A era dos agentes, novos modelos e corrida ao ouro: o que preparam as grandes da IA

Com a Inteligência Artificial no topo dos investimentos, eis o que têm na manga as gigantes OpenAI, Microsoft, Google, AWS e Meta.
A IA é essencialmente um auxiliador, um copilot, e não irá substituir-nos.
A IA é essencialmente um auxiliador, um copilot, e não irá substituir-nos.D. R. / Pixabay
Publicado a

A história incontornável do mercado tecnológico em 2024 foi a Inteligência Artificial, empurrando as grandes do segmento para valorizações astronómicas e sem precedentes. A Nvidia foi a que mais lucrou, crescendo 2,2 biliões de dólares em capitalização bolsista, seguida de perto pelas outras gigantes. As seis maiores tecnológicas do mundo - Google, Amazon, Apple, Meta, Microsoft e Nvidia - valorizaram mais de 8 biliões de dólares desde o lançamento do ChatGPT, há cerca de dois anos. E a tendência vai claramente continuar em 2025.

Os últimos meses de 2024 já permitiram levantar um pouco do véu do que estas empresas querem fazer este ano, o que inclui ambições técnicas, investimentos a longo prazo e estratégias para ganhar terreno à concorrência. Tudo isto no início de um período que deixa antever mudanças significativas ao nível da geopolítica, o que ditará não apenas o rumo da regulamentação, mas também a atenção aos riscos que a evolução da IA pode colocar.

“Vai ser um ano interessante para a área de tecnologia”, disse ao Dinheiro Vivo o analista Francisco Jerónimo, vice-presidente associado da divisão de dispositivos na IDC EMEA. “Porque temos uma nova administração nos Estados Unidos, mas também temos um dos fortes aliados de Trump a ser Elon Musk”, salientou. “Independentemente do facto de ele atuar em benefício próprio ou não, o que é certo é que vai colocar a área da tecnologia na ribalta.”

Musk, patrão da Tesla, SpaceX e X, é conhecido por querer salvaguardas em torno da Inteligência Artificial. E agora é também um dos principais conselheiros do presidente eleito Donald Trump. No entanto, a futura administração republicana terá vários membros que defendem uma desregulamentação que ajude os negócios. A própria bancada republicana no Congresso é favorável ao desmantelamento de regulações, o que contrasta com a União Europeia.

Essa será uma das questões que as tecnológicas terão de resolver, à medida que integram IA de forma mais profunda nos seus produtos. Empresas como a Meta e a Apple adiaram a chegada de funcionalidades IA à região europeia devido, precisamente, às regulações.

“Durante 2025, muitas dessas negociações que estão a acontecer entre a Apple e provavelmente outras empresas e a União Europeia vão ser finalizadas”, antecipa Francisco Jerónimo. “Não acredito que a Apple vá demorar mais do que este ano para poder oferecer os serviços na União Europeia.”

O analista prevê que 2025 será o ano da proliferação dos agentes de IA. Em vez de um algoritmo que faz tudo, serão agentes que se vão especializar em tarefas específicas. Jerónimo também antecipa que as funcionalidades de IA vão chegar a mais dispositivos, mesmo os de gama média e baixa.

“A grande tendência é a democratização a nível da IA, na perspetiva do utilizador e na perspetiva mais técnica, com os agentes a proliferarem em diversas tarefas e áreas e nos aparelhos em diversas funcionalidades.”

Há, disse, uma “corrida ao ouro” com mais empresas a investir e oferecer soluções. “Talvez o mais importante não seja apenas o que a OpenAI ou a Google vão fazer, mas empresas como a Amazon e a Meta”, considerou. Por isso mesmo, “é difícil dizer se vai haver uma solução que vá vingar mais do que as outras.” Em que estarão então focadas as líderes na IA? Eis o que sabemos até agora.

OpenAI

Em dezembro, os “12 Dias da OpenAI” trouxeram uma bateria de novidades da empresa por detrás do ChatGPT. Estes anúncios, que foram desde um sistema de ficheiros para organizar conversas com o ChatGPT e um número de telefone para conversar com o bot até ao lançamento oficial do Sora e os novos modelos “o3”, mostram como a OpenAI está empenhada em dominar em todas as frentes. A empresa liderada por Sam Altman está a posicionar-se como a plataforma por defeito onde os utilizadores encontrarão tudo o que é novo, útil e entusiasmante na IA. Há a parceria com a Apple, o bloco de notas Canvas para escrever código, a ferramenta Projects, o ChatGPT Search, o Advanced Voice Mode, e várias outras explorações do que a IA poderá fazer em 2025.

Nenhuma outra empresa conseguiu, até agora, criar um conjunto de ferramentas com uma visão tão próxima da AGI - Inteligência Artificial Geral, algo que a OpenAI disse ser o seu objetivo e que se refere a IA com as mesmas ou maiores capacidades cognitivas que os humanos. Esta é uma fronteira não consensual: entusiasma muitos e causa receio noutros tantos. Uma componente fundamental será a capacidade de autoaprendizagem e desenvolvimento dos sistemas. É esse um dos focos da OpenAI em 2025, segundo disse o diretor de produto Kevin Weil durante uma sessão de perguntas e respostas no Reddit. Questionado sobre se o ChatGPT iria executar tarefas por sua conta, Weil respondeu: “Este vai ser um grande tema em 2025.”

Microsoft

Uma das empresas que mais tem beneficiado com a explosão da IA - e tendo investido 13 mil milhões de dólares na OpenAI - a Microsoft está a centrar a sua estratégia no Copilot. É um assistente pessoal que simplifica as tarefas, ajuda o utilizador, adapta-se a ele e torna-o mais produtivo. O diretor de tecnologia da Microsoft Portugal, Manuel Dias, disse ao Dinheiro Vivo que um dos grandes destaques para 2025 é o desenvolvimento de agentes de IA personalizados a partir do Copilot Studio. Estes agentes vão permitir automatizar tarefas do dia a dia e resolver problemas complexos usando um processo semelhante à forma como os humanos pensam antes de responder.

“Estas capacidades serão, sem dúvida, um game changer em domínios tão diversos como a ciência, a codificação, a matemática, o direito ou mesmo a medicina”, considerou.

Esta era dos agentes vai depender da evolução dos algoritmos para suportar modelos mais precisos e multimodais, levando a IA a “ser capaz de compreender e antecipar as preferências individuais de cada utilizador, promovendo uma interação fluida e intuitiva.”

Manuel Dias salientou que esta tecnologia é “profundamente transformadora para a sociedade” e afirmou que 2025 “será certamente o ano do aprofundamento e amadurecimento no uso da IA pela sociedade no seu todo.”

Um outro fenómeno que deverá alargar-se este ano é a adoção de ferramentas específicas para as empresas, em vez de procurarem soluções prontas a usar.

“No entanto, uma tecnologia só é verdadeiramente transformadora para o mundo se as pessoas a abraçarem e a quiserem usar”, advertiu Manuel Dias. “E é sobretudo neste ponto que precisamos de garantir - hoje e para o futuro - total foco na criação de sistemas seguros, fiáveis e éticos, desenvolvidos ao abrigo de práticas robustas de IA Responsável.”

Google

Apanhada inicialmente na curva, a Google recuperou terreno e está estabelecida com um dos principais players em IA. Em dezembro anunciou o novo Gemini 2.0, revelando tratar-se do seu modelo para a era dos agentes IA. Os principais avanços são na multimodalidade - um modelo que ingere não só texto mas também fotos, vídeos, gravações áudio. “Vai permitir-nos construir agentes IA que nos aproximam da visão de um assistente universal”, disse o CEO, Sundar Pichai, no anúncio. É a mesma ideia de faz-tudo que outras concorrentes perseguem.

No caso da Google, o esboço é visível no Project Astra, que foi testado pela primeira vez em dezembro e que se especula que irá alimentar os novos óculos inteligentes da Samsung. Trata-se um assistente IA experimental que usa os ‘inputs’ multimodais para obter respostas às perguntas. Se for bem-sucedido, pode ser a chave que desbloqueia o acesso a esse assistente universal e omnipresente que nos surge na lente dos óculos inteligentes ou noutro formato (ainda) por imaginar.

AWS

Em 2024, a Amazon valorizou 45,6%, impulsionada sobretudo pelo sucesso da AWS e da IA. A expectativa do mercado é que esta trajetória ascendente continue e a empresa revelou, em dezembro, como procurará fazê-lo. Anunciou a sua nova geração de modelos de fundação, Amazon Nova, prometendo “fornecer inteligência de ponta” e preços imbatíveis para o desempenho. O principal? Capacidade de processar texto, imagem e vídeo para ajudar os utilizadores a entenderem ou gerarem conteúdos multimédia.

Em 2025, a empresa disse que vai introduzir mais dois modelos Nova, incluindo um de voz e um multimodal. “Vão simplificar o desenvolvimento de aplicações em que o mesmo modelo pode ser usado para executar uma grande variedade de tarefas, tal como traduzir conteúdos de uma modalidade para outra, editar conteúdos, e alimentar agentes IA que podem compreender e gerar todas as modalidades.”

Este é apenas o princípio, segundo a Amazon, que no seu evento re:Invent em dezembro também falou de IA responsável e da questão energética.

Na sua lista de previsões tecnológica para 2025, o diretor de tecnologia da AWS, Werner Vogels, incluiu este dilema. A IA está a levar a uma expansão dramática do consumo energético e há urgência em resolver o problema, que ameaça restringir o ritmo de inovação. Vogels acredita que a solução virá pela energia nuclear e o crescimento das energias renováveis.

Meta

O futuro da IA passa, segundo a Meta, pelo seu modelo Llama. Ahmad Al-Dahle, vice-presidente de IA generativa da casa-mãe do Facebook e Instagram, garante que o Meta AI, construído em cima do Llama, está perto de se tornar no assistente IA mais usado do mundo, com perto de 600 milhões de utilizadores ativos por mês.

Olhando para 2025, Al-Dahle disse que o Llama 4 terá vários lançamentos, o que permitirá inovações em áreas como discurso e raciocínio.

“Acreditamos que as experiências IA vão cada vez mais afastar-se do texto e basear-se na voz, à medida que estes se tornam mais naturais, conversacionais e úteis”, escreveu num comunicado. A Meta pretende fazer avançar de forma “significativa” a capacidade de voz das suas apps na primeira metade do ano.

Outro foco será o Meta Movie Gen e a criação/edição de vídeos de IA generativa, e a empresa vê grandes oportunidades na criação de sistemas de agentes de IA com raciocínio avançado.

“Estamos a testar agentes de negócio que podem falar com clientes, dar apoio e facilitar o comércio, e encoraja-nos o interesse que temos visto nas nossas próprias plataformas de mensagens”, partilhou Ahmad Al-Dahle. “Vemos estes sistemas de agentes a beneficiar também os consumidores, à medida que trabalhamos para fazer assistentes IA que são mais virados para tarefas e conseguem fazer coisas pelo utilizador, passando de uma experiência virtual para uma pessoal.”

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt