A 4ª Revolução Industrial e a Mente Humana

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Cada revolução industrial na história da humanidade afetou a maneira como cada indivíduo e sociedade pensa, de geração em geração, afetando produtividades; conhecimentos; preferências; opiniões.

A primeira, liderada pelas invenções do motor a vapor de James Watt (desenvolvida perto da década de 70 do século XVIII); da locomotiva a vapor de Richard Trevithick e George Stephenson na segunda década do século XIX; do primeiro gerador e motor elétrico por Joseph Swan e Thomas Edison em 1831 mudou radicalmente a eficiência e custo do processo de fabrico, começando a quebrar o ciclo de uma espécie cuja alimentação; rendimento; condições de saúde; qualidade de vida e acessibilidade eram maioritariamente dependentes das estações do ano e respetivas condições climatéricas – em bom tempo abundância e fartura, em mau tempo fome e doença – o ser humano começou a controlar algumas das principais ameaças à sua existência.

Décadas mais tarde, perto de 1870, a produção em massa e a introdução de novas indústrias como a do aço; os combustíveis derivados do petróleo; o telefone por Alexander Bell; a energia elétrica; os motores de combustão interna marcaram a segunda revolução industrial graças a novos modelos de organização e produção em escala de Taylor e Ford. Começam-se a sentir fundamentais melhorias na qualidade de vida das populações.

Um retrato da Segunda Revolução Industrial de Charlie Chaplin, in “Modern Times” (1936) (demonstração dos efeitos nos funcionários a automatização)

A terceira revolução industrial, conhecida como a revolução digital, ocorrida na segunda metade do século XX, levou à invenção do semicondutor, o computador, a energia nuclear; internet e a eletrónica. São nelas introduzidos os primeiros robôs e Controladores Lógicos Programáveis (CLPs), utilizados para comandar e monitorar máquinas ou processos.

Com a escala disruptiva dos recentes desenvolvimentos em Nanotecnologia, impressão em 3D e Inteligência Artificial, segundo o fundador e presidente executivo do World Economic Forum, Klaus Schwab (2016), estamos hoje perante os primórdios de uma 4ª revolução industrial.

Ao contrário das revoluções anteriores, o foco da mesma não será apenas marcado por uma alteração no capital de produção, mas acima de tudo numa renovação do fator de trabalho e consecutiva alteração da “própria essência da nossa natureza humana”.

A capacidade de sistemas artificiais se tornarem cada vez mais autónomos e qualificados no raciocínio cognitivo tem levado a casos como o Deep Blue em 1996, o IBM Watson em 2011 ou o Libratus em 2017 onde estes sistemas de processamento superam os peritos humanos, podendo-se tornar hipóteses mais eficientes e eventualmente mais baratas.

Apesar de muitos pensadores desacreditarem na possibilidade da criação de uma inteligência capaz de igualar ou superar a mente humana, o conceito de singularidade tecnológica, introduzido por John von Newmann, chegou a um risco tal que tem conduzido a várias figuras de relevo na sociedade, nomeadamente Stephen Hawking, Elon Musk e Yuval Harari a alertar alguns dos fundamentais riscos inerentes aos avanços da Inteligência Artificial que colocam em questão o que é ser-se humano.

A continuação dos avanços no desenvolvimento desta mesma inteligência é inevitável. É inerente à natureza competitiva humana procurar superar-se e evoluir. Isso inclui criar mecanismos complexos os quais não é capaz de interpretar intuitivamente, nomeadamente a Inteligência Artificial já existente nos dias de hoje em muitos casos.

Um dos problemas principais, seguindo o exemplo de Sam Harris, prende-se na “mínima divergência entre os objetivos da máquina e do humano” ou o que é moralmente correto. Esta consegue-se facilmente equiparar à do humano com uma formiga, incapaz de compreender a razão do raciocínio humano, como p.e. porque é construída uma estrada. O risco da Inteligência Artificial Geral é o mesmo.

“Os circuitos eletrónicos funcionam um milhão de vezes mais depressa que os bioquímicos. (...) Mesmo utilizando uma inteligência equiparável à de hoje, como poderemos entender, muito menos restringir uma mente que faz tal progresso? (...) Não fazemos ideia de quanto tempo iremos demorar para criar as condições para o fazer em segurança.”

Imaginando que atingimos a IA ideal.

Que estrutura/sistema socioeconómico social seria mais eficiente e equitativo a fim de promover uma sociedade mais justa e ao mesmo tempo lógica?

Pensemos no impacto que as tecnologias que criámos fizeram à nossa maneira de estar e pensar como espécie assim como nos adaptaram ao que nos tornámos hoje. Aos nossos hábitos de vida, às nossas profissões.

Do que se ocupará a mente humana se aquilo no qual se entreteve desde a sua existência biológica, a sobrevivência, é de certa maneira, resolvido por uma máquina?

De que maneira será incentivada a mente humana a evoluir se existirá uma mente mais avançada e mais rápida que a própria capaz de evoluir certamente mais depressa (e de se autocorrigir)?

“É necessário assegurar que esta 4ª revolução industrial de facto, melhora o estado do mundo.” Klaus Schwab

O artigo exposto resulta da parceria entre o Dinheiro Vivo e o Nova Economics Club, o grupo organizado de estudantes de Economia da Nova School of Business and Economics.

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