Mónica costuma dizer à mãe que não há no país mulheres que façam tanto Amor como elas. "Só na semana passada distribuímos 79 latas de Amor.", brinca a jornalista freelancer. Há menos de três meses, Mónica Menezes, de 30 anos, e a mãe, Paula Tomaz, de 54, prepararam 40 latas de biscoitos, puseram-nas na mala do carro e montaram uma banca no Lx Market, o mercado de fim de semana do Lx Factory, em Lisboa. . "Foi a nossa apresentação ao público. Na véspera do Dia do Pai", conta Mónica. Já tinham criado a página no Facebook, mas os fãs eram apenas alguns amigos. "Acho que nestas coisas - os amigos que não fiquem zangados - os desconhecidos são mais amigos do que os amigos." . A primeira experiência comercial correu bem. Só três latas voltaram para casa. "Pensámos: as pessoas acham piada. Portanto, vamos passar a encarar isto de forma mais séria", diz Mónica. . Mãe e filha sempre personalizaram os presentes de Natal e de aniversário de familiares e amigos. No ano passado, fizeram biscoitos. "O meu pai começou a perguntar porque é que não fazíamos para vender, porque não criávamos um negócio. Admiti que se fossem só bolachas seria o negócio da minha mãe. Claro que eu poderia ajudar mas não me sentiria realizada." Procuraram uma coisa que pudesse juntar os dois prazeres: o gosto da mãe pela cozinha com o de escrever da filha. "Não vou romancear e dizer que tive um sonho e acordei com a ideia. Andava com isso na cabeça e surgiu o nome: Word Cookies. Nem sou muito apologista de nomes em inglês porque acho que devemos apelar à nossa língua e é em português que trabalho, mas gostei tanto do nome que nem quis imaginar outro. Aquilo para mim encaixava bem", recorda. . Paula nem pensou duas vezes. A cozinha era um sítio de experiências, à semelhança do laboratório onde trabalhava. "Sempre adorei cozinhar. Vem muito de família, herdei isto da minha mãe, sul-africana, que ganhou muitos prémios de confeção de bolos. Acho que a cozinha não deixa de ser um laboratório - que sempre encarei com rigor e perfeccionismo. Exijo muito de todos os trabalhos que faço com as mãos", diz Paula. . Começaram por pensar fazer bolachas que representassem cada país, com especiarias e sabores que fizessem lembrar outras regiões do mundo. Só que perceberam que não era tão variado assim. "Qual era o risco? Há imensas bolachas à venda. Não só nos supermercados, como há imensas pessoas com negócios assim, privados. Há quilos de bolachas, não é coisa em que não tenhamos pensado. A diferença era esta: ter palavras e sabores associados a cada bolacha", explica Mónica. Paula acrescenta. "A Mónica teve esta ideia de associar as palavras, os textos. Apostámos muito na imagem para termos uma embalagem diferente. Queríamos que fosse um produto que estivesse pronto a oferecer, com a embalagem já feita, prontinho a servir de presente sem ser preciso sequer embrulhar." . Com um investimento de cerca de mil euros, compraram as formas e as primeiras caixas e mandaram imprimir os rótulos. Criaram nove pacotes diferentes: o recente sucesso das bolachas salgadas de malagueta, Paixão, ainda não chega para destronar o best-seller Amor, com o tradicional sabor a manteiga. . "Quisemos ter os sabores tradicionais - manteiga e cacau - porque achámos que tínhamos de ter qualquer coisa que as pessoas comprassem e a que estivessem habituadas. As pessoas têm algum pudor em experimentar sabores diferentes e uma certa dificuldade em imaginar o que é o sabor de uma bolacha salgada." Entre os sabores salgados - que a dupla de empresárias quer promover mais no verão, "tipo aperitivo, ao fim da tarde, com um copo" -, estão, por exemplo, Indignação (de azeite, orégãos e tomate seco), Inveja (queijo parmesão) e Paixão (malagueta). Quanto às doces, empacotadas nas caixas mais baixas e largas, há Amor, Gula (cacau), Felicidade (gengibre) e Alegria (de cardamomo, sabor semelhante ao do gengibre). Em datas como o Dia da Criança ou da Mãe há edições especiais. . Entretanto, mãe e filha ajustaram a oferta à procura - criaram o pacote Amizade, com o mesmo sabor do Amor, a manteiga, e acabaram com as bolachas Tristeza, que substituíram pelas Alegria. Recentemente lançaram a Preguiça, de manteiga ou cacau, em forma de coração que encaixa nas chávenas de chá, e em embalagens mais pequenas, a metade do preço. . "As pessoas acham piada a terem a palavra escrita na bolacha, podem personalizar isso. E a partir daí senti que tinha liberdade para dar azo à minha veia mais criativa na escrita. Porque a minha vida é escrever", diz Mónica que, além do jornalismo, dá aulas de escrita criativa a crianças e adultos na Escrever Escrever, em Lisboa. . As bolachas também já atravessaram fronteiras: as Paixão chegaram ao México. Os planos futuros passam pela abertura de um atelier da bolacha, onde possam receber os clientes de casamentos e batizados, que já se tornaram habituais. "Gostávamos de lançar novos sabores, mas não temos tempo. Não estamos na fábrica da bolacha. Isto são bolachas artesanais, cozinhadas no momento em que é feito o pedido. É fazer e mandar." As encomendas podem tardar até uma semana. Os preços variam entre 5 e 6,30 euros (as latas pequenas custam 3 euros). . Marshall McLuhan dizia que o meio é a mensagem. Na Word Cookies, as palavras vêm mesmo nas bolachas.