A Machado Joalheiro é uma referência na joalharia portuguesa, não só pelas joias únicas que produz, mas também pelo imenso espólio que acumulou, desde 1880. E que pretendia dar a conhecer numa exposição histórica para assinalar os 140 anos da marca, em 2020. A pandemia não ajudou e ficou tudo suspenso, mas António Machado, a quarta geração da família na empresa, aponta 2022 como o ano para retomar as comemorações. Afinal, raras são as empresas que depois de guerras mundiais, revoluções, crises e pandemias, sobrevivem sempre reforçadas.
A covid-19 acelerou a digitalização da Machado Joalheiro, que melhorou o seu site e a apresentação dos produtos, mas, também, a presença nas redes sociais. A própria comunicação com o cliente passou a ser mais digital. "Momentos como estes criam sempre dificuldades, mas obrigam-nos a ser criativos e inovadores. Apelam à nossa capacidade de encontrar novas ideias e novas soluções para ultrapassarmos os problemas o mais rapidamente possível", diz. Em espaços físicos ou digitais, a paixão mantém-se a de sempre. "A joalharia é um setor de criatividade infinita. Vive de dedicação, descoberta e inovação", sustenta.
Coleções icónicas revisitadas
Mas, no último ano, nem tudo ficou por fazer ao nível das comemorações. Se os 125 anos haviam sido marcados com a edição de um livro sobre a história da conceituada marca portuense e pelo lançamento de um relógio de série limitada, e os 130 anos foram assinalados com uma grande campanha publicitária, para o 140.º aniversário foi editado um livro com alguns dos desenhos existentes nos arquivos da marca, com peças icónicas e especiais, como um colar de 1930 em platina e brilhantes ou uns brincos de 1982 em ouro amarelo, brilhantes e esmeraldas.
Os desenhos originais estão expostos no museu da loja, no número 200 da Rua 31 de Janeiro, no Porto, um espaço classificado como património municipal. "É um projeto que já tem alguns anos mas que a pandemia fez suspender. Talvez 2022 seja o ano da sua concretização", admite António Machado.
A ideia partiu da vontade de dar a conhecer a história da empresa, através de peças icónicas e os seus estojos de origem, fotografias, livros, muitos desenhos, mas também os gessos que constituem o início da criação de cada joia. Sem esquecer, claro, os prémios arrecadados em feiras internacionais. "Hoje, mesmo nós damos muito mais valor aquilo que é a a história", refere o empresário, que admite alguma pena por nem sempre, no passado, ter havido o cuidado de guardar o espólio. E a verdade é que é deste imenso legado que vão surgindo novas ideias, como a a criação de uma coleção de anéis de noivado inspirada nas peças mais antigas. "O tempo passa tão rápido que todos gostamos de olhar para trás e revisitar a beleza de joias. O que estamos a fazer é recriar peças especiais dos anos 30, 40 e 50, melhorando-as e adaptando-as aos dias de hoje. Veja-se o que a Cartier fez, quando relançou o relógio Panthère, 40 anos depois, e o sucesso enorme que teve", lembra António Machado, que espera poder fazer uma exposição de algumas peças em 2022.
A relação da Machado Joalheiro com as grandes marcas internacionais, da joalharia aos relógios, vem de sempre. António Machado é membro fundador da Fondation de la Haute Horlogerie, associação que agrupa "as melhores manufaturas relojoeiras e uma seleção muito exclusiva, a nível mundial, dos melhores estabelecimentos de venda". Além disso, é hoje o representante exclusivo de marcas como a Cartier, IWC, Jaeger-LeCoultre, Panerai, Vacheron Constantin, Hublot ou Franck Muller, entre outras. Ou da Chaumet, H. Stern, Pomellato, Mikimoto, Mimi ou Dinh Van nas joias. Sempre sem esquecer a criação própria.
A pandemia e a digitalização
Com duas lojas no Porto - a histórica na Rua 31 de Janeiro, classificada como Imóvel de Interesse Público por despacho governamental em 2000, a que se juntou, no final da década de 80, a abertura de um espaço na Avenida da Boavista, o novo polo do comércio de luxo da cidade, à época - e uma em Lisboa, na Avenida da Liberdade, a Machado Joalheiro sentiu os efeitos da pandemia, em especial por via da falta de turistas. A clientela nacional é uma parcela importante nos negócios da empresa, e estende-se de geração em geração.
"Conseguimos manter viva uma ligação aos clientes que passa de pais para filhos. Há muitos que aqui vêm, pela primeira vez para comprar o anel de noivado, porque já o avô e o bisavô o tinham escolhido aqui", explica. O que se coaduna completamente com a própria história da empresa, que hoje tem já a quinta geração a dar os primeiros passos no negócio.
Abrir novas lojas não está no horizonte, admite, muito menos numa altura como esta. "Hoje em dia os espaços físicos são importantes, mas complementados com uma estratégia digital. Foi isso que aprendemos com a pandemia, já não é tão importante abrir lojas físicas, é preciso apostar no contacto mais próximo e mais direto com os clientes", defende o empresário.