A culpa é da dívida, da troika, da pandemia, da guerra...

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Perda de poder de compra sem precedentes, salários esmagados pela maior carga fiscal de sempre, apoios aos mais pobres (60 euros para durar dois meses) que parecem anedotas de mau gosto, níveis de poupança a cair, empresas em dificuldades, recuo brutal na competitividade, estagnação na economia real. E uma ausência de visão e de ação que deixou degradar para lá de todos os limites áreas fundamentais como a saúde, a educação, a justiça.

Não é possível olhar com seriedade para o estado a que chegámos e não questionar os efeitos de seis anos desta governação socialista, a maioria deles com apoio declarado e presente da esquerda radical. É verdade que tivemos dois anos de pandemia e que temos uma guerra a causar ondas de choque pela Europa há quatro meses, mas isso não explica dois terços desta governação. Com honestidade, também não serve de justificação a todos os males de que padecemos nos tempos mais recentes - como se vê pelos diferentes níveis de resistência e pela capacidade de reação noutros países em condições semelhantes ou piores do que nós, como os vizinhos do conflito, terrivelmente dependentes da economia e matérias-primas russas e a receber uma enorme vaga de refugiados.

A verdade é que os problemas não são de hoje. Aliás, muito do que estamos a viver decorre da falta de ação e da falta de rumo que se seguiram à austeridade e às restrições impostas pelos nossos credores no resgate.

Nesses anos, não se podia fazer mais porque "a troika é que mandava". Nos seguintes, não andámos por causa dos bloqueios típicos da esquerda radical, primariamente opositora da iniciativa privada e permanentemente empenhada em fazer de Portugal a Venezuela da Europa.

E agora? Com um governo de maioria absoluta, não restam verdadeiramente desculpas a António Costa para não procurar consensos e tomar decisões estruturais que permitam que Portugal interrompa a queda a pique em todos os rankings internacionais. Nem precisa de mais argumentos do que a história recente do país e a atualidade - saúde em colapso, educação de pantanas, justiça e forças de segurança em crise profunda, instabilidade e insatisfação social crescente - para procurar esses consensos onde eles valem alguma coisa. Onde poderão assegurar a inversão do caminho e afastar-nos do precipício para o qual escorregamos mais depressa a cada mês que passa.

É tempo de o governo ouvir quem faz, não quem vive em realidades paralelas. De debater com quem sabe, não com quem está preso a ideologias bacocas. De traçar um rumo sério e decente para reformar Portugal ao lado dos portugueses, em vez de pretender que sabe melhor do que os próprios o que é do interesse deles e de exercer mandatos entre o paternalismo e a ânsia da recompensa pelo voto à custa de medidas populistas e ocas.

Resta saber se António Costa está preparado para se deixar de truques políticos e dedicar-se ao país.

SOBE: José Neves, CEO da Farfetch e fundador da FJN

"Não peça, faça", podia ser o lema de José Neves, que criou o primeiro unicórnio português (empresa avaliada em mais de mil milhões), uma plataforma de tanto sucesso que conseguiu cotá-la em Nova Iorque. Ainda que algo maltratado por estas bandas - criticado ora por fazer dinheiro a mais ora por não estar a fazer suficiente -, José Neves decidiu investir no futuro do seu país e ajudar quem quer melhorar-se com um programa de bolsas reembolsáveis para quem quer ganhar ou reconverter competências. Não é a única área em que chamou a si o esforço que devia ser prosseguido pelo Estado. A FJN não só está a trabalhar a fundamental reconversão profissional dos portugueses, como a investir na sua saúde mental, e ainda traça objetivos a dez anos e se propõe ajudar a fazê-los cumprir para melhorar e enriquecer Portugal. Se o governo fizesse metade, estávamos bem melhor. Infelizmente, ter resultados ao fim de uma geração não dá votos de quatro em quatro anos... Valham-nos os empreendedores.

DESCE: Graça Freitas, diretora-geral da Saúde

É preciso ler ou ouvir para acreditar no que nos diz a diretora-geral da Saúde - a quem ouvimos recentemente desaconselhar as relações sexuais para escapar ao vírus Monkeypox -, na sua homilia de verão. A lista de recomendações, digna do saudoso Diácono Remédios, começava com um alerta aos pais, para que cuidassem de evitar as quedas e os banhos livres dos seus meninos, passava por recomendar cautela nos mergulhos dos adolescentes e desaconselhar bebedeiras e outros excessos aos jovens adultos, e terminava com recomendações de redobrados cuidados com... o bacalhau à Brás. Por ser feito com ovos, que às vezes ali ficam ao calor durante horas, comer um bacalhau à Brás no verão pode causar problemas sérios, advertiu a senhora diretora-geral da Saúde, lembrando que é preciso evitar a todo custo doenças. "O pior que nos pode acontecer é adoecermos no verão", sublinhou, bem consciente do estado em que está a nossa Saúde - mas claramente muito pouco ciente de quanto consegue arrastar-se pelo ridículo.

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