Para os adeptos de ficção científica, a dinastia de filmes “exterminador implacável” tem lugar reservado na história cinematográfica, ao lado de outros - como Matrix, ou Eu Robot - que se arrumam também numa perspetiva quase distópica de um mundo controlado por máquinas, robôs e inteligência artificial que se torna indispensável, ao ponto de dispensarem o ser humano. Ainda estamos por certo longe desta ficção científica, mas há inovações que começam de facto a sair do imaginário, e a ganhar tração real.
A inteligência artificial já é parte do novo mundo. E a automação e mecanismos robotizados já fazem parte da indústria de ponta, com cada vez maior autonomia. E tudo indica que estamos a entrar numa nova era em que estas inovações chegarão à utilização das massas e em que os robôs e humanoides suportados por Inteligência Artificial (IA) influenciarão toda a nossa vida quotidiana. Recentemente foi publicado um relatório pelo Citi GPS*, sugerindo que provavelmente existirão 1,3 mil milhões de robôs com IA até 2035 e quatro mil milhões até 2050.
A Tesla lançou o Optimus, um humanoide robótico preparado para executar tarefas quotidianas, e que é já um protótipo para uma solução comercial acessível em tornos dos 30 mil dólares. Elon Musk, icónico CEO da Tesla, acredita que o mercado para este género de produto pode de facto ascender a mil milhões de unidades por ano, e que inevitavelmente teremos um dia mais robôs do que humanos.
Os catalisadores estratégicos deste novo mercado são essencialmente de três ângulos. Em primeiro lugar, tem a ver com a evolução da tecnologia. Os múltiplos avanços tecnológicos dos últimos anos, especialmente no que diz respeito a Inteligência Artificial mudou drasticamente as potencialidades ligadas à robótica. Os custos de desenvolvimento da tecnologia está progressivamente a diminuir, e isso pode possibilitar preços mais acessíveis através da criação de economias de escala.
Numa segunda reflexão, ganhos de eficiência. A automação com Inteligência Artificial pode ajudar a obter mais eficiência e reduzir a escassez de mão-de-obra estrutural, que também está associada ao inverno demográfico, marcado pelo envelhecimento das populações, e pela crescente implementação de políticas de imigração restritivas. Por fim, de acordo com o mesmo relatório do Citi GPS*, o valor do mercado de trabalho está atualmente a representar mais de 50% da criação do valor económico (PIB) a nível global. O que obviamente cria uma oportunidade de investimento incontornável.
O terceiro e último facto estrutural, está relacionado obviamente com a alteração dos padrões de vida das pessoas. A inovação e progresso tecnológico tem vindo a libertar - sobretudo no mundo desenvolvido - das tarefas quotidianas e a aumentar o tempo de lazer. A automação, a Inteligência Artificial e, neste campo, a robótica doméstica autónoma podem oferecer de uma forma massificada melhor qualidade de vida, libertando mais tempo e oferecendo soluções de assistência e cuidados que nos dias de hoje são cada vez mais importantes.
Um novo mundo está de facto a nascer. Se atingiremos a nível societário alguns dos filmes de ficção científica que marcaram a imaginação e fantasia, ainda está por definir. Mas que esta espécie de ascensão das máquinas vai acontecer, isso parece que já poucos duvidam.
*Citi GPS,“Rise of AI Robots”, dezembro 2024
Economista, Presidente do Internacional Affairs Network