaborativo e pela Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), incide sobre as dinâmicas migratórias, as condições de vida e expectativas dos imigrantes que trabalham no turismo e na hotelaria da região.

Os dados revelam que o perfil principal (47,8%)  se insere na categoria de “imigrantes com afinidade cultural a Portugal e necessidades socioeconómicas” e é predominantemente constituído por jovens adultos brasileiros que procuram estabilidade financeira e acesso a uma vida mais segura. “Embora este perfil apresente uma intenção relativamente sólida de continuar em Portugal, a satisfação com as condições atuais de vida é moderada, o que pode afetar a permanência a longo prazo”, refere.

A análise, que avança com um retrato detalhado das razões que levam os imigrantes a escolher a região, os seus planos futuros e a sua satisfação em relação à permanência no país, aponta um segundo perfil de imigrantes para quem a qualidade de vida e as novas oportunidades foram o mote para mudar de país. Com um peso de 43,9%, esta franja é composta por jovens oriundos do Brasil, Índia e Nepal, na sua maioria solteiros e com uma escolaridade que compreende o ensino secundário e superior.

“Estes indivíduos vieram para Portugal atraídos pela promessa de uma vida melhor, com oportunidades de desenvolvimento pessoal e segurança que não tinham em seus países de origem. A sua expetativa é de crescimento e estabilidade num ambiente mais favorável. A elevada satisfação com as condições de vida em Portugal reforça sua intenção de permanecer no país a longo prazo”, detalha o estudo.

Por fim, e com um peso de 8,3% surge um perfil distinto dos anteriores e que compreende os imigrantes que se mudaram para a região por motivos de trabalho e desenvolvimento profissional. São essencialmente jovens europeus, altamente qualificados e que valorizam redes de contacto e oportunidades de desenvolvimento de competências.

“Estes imigrantes percecionam o país como uma plataforma para networking e crescimento na carreira, mas não necessariamente como destino definitivo. A insatisfação com certas condições de vida e uma menor conexão com a cultura local justifica a maior propensão para considerarem a emigração para outros países ou o regresso ao seu país de origem”, indica.
A análise detalhada dos três perfis sugere que, para maximizar a retenção e satisfação dos imigrantes são necessárias políticas públicas específicas que atendam às distintas motivações e expetativas desses grupos. “A valorização da qualidade de vida, o apoio à formação profissional e a criação de condições para a integração social são fundamentais para o fortalecimento da presença desses trabalhadores no setor do turismo e para o desenvolvimento sustentável do turismo da região e do país”.

Turismo do Algarve aposta na formação
O presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), André Gomes, admite que a falta de trabalhadores no turismo a sul do país já não é tão expressiva como foi nos últimos dois anos e reconhece o papel dos trabalhadores estrangeiros neste alívio. “Continuamos a orientar-nos para aquela que é a importância da migração para dar resposta a uma carência de recursos humanos que temos no setor e que, de facto, tem vindo a ser suprimida em grande medida precisamente por esses migrantes que têm vindo para a nossa região nos últimos anos”, explica.

A formação e a capacitação destes trabalhadores ocupam a lista de prioridades para a RTA que lançou, em conjunto com o Turismo de Portugal, no passado mês de outubro, a segunda fase do programa de formação gratuito “Competências do Futuro Algarve” e que conta com 341 horas de formação, distribuídas por 28 ações e sete bootcamps a decorrer até março de 2025. “Temos módulos específicos precisamente dedicados à integração, capacitação e qualificação dos trabalhadores migrantes que trabalham não só no setor da hotelaria mas também noutras atividades do turismo da região”, detalha André Gomes.

O representante do turismo da região destaca ainda a cooperação que tem existido com a Organização Internacional para as Migrações (OIM) no sentido de captar para migrantes de uma “forma ética e responsável”.

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