
Com uma longa carreira em diferentes países e empresas como a Ford, Volkswagen, Adidas, Nike e TMI Group em Singapura, Luís Barbosa regressou à sua terra para assumir, a partir de julho, o cargo de diretor-geral do Parque de Ciência e Inovação de Aveiro (PCI). O gestor considera que a região está a consolidar fatores de atratividade essenciais para fixar startups e jovens qualificados, bem como para captar investimento estrangeiro.
Na sua opinião, Portugal é reconhecido internacionalmente como um país criativo, e considera que é crucial transformar a criatividade numa unidade de negócio central, a que no PCI chamaram "inteligência criativa". Para Luís Barbosa, é fundamental que a aprovação da Zona Livre Tecnológica (ZLT) – áreas concebidas para permitir a experimentação e demonstração segura de tecnologias em condições reais de teste – ocorra o mais rapidamente possível, de modo a reforçar a diferenciação de Aveiro a nível nacional e internacional.
O Luís tem uma longa carreira em diferentes países e em empresas como a Ford, Volkswagen, Adidas, Nike e TMI Group Singapura. Como é que o ecossistema do empreendedorismo em Portugal é visto internacionalmente, e como Aveiro se pode destacar?
Portugal é um país inovador. Somos uma comunidade inovadora, mas diria que somos mais uma comunidade criativa. Na Europa, somos vistos como um país criativo, como um país de diferenciação em termos determinados setores. Em setores muito ligados à tecnologia somos claramente vistos como criativos. No entanto, para atingir o nível da inovação, aquilo que é já o negócio, temos que desenvolver mais isso. Daí a razão para no PCI [Parque de Ciência e Inovação de Aveiro] estarmos a criar estas duas medidas, entre aspas, no nosso corpo.
Como é que estão a criá-las?
Estamos a entender que a cadeia de valor que reflete a inovação de uma startup, não inicia na inovação, inicia na criatividade. E, como eu disse há pouco, criatividade e inovação são diferentes. A criatividade entendemos que devemos trabalhá-la como uma unidade de negócio core, que chamamos inteligência criativa, e que é aquilo que efetivamente trabalha setores, trabalha instituições, trabalha a universidade, que é o nosso principal acionista, e que trabalha players, sejam eles privados ou públicos, que são elementos claros de contribuição para o pipeline que é a inovação que o PCI tem como core business.
Por exemplo?
Desenvolver iniciativas de IA (Inteligência Artificial) junto das escolas. O que é isto da IA? Como é que se equaciona? Como é que se trabalha? Definir programas fundamentalmente básicos para permitir aos alunos, nas faixas etárias dos 14, 15, 18 anos, trabalhar nestas áreas.
Literacia em IA…
Sim, trazendo-os cá ao PCI e tendo a infraestrutura tecnológica que estamos a criar neste momento. Mas numa lógica de que efetivamente isto [uma ideia] nasce, desenvolve-se e terá um impacto, para que efetivamente amanhã um curso universitário, uma ideia, um mestrado, um paper possa desenvolver-se e ter continuidade através do nosso parque. É fundamentalmente aquilo em que estamos a trabalhar, em termos do que é criatividade e o que é inovação.
Voltando a como somos vistos internacionalmente.
Em Portugal e na Europa, na minha opinião, devemos entender melhor, por exemplo, como é que a Ásia trabalha a inovação. Como é que a Ásia desenvolve os seus programas de inovação? Como é que a Ásia trabalha a sua criatividade? Vou dar um exemplo. Como sabemos, no mundo digital, um dos desafios enormes é a gestão de patentes. Por exemplo: como é que uma IA produz uma inovação e como é que ela é patenteada? Este é um desafio na Ásia, que não é, efetivamente, um deal-breaker. Não é. Não se fala em patentes, em first stage. Não se orienta as startups para se produzirem as suas patentes, para desenvolverem FTOs [Freedom to Operate, referindo-se à liberdade de operação de uma tecnologia]. Isto é feito numa perspetiva muito relaxada.
Porquê?
Porque, efetivamente, no mundo digital, estes interfaces em termos de patentes e de FTOs são coisas de uma outra dimensão. E o risco não parte daí. O risco parte da inovação e da rapidez de execução. Nós devemos ver isto, estas dimensões, não só nos modelos norte-americanos, mas sim nos modelos asiáticos, que são extremamente inspiradores.
Como é que Portugal é visto na Ásia?
Portugal é visto na Ásia como integrador da União Europeia. Normalmente, não somos conhecidos. Não nos distinguimos. E acho que é uma oportunidade enorme para nos posicionarmos, para refletirmos a nossa localização, próximos de África, como um continente potencialíssimo em termos de inovação, desenvolvimento e criatividade, integrado na União Europeia e na Europa, onde estamos com toda a realidade associada. E que podemos ser um alavancador em termos de projetos de inovação, com parcerias internacionais.
Como é que Aveiro se pode destacar, nomeadamente, através da Zona Livre Tecnológica (ZLT), que são áreas criadas para permitir a experimentação e demonstração segura de tecnologias, serviços, produtos ou soluções inovadoras que ainda se encontram em fase de desenvolvimento, recriando condições reais de utilização?
Podemos e estamos a diferenciar-nos em toda a região de Aveiro, de diversas formas. Do ponto de vista da localização, ou seja, o facto de termos mar, ria, montanha, aqui a dois passos, e um ecossistema de combinação de todas essas variedades, climático inclusivamente, sustentabilidade, etc. Ou seja, aquilo que está refletido na nossa estratégia no PCI é a partir de desafios.
Quais são esses desafios?
Desafio litoral em termos climáticos, desafio de marés, risco de inundações, desafio de mobilidade, desafio em termos de sustentabilidade no turismo. Há vários desafios. E a partir daí orientar todas as indústrias que são indústrias de performance na região de Aveiro, que têm uma tipologia muito particular associada inclusivamente a estes fenómenos regionais, para poder alavancar a inovação, a partir daqui. E aí está a nossa estratégia. A nossa estrutura acionista é efetivamente diferente, já parte daí essa diferenciação, nós trabalhamos com resultados, somos uma entidade com participação acionista pública. Isto implica que trabalhamos sob concursos públicos com legislação associada, no entanto, somos uma entidade para resultados.
Mas visa o lucro?
Não visa ao lucro, visa resultados de impacto, visa sustentabilidade. A nossa estratégia determina que estamos num projeto de transformação neste momento, porque temos uma nova gestão que está em início de atividade, desde julho, e que trabalha o projeto de transformação, muito suportado sobre as linhas de financiamento, as testbeds, as agendas que estamos agora envolvidos, mas que no roadmap dos próximos dois anos, a transformação irá gerar sustentabilidade.
Qual é a visão que a nova direção tem neste momento?
A visão que esta direção tem é muito clara. Os programas de financiamento em que estamos envolvidos são elementos de criação de raiz em termos de infraestrutura, de capacitação humana e de parcerias estratégicas. O que é que eu quero dizer com raiz? Raiz é criar efetivamente uma capacitação e uma diferenciação de um parque como o PCI, para ter uma expertise, na área dos media, na área do digital twin [criar uma réplica virtual fiel a um objeto físico], na área dos setores estratégicos que operamos. Por exemplo, na área da mobilidade. Não achamos que os resultados devem vir a partir de serviços prestados exclusivamente a startups. As startups são fenómenos de criatividade que estão a criar a sua raiz, o seu posicionamento para o futuro. Não têm orçamento para suportar serviços e custos associados. Portanto, temos aqui uma combinação entre os serviços que prestamos a uma startup, que tem de ser inovada, tem de ter um arco tecnológico que podemos desenvolver com a prototipagem dos seus produtos e depois acelera com parcerias, com venture capital, etc. Mas depois temos uma componente que é vertical. O que é isto? É que a partir da expertise que temos que criamos uma raiz tecnológica, para trabalhar o nosso tecido empresarial, trabalhar as nossas PMEs, trabalhar as atividades de negócio que a região de Aveiro e o país, na sua globalidade e internacionalmente deveremos nos focar.
Um exemplo?
Uma PME, por exemplo, que tem um produto para desenvolver no seu research legal, no seu ID, e que precisa de um digital print. Pode fazê-lo aqui. Pode desenvolver com o nosso apoio e as nossas capacidades. Pode ter inclusivamente acesso a uma conta cloud, que podemos providenciar, e desenvolve o seu trabalho aqui. Pode inclusivamente sair fora das suas realidades e gerar aqui inovação. Temos de desenvolver, por exemplo, uns programas que estamos agora a começar a desenvolver, que é trabalhar um AI readiness. O que isso quer dizer? É entender que uma PME para abraçar o tema da IA no seu negócio deverá ter uma avaliação feita por um expertise e dizer se o seu posicionamento para IA é este para conseguir o objetivo de, num ano, conseguir ter atividade em IA dentro do seu portfólio de negócio. Se deverá fazer este tipo de formação, capacitação, atividades, etc. Efetivamente os nossos empresários, em termos de PMEs, não têm essa formação para saber como abraçar a IA no seu modelo de negócio.
Como é que o PCI contribui para fortalecer a ligação entre ciência, investigação e o empreendedorismo?
É exatamente essa a referência que temos na nossa estrutura acionista. Temos com a Universidade da Aveiro, como nosso acionista maioritário, uma gestão muito próxima e trabalham connosco em todos os projetos em que estamos associados. O objetivo é criar dinâmica de atratividade para uma startup se posicionar aqui, ter um espaço e desenvolver o seu modelo de negócio. E essa atratividade passa também por fixar jovens, ou seja, não só existe uma qualificação aqui, através da Universidade da Aveiro, mas tem que existir também a capacidade de fixação de jovens.
Fixar os jovens profissionais é também uma das vossas preocupações?
É uma das preocupações fundamentais. Entendemos que a atratividade deve ser sustentável. E para uma startup que se desenvolve, que nasce, cresce, aqui, com todo este ecossistema, como referi, devemos criar condições para se manter. Não quer dizer que se mantenha na execução do seu portfólio de negócio no seu mercado cá. Quer dizer que isto faz parte da nossa estratégia. Criamos também uma unidade de negócio nova que é o Center of Excellence. O que é que isto quer dizer? Para uma startup que opera num determinado setor – e temos por exemplo uma empresa chamada PICadvanced, que nasceu e desenvolveu todo o seu portfólio cá –, podemos trabalhar de forma a criar um Center of Excellence associado àquele setor em particular. Temos nove lotes disponíveis de terreno dentro do PCI que poderemos fazer um investimento de construção de um Center of Excellence físico, onde essa empresa pode operar, que tem simultaneamente capacidade de incubação gerida por nós, como parque, mas muito focado naquele setor em particular. A partir daqui essa empresa pode acelerar, pode posicionar-se em relação aos nossos objetivos dinâmicos do negócio, mas cumpre com o nosso objetivo e estratégia de atividade que é envolver a empresa.
IO PCI tem um terreno com 36 hectares…
Temos 36 hectares, com 15 lotes disponíveis e estamos a trabalhar na alocação destes lotes. É evidente que projetos podem envolver mais do que um lote. Mas estes lotes estão com o objetivo de serem ocupados numa perspetiva de Center of Excellence de determinados setores.
Quando vão ser ocupados? Já têm um roadmap para isso?
Este roadmap faz parte da estratégia de execução que referi. Estamos a trabalhar em quatro projetos em setores diversificados, desde a microeletrónica ao setor de veículos autónomos, ao setor inclusive do agro, e que são potenciais de ocupação desses lotes. Não temos um roadmap definido isto é uma continuidade em termos de trabalho, desenvolvimento e investimento, mas consideramos que nos próximos dois anos teremos esses objetivos para serem cumpridos, não para os lotes todos mas para ter uma grande ocupação desses lotes.
E a ocupação desses lotes também tem a ver com a ZLT?
Exatamente. Essa vantagem é totalmente prioritária. Quem se posiciona cá pode ter a ZLT, a Zona Limpa Tecnológica que permite fazer os testes dos seus produtos, seja produtos de mobilidade, seja produtos de conectividade, seja autónomos, seja drones, seja submarinos podem efetuar os seus testes com a ZLT.
E já está em funcionamento?
ZLT não está em funcionamento, a ZLT está em desenvolvimento e esperamos que a qualquer momento ela possa ser aprovada.
Em 2025, será desejável que aconteça?
É absolutamente urgente que ela seja aprovada para podermos executá-la, porque temos um objetivo muito claro para ela. O objetivo é de, em Digital Twin, que é um projeto que estamos a desenvolver para digitalizar toda a região geográfica da ZLT, ou seja, a zona de mar, a zona de ria, a zona de terreno, a zona aérea e a particularização de toda a região poder desenvolver Digital Twin em simulações em termos de startups e produtos.
As ZLTs em Portugal são uma vantagem até a nível internacional para ter empresas para aqui?
Absolutamente. São uma oportunidade enorme muito associada ao nosso ecossistema. Do ponto de vista da atividade, criatividade, inovação, segurança, clima, temos já várias empresas na Europa e fora da Europa interessadas em posicionar-se cá, precisamente para poder executar os seus testes, os seus protótipos no ambiente ZLT.
Que setores são mais apetecíveis?
Áreas de mobilidade autónoma, drones, por exemplo, temos duas empresas que estamos em discussões, veículos autónomos, inclusivamente, marítimo, aéreo e terrestre, e depois áreas interessantes, por exemplo, de conectividade de interface em diversos setores. Nas áreas de mobilidade, como referi, temos uma discussão com uma empresa que, em termos de space tech, pode posicionando-se cá.
E desenvolvimento tem um reflexo económico claro na região?
Tem um reflexo económico claro, tem um posicionamento claro em termos de atração de capital humano para a região, de índices de startups que têm sucesso e que se desenvolvem cá e que se posicionam cá e que colaboram e contribuem para a economia regional e nacional. E tem atratividade de capacitação e capital humano internacional para a região de Aveiro e a nossa missão será essa: de sustentar e de os reter cá.
É mentor do Women Leadership Programme do Conselho Europeu de Inovação; Como é que o PCI pode servir de modelo para outras regiões em termos de apoio ao empreendedorismo feminino e inclusão em inovação?
Dentro dos setores estratégicos que ocupamos, dentro dos elementos da realidade do tecido empresarial existente na região, estamos a desenvolver programas muito específicos de empreendedorismo para mulheres, com aquilo que é associado em termos, por exemplo, de inovação social em diversas tecnologias tradicionais, que a aderência das mulheres não é significativa e que nós promovemos essa capacitação. Desenvolvemos programas muito claros naquilo que é a unidade do negócio sobre inteligência criativa, ou seja, ir às escolas, ir aos liceus, ir a entidades de faixas etárias mais baixas e promover e desenvolver essa capacitação.
E mostrar que a tecnologia e que o empreendedorismo não são coisas só de homens…
Absolutamente. Mostrar que há claramente uma capacitação e uma diversidade e inclusão que estamos a trabalhar e a promover e que são setores que são fundamentalmente estratégicos. Principalmente, por exemplo, o setor dos media, em que estamos muito focados em desenvolver a raiz e capacitação no PCI e depois estender isto através da nossa unidade de inteligência criativa para as instituições da região.
O que é que planeiam para o setor dos media?
Estamos a desenvolver, no âmbito da testbed do AMCC [Aveiro Media Competence Center], em que estamos envolvidos em parceria com a NOS, uma infraestrutura local, no parque, de digital twin para multimédia. Ou seja, para dar capacidade de produção de conteúdos, capacidade de produção cinematográfica, por exemplo, e de produtos digitais em termos de negócio e em termos de inovação. Estamos a investir num estúdio digital, em digital twin, estamos a investir em formação e em capacitação do nosso tecido humano, com programas de formação através da nossa unidade de inteligência criativa. Depois, temos parcerias que estamos a desenvolver com diversos players, em termos de gestão da informação, em termos de digitalização, por exemplo, scanners de elementos físicos para elementos digitais, produtos que são associados a todo o que é o âmbito digital, de forma a termos uma capacidade digital twin no parque, muito focado no setor dos media.
Em media, como noutro setor qualquer da indústria, a capacitação, a formação são essenciais para se alcançar aquilo que é a inovação e para se alcançar a transformação digital, para que se operem em novos modelos de facto digitais e que possam trazer um valor acrescentado para essas indústrias. Como é possível fazer essa capacitação aos dias de hoje, sendo que muitas destas inovações, muitas destas tecnologias, ainda não chegaram às universidades porque o conhecimento que as universidades têm muitas das vezes sobre aquilo que é a inovação já está mais consolidado. E, portanto, há aqui uma experimentação muito grande que a indústria faz com uma aplicação muito direta e que muitas das vezes é a própria indústria que se vai autocapacitando. Neste sentido, como é que se faz este caminho para a inovação através da capacitação?
Muito interessante este assunto. A nossa visão é que a forma mais eficiente que consideramos para fazer aproximação ao ecossistema da educação na região de Aveiro, e no país em geral, é através de uma criatividade aberta. Não é open innovation como nós conhecemos tradicionalmente, mas criatividade aberta. Ou seja, é irmos às escolas, irmos às instituições de ensino e atrair, desenvolver e promover aquilo que são case studies que temos internamente. Partilhar não só o seu impacto, mas quase numa perspetiva de reverse engineering, de mostrar como é que isto nasceu. Quais foram os elementos fundamentais que se trabalhou, de uma forma muito use case analysis, para toda a gente perceber como é que nasceu, como é que foi incubado, como é que usou a tecnologia que nós consideramos que o elemento tecnológico é um elemento fundamental da inovação. E a partir daí, mostrar de A a Z, qual foi o percurso de uma startup.
Isto é um modelo muito americano que não se vê muito em Portugal, não é?
É um modelo, que não é só americano. É um modelo também muito asiático. Ir à raiz das coisas. Demonstrar como elas nasceram, apresentar em termos de avaliação e comparação, e perceber que a partir dali, que são eles, os nossos alunos dos liceus, das escolas e das universidades, são eles os elementos ativos que poderão desenvolver a partir daqui. Isto é o que eu chamo open creativity.
E em Aveiro, neste momento, já se põe em prática essa tua visão?
Sim, sim. Em Aveiro, nós temos a Universidade de Aveiro, com quem trabalhamos. Temos trabalho direto com elementos científicos da Universidade de Aveiro. Desenvolvemos parcerias e contactos quase diários, que fazem parte do nosso projeto. Nós temos uma comissão de análise de startups que entram no nosso parque, em que a Universidade de Aveiro é parte integrante dessa comissão. Nós avaliamos as ideias para se tornarem inovação e modelos de negócio. Temos esta contribuição muito próxima e colaboração muito próxima com a Universidade de Aveiro, que já está a executar, por exemplo, papers em doutoramento, em mestrado, que se possam tornar modelos para potenciar as ideias de negócio.
Isso aproxima programas de venture capital?
Sem dúvidas. Esse é o encanto. Efetivamente, os nossos VC (venture capital), em termos de gestão de risco, entendendo que há uma criatividade que tem uma justificação orientada para se tornar inovação. Há aqui uma maturidade que se traz desde a raiz, ou seja, o risco é muito reduzido. Aliás, estamos a criar capacitação para ter VCs residentes no nosso parque. O nosso departamento financeiro também presta serviço às empresas incubadas em termos de como ir a VC, como ir a fundos, como se posicionar em termos de pitch para apresentar a uma VC potencial nacional e internacional. Ou seja, faz parte do nosso rol, da nossa rede formativa, das nossas startups, apresentar esse tipo de modelos. Mas como eu estava a dizer, o nosso objetivo é criar VCs e investidores residentes, cá no parque, que possam ser simultaneamente investidores, mas também formadores.
O que é que se pode replicar no nosso país, para outras regiões, daquilo que já está a acontecer aqui em Aveiro?
Um dos fenómenos que acho que se deve replicar é a estrutura do PCI per si, a estrutura acionista do PCI. Somos um elemento único em Portugal que tem no seu core business trabalhar a inovação. Somos uma estrutura acionista com participação privada e 60% de participação pública. Somos uma sociedade anónima. Implica que aquilo que é trabalhado nesta casa é para impacto e resultados, versus centralidade. Entendemos que o portfólio de fundos comunitários, de fundos nacionais, de todas as redes de financiamento públicas que temos, tem um princípio e um fim. E estamos a trabalhar para ele [o fim]. Estamos a assumir o PRR para final de 2025-26, e estamos a trabalhar para criar sustentabilidade neste período. E estamos a assumir que a partir de 2026, iremos ter capacidade interna e sustentabilidade para aquilo que executamos dar resultados e ter continuidade. É assim que nós entendemos o nosso trabalho, o nosso modelo de negócio e a nossa estratégia.
Para onde se direciona o mercado, porque a inteligência artificial tem sido dominante em todas as conversas e em todas as práticas. O que é que o próximo ano irá ditar que tem a ver com aquilo que é a inovação, com aquilo que é a formação, com aquilo que é a criatividade, que de facto tínhamos que estar atentos e que vocês vão estar aqui atentos, e que vai moldar também aquilo que é o futuro do PCI.
Excelente. A última pergunta é desafiante. Mas bem, teríamos horas para falar sobre isto. Entendemos que a inteligência artificial não é um roadmap único que devemos trabalhar. Entendemos sim que a IA faz parte de um modelo de negócio. Ela tem um papel muito definido no crescimento de uma startup. Ela deve contribuir para fazer simulações, para testar protótipos, para a funcionalidade desses mesmos protótipos, para recolher informação, para gerar output em termos de ensaios. No entanto, o modelo de negócio de uma startup não é IA. O modelo de negócio da startup é que usa a IA para o seu crescimento. E nós temos que entender o papel da IA, que está posicionada nesse modelo de negócio. Porque efetivamente, uma das coisas que têm-se discutido, inclusivamente em Bruxelas, é que a IA é algo que deve ser definido, regulamentado. Portanto, tentando ser o mais abrangente possível, a nossa missão é abraçar o fenómeno digital e entender qual é a missão desse fenómeno digital no percurso de crescimento de uma startup dentro dos setores que não deixam de ser tradicionais. Os nossos setores fundamentais, como os setores do mar, da saúde, o setor de agro, outros setores estratégicos que estamos a trabalhar, o setor do turismo, eles são o nosso foco. O setor da saúde, que vou referir, e outros setores, se continuam a ser tradicionais, são elementos de impacto na comunidade regional, nacional e internacional. São veículos de inovação, mas que devem entender digitalização, nomeadamente IA, como uma responsabilidade, uma missão muito definida no nosso percurso.