A esquerda sonhou. O pronome nasceu. O caldo entornou

Publicado a

No princípio era o Verbo, diz o Evangelho. Mas, o Partido Democrata prefere o pronome. Quer dizer, preferir é eufemismo. Haverá limite para esta paranoia? Por exemplo, se estivéssemos todos à beira de uma 3ª Guerra Mundial, será que a esquerda liberal relegaria, finalmente, para segundo plano os seus caprichos burgueses? Será que nos daria algumas semaninhas de descanso, livres do politicamente correto e da cultura woke?

Claro que não. Prova disso foram as razões apresentadas pela Casa Branca quanto à nomeação de Ketanji Brown para a Suprema Corte, a 25 de fevereiro - um dia após a invasão da Ucrânia. Entre as diversas e brilhantes mentes jurídicas sobre as quais poderia recair a decisão, o documento resolveu destacar, logo no parágrafo inicial, a qualidade diferenciadora da juíza. E que qualidade seria essa? Algum feito particular alcançado na sua notável carreira?

Nada disso. Ao invés, para vergonha alheia e da própria, o documento preferiu destacar a raça da nomeada em desprimor dos seus méritos, anunciando que Brown viria a ser a primeira mulher negra a desempenhar o cargo.

Mas, a história não acaba aqui. Para complicar isto tudo, a própria juíza revelou, entretanto, deixar-se amedrontar (ou, quem sabe, infetar) pela doença infantil do comunismo. Ainda que noutra variante, o wokismo de género. Pois, ao ser confrontada, em audiência, sobre o que é uma mulher, Brown simplesmente bloqueou. Não sabia o que responder, não fosse ela dar uma definição politicamente incorreta e perder o emprego antes sequer de aquecer o lugar.

Pelo visto, a ordem executiva de Biden sobre o uso de pronomes supostamente discriminatórios, lançada em janeiro de 2021, está a ser implementada com grande sucesso. Em junho do ano passado, ante a Comissão Financeira do Senado, o secretário do HHS (Health and Human Services), Xavier Becerra, resolveu substituir a palavra "mãe" por "pessoa que dá à luz". E agora temos uma futura juíza da Suprema Corte paralisada ante a definição de mulher. Sem saber como e quando usar os termos "he", "she", "they" ou "them".

Parafraseando Pessoa: A esquerda liberal sonhou, o pronome nasceu e o caldo entornou. Se dúvidas houvesse, os últimos meses têm sido esclarecedores. Quem se acha desperto para o mundo dos unicórnios precisará de bem mais que uma guerra até acordar para o mundo real.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt