A data de 60 anos do golpe militar de 1 de abril (isso mesmo!) de 1964 no Brasil, que instaurou uma ditadura que durou até 1985 e cujos resquícios ainda pautam a vida económica, social e política do país, passou mais ou menos batida em Portugal..Esses 21 anos de ditadura brasileira são normalmente comemorados pelos seus defensores, entre os quais o ex-presidente da República Jair Bolsonaro e a horda de imbecis que o seu segue, devido ao rápido crescimento económico..Convém registar, entretanto, que nos 20 anos sob democracia, de 1945 a 1964, que precederam o regime militar, o crescimento económico também foi rapidíssimo..Mas enquanto Juscelino Kubitschek, presidente em democracia, deixou uma dívida externa de três mil milhões de dólares aos ditadores e redução das desigualdades, estes saíram do poder com 100 mil milhões de dívida externa e uma desigualdade em níveis pornográficos..Em 1977, descobriu-se mesmo, via dados do Banco Mundial, que os salários eram ajustados de acordo com índices de inflação falsificados..A ditadura produziu ainda, como sabemos, eleições fraudadas, poder judicial castrado, imprensa censurada, corrupção, que corria solta, escondida, greves proibidas, movimentos sociais e sindicais reprimidos, segurança social limitada, propaganda fascistóide disseminada, pobres excluídos, uma massa de analfabetos multiplicada, uma casta de militares atrasada, além de milhares de brasileiros mortos, desaparecidos e torturados..As cidades brasileiras, por culpa da arrumação – ou desarrumação – sócio-económica da ditadura, que não cuidou das famílias desesperadas impelidas naquele período a trocar o rural pelo urbano, não seriam hoje nada além de grandes monstros, não fosse o alegre, criativo e solar povo brasileiro amenizá-las..Com centros decadentes e irrecuperáveis, dividem-se a partir daí em círculos de Dante, onde nos primeiros moram os ricos, nos segundos, os remediados e nos terceiros, nos quartos, nos quintos, os miseráveis que, para chegar aos empregos, normalmente nos anéis iniciais, demoram horas a fio em transportes públicos pavorosos. .Nessa periferia dantesca, a que alguns não por acaso chamam “sucursais do inferno”, às vezes sem escolas, postos médicos nem sequer saneamento básico, proliferam o negócio do crime organizado e o negócio das igrejas evangélicas neopentecostais..Não contentes com esse legado das trevas, os generais ainda circulam pelos corredores do poder de Brasília, como no governo do tal ex-presidente, repleto de fardados, e até tramam novos golpes de estado, conforme vai sendo apurado pela polícia e pelo ministério público na esclarecedora Operação Tempus Veritatis..Entretanto, se em Portugal passou batida a data de 60 anos do golpe militar do dia da mentira de 1964 que instaurou uma ditadura que durou até 1985, conforme escrito no primeiro parágrafo, fique sabendo que no Brasil também..Para não hostilizar os generais, aqueles que tentaram derrubá-lo num golpe de estado falhado entre 2022 e 2023, Lula da Silva determinou veto a cerimónias oficiais que assinalassem a data infame, para escândalo da esquerda de que o atual presidente se diz representante..Conforme escrito também no primeiro parágrafo, os resquícios da ditadura militar ainda pautam a vida económica, social e política do país.