Luís Montenegro teve este fim-de-semana a oportunidade de, finalmente, ver o seu partido reunido a rebate à sua volta; até Cavaco Silva foi ao congresso para ouvir o candidato a primeiro-ministro; e a sua Maria que o aguardasse para jantar.
Montenegro fez um discurso muito bem preparado, provavelmente muito suportado em estudos de opinião e sondagens encomendadas; embora tenha sido um discurso sempre algo coloquial em que as palavras fortes levaram sempre uma espécie de introdução do tipo «como diz o adágio popular», fazendo perder convicção e toda a pujança.
Montenegro, o Partido Social Democrata e os estudos eleitorais, sabem que desde a troika, firmou-se uma espécie de contrato social do Partido Socialista com os reformados e os funcionários públicos...
Por isso, Montenegro ofereceu aumentos significativos de reformas. Arrumou com o problema dos professores (e, em consequência disso, a seguir terá que vir o resto do funcionalismo público). E prometeu cortar muito substancialmente impostos aos jovens e a todos os portugueses até ao oitavo escalão.
Ao mesmo tempo, Montenegro prometia continuar contas certas e assustava com o papão da extrema-esquerda de que o PS passará a fazer parte; segundo a sua narrativa, com a esperada vitória de Pedro Nuno Santos.
(Já Carlos Moedas chegou mesmo a comparar a actual esquerda portuguesa com o estalinismo e seus crimes; o que sendo filho de um reconhecido militante comunista, deverá querer dizer que muito provavelmente não regressará às suas origens familiares para passar o Natal!)
A estratégia política subjacente ao discurso de Montenegro está correctíssima, este deve tentar voltar a dar confiança aos sectores já mencionados, tentar ir buscar fortes áreas de eleitorado que há muito se fixaram no PS; e que, anteriormente pertenceram a Cavaco Silva (daí a importância da presença deste no congresso).
Todavia, tudo isto foi também acompanhado por um discurso que chamava de radicais ao PS e aos partidos da geringonça.
Montenegro ainda não percebeu que ao fazê-lo, depois destes partidos terem estado quatro anos no poder, e depois de o PS ter conquistado uma maioria absoluta, não assusta ninguém? E que até pode cheirar a algum radicalismo e aldrabice da sua parte afirmá-lo para o comum eleitor?
A estratégia do Partido Social Democrata para estas eleições já está bem definida; resta ver se consegue dar um reforço vitamínico a Montenegro, que por vezes parece estar com medo, algo frouxo, a dizer as coisas com medo ou falta de convicção. Ou mesmo paixão. Será que diz isto porque acredita ou porque lhe disseram que tinha que dizer? Parece que o casaco não lhe assenta totalmente bem e até confessa que é justo afirmar que o partido até agora esperava mais dele.
Montenegro ao acusar os partidos da esquerda de serem radicais, e puxando o fantasma do «gonçalvismo», que muito poucos nos dias de hoje sabem o que é, está a fazer um discurso também ele radical que nada tem a ver com a forma moderada como se diz apresentar.
A verdade é que o Partido Socialista não pode ir atrás da Black Friday do PSD e começar a dar tudo a todos. O Partido Social Democrata também terá que explicar muito bem onde irá cortar para poder oferecer aos eleitores o que diz oferecer.
Mas o verdadeiro problema do PSD é conseguir saber se Montenegro irá manter esta estratégia agora apresentada até ao final das eleições. A consistência na acção nunca foi o seu forte. Será que este discurso com tantas ofertas e promessas chegará a 9 de Março? E estará Montenegro e o seu partido preparado tecnicamente para dizer como o irá fazer?
Para já, o Partido Socialista pode começar a ficar preocupado.
(O autor escreve segundo a antiga ortografia)
("Até às eleições" é o mote para uma sequência de artigos de opinião, de segunda a sexta-feira, de Duarte Mexia (duarte.mexia@gmail.com), que serão publicados, precisamente, até à realização das próximas eleições Legislativas, marcadas para 10 de março.)