Diz o ditado popular que "quem vai ao mar, avia-se em terra". A economia vai continuar a ir para o mar alto, com vagas de grandes dimensões, durante todo o ano de 2021. E precisa de se preparar em terra, o quanto antes. Fruto de novo confinamento que vivemos em Portugal - e porque passam também outros países da Europa, que são nossos parceiros comerciais -, a recuperação da economia nacional prevista em jeito de símbolo da Nike ou, numa versão mais portuguesa, numa espécie de "golpe de rins" (expressão usada por Correia de Campos, antigo ministro da Saúde, numa entrevista recente à TSF e ao DN) poderá não se confirmar. Depois de um período de verão animador, o novo arrefecimento da economia neste inverno volta a levantar fortes preocupações ao nível do desemprego, das falências e do crédito malparado. É na dureza das temperaturas geladas que o Estado pode e deve reaquecer os motores dos apoios às atividades económicas. E é também nestes momentos de apagão que é necessário preparar o futuro.
Os agentes económicos precisam de esperança e de sinais que façam antever tempos mais risonhos. Da floresta à agricultura propriamente dita, da indústria ao turismo, do comércio aos serviços, são muitas as áreas que dizem não lhes bastar conhecer as linhas gerais do plano de recuperação elaborado por António Costa e Silva, para o governo. É preciso ir à malha mais fina de cada uma das atividades para prospetivar uma recuperação. Só com bom planeamento será possível reanimar rapidamente logo aos primeiros sinais da procura e do restabelecimento da confiança que advirá, em grande parte, da aplicação do plano de vacinação. Espera-se que sem abusos nem impunidades, para que à área da saúde regressem a credibilidade e a confiança que têm vindo a ser abaladas em todo o processo.
A economia portuguesa já perdeu 15,4 mil milhões de euros em 2020, ao ver o produto interno bruto cair 7,6%. Um valor gigantesco, equivalente a todo o pacote de subsídios europeus a fundo perdido que o governo conta receber e o mesmo que 12 novos aeroportos de Lisboa - incluindo Montijo, mas também a expansão da Portela. Traduzir a frieza dos números em projetos concretos ajuda-nos a ter uma noção mais clara do brutal trambolhão. O ministro das Finanças, João Leão, de forma realista, já veio dizer que a recuperação em 2021 "será mais fraca do que o previsto". E será tão mais débil quanto menos se planear e preparar o futuro hoje. Quem vai ao mar, avia-se em terra.
Jornalista