A Aldeia de Marcelix

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2021 d.C. Todo o Ocidente foi ocupado pelo livre-mercado. Todo? Não! Uma região ibérica povoada por irredutíveis tugas desde 1974 que resiste ao invasor - de facto, desde sempre, mas já que temos de escolher uma data, fica esta.

Que paraíso viver assim, sem opressão, sem precisar de produzir, e o dinheirinho a cair na conta todos os meses. De onde ele vem, o que é que isso interessa? Já no mundo oprimido pelos ditos mercados - aka mundo desenvolvido - parece que os tempos não andam fáceis.

Mesmo às portas de 2022, a prometida normalidade teima em não chegar. Para já, temos uma crise logística mundial, com especial impacto nas relações entre a China e os Estados Unidos, e que está a afetar as entregas e a disponibilidade de contentores; os quais custam hoje mais 300% que no ano passado, causando uma fortíssima pressão inflacionária que, inevitavelmente, compromete as perspetivas económicas do ano que nos aguarda.

Um olhar atento ao mercado de futuros mostra que os preços do café, cereais, frutas, leite (e derivados), e até o malfadado açúcar, têm subido enormemente desde o verão de 2021. A isto se junta uma subida abrupta dos custos energéticos, e não me refiro apenas à eletricidade. Por exemplo, a subida do gás natural afeta a produção de fertilizantes, o que, por sua vez, afeta o custo da produção agrícola. Entretanto, a subida da procura e, consequentemente, do preço do biodiesel, eleva, e de que maneira, o preço final dos óleos vegetais.

Assim, com os custos energéticos em alta, a margem dos produtores agrícolas reduz-se acentuadamente. A este problema junta-se a dificuldade em encontrar trabalhadores. E não somente na agricultura. O fenómeno da great resignation é, neste momento, um sério problema para as empresas e sociedade em geral, pois os jovens (e mesmos os já não tão jovens) preferem ficar em casa e viver à custa dos apoios sociais, dos pais ou dos avós - a geração das oportunidades a que chamamos boomers. E têm a sua razão, já que as empresas não têm capacidade para lhes oferecer salários atrativos, ou pelo menos que compitam com a semanada do Estado ou da família, a qual pouco mais lhes exige que esparramarem-se no sofá a ver a Netflix. Resta, portanto, comprar umas pipocas e ver a economia a cair como mikado.

Mas nada disto, pelos vistos, preocupa a Marcelo e a Costa - Marcelix e Costix. Nem aos irredutíveis tugas que, ao contrário dos gauleses de Uderzo & Goscinny, acreditam em tudo menos que o céu lhes possa cair em cima da cabeça.

Economista e Investidor

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