A casa - uma resposta para o desafio da longevidade

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Quem gere habitação pública confronta-se diariamente com os impactos da transformação demográfica. As questões são permanentes e inquietantes: como responder aos desafios que a longevidade coloca? Como criar melhores condições de habitabilidade, melhor qualidade de vida?

O ponto de partida deve ser a proximidade. Quem está no terreno conhece a comunidade, acompanha a sua evolução, as suas necessidades. Daí a importância da presença no território, junto das populações, de estruturas de resposta integrada.

Resposta integrada, pois a casa, o local de habitar, não é só o seu interior. As intervenções que permitem uma alteração de paradigma e que respondem aos desafios do envelhecimento, começam no exterior das habitações, nos espaços comuns, como por exemplo, removendo e atenuando obstáculos, construindo rampas de acesso e melhorando acessibilidades.

No interior, pequenas intervenções como a instalação de bases duche no lugar das tradicionais banheiras, alteração da largura de portas (permitindo a circulação de cadeira de rodas), reposicionamento de intercomunicadores, tomadas e até estendais, instalação de barras ou corrimãos, garantem uma melhor qualidade de vida e usufruto pleno para quem habita a casa.

É, pois, altura de reposicionar estratégias e replicar em escala estas pequenas grandes intervenções, com base em modelos e experiências de sucesso.

Nessa linha de pensamento permitam-me destacar, e sugerir como bom exemplo, o LIFE - um programa desenvolvido pela GEBALIS, direcionado para a requalificação de fogos de habitação municipal, para residentes com um grau profundo de deficiência e mobilidade condicionada. Apresenta como ideia base o desenvolvimento de habitações para Uso Universal, sendo já uma referência nacional e internacional, no que respeita à reabilitação de casas para portadores de deficiência.

O LIFE envolve uma equipa abrangente e multidisciplinar, que avalia os condicionalismos físicos e sociais dos residentes portadores de deficiência, concebendo soluções ao nível da arquitetura e engenharia para adaptar cada casa às necessidades dos seus utilizadores.

O projeto de arquitetura nasce em conjunto com os futuros moradores, e com as suas famílias, que acompanham as diversas fases do processo, participando também médicos e profissionais de saúde que conhecem os casos clínicos e que são fundamentais no processo.

Incorpora princípios de inovação na requalificação das habitações. Testa novas soluções, económica e funcionalmente eficientes. Ao mesmo tempo, procura responder a uma lacuna na construção de casas para Uso Universal: a possibilidade de adaptação a qualquer realidade concreta, assim como às necessidades especiais de residentes com deficiências profundas.

Dirigido exclusivamente aos residentes em habitação municipal de Lisboa, beneficia de parcerias com a indústria, permitindo usufruir das mais recentes inovações nas áreas da energia, segurança, domótica e automatização.

É um programa em permanente reinvenção, na busca por maior autonomia e mais dignidade para os moradores. Assim, à problemática inicial da acessibilidade/mobilidade condicionada no espaço residencial doméstico, procuraremos evoluir na área da geriatria e na área das designadas doenças de foro neurológico, estudando, experimentando e apresentando novas soluções que respondam às crescentes exigências de gestão pública de habitação.

Esta boa prática, em património público da cidade de Lisboa, representa um possível caminho de resposta estruturada para os desafios da longevidade, garantindo uma recompensa emocional, fruto da permanência no seio de uma comunidade ou bairro, projetando assim, a casa, como elemento central no processo de envelhecimento.

Presidente do Conselho de Administração da Gebalis//Escreve à quinta-feira

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