A essência protecionista

No final desta “escaramuça”, o impacto no crescimento económico global não deverá ser significativo - 0,1% a 0,2% no PIB global.
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A escalada dos valores protecionistas e populistas está de regresso aos mercados financeiros. Enquanto os eurocéticos registaram uma vitória em Itália, no lado de lá do Atlântico está a formar-se uma tempestade, ainda sem nome, mas que está já a marcar o passo dos investidores. Estamos a braços com uma era de guerra no comércio internacional? Ou, como até aqui, a narrativa política encontrará na realidade um colete de contenção?

É preciso, em primeiro lugar, enquadrar as agendas dos eventos com o calendário político. Este ano Donald Trump terá um teste importante a nível político, com as eleições intercalares. Depois de em 2017 ter registado sucessos políticos, com a implementação de medidas chave do seu programa (pacote fiscal estímulos, diminuição do peso regulatório na economia) existe claramente um foco político em recuperar algumas das bandeiras políticas populistas da sua campanha - até o muro com o México voltou ao discurso - como forma de consolidar a base política e aumentar as suas taxas de aprovação até às eleições de novembro.

Em segundo lugar , é bem provável que, no final do dia, a guerra comercial não passe acima do que são os níveis razoáveis da narrativa mediática, suavizadas nos momentos seguintes da comunicação dos detalhes e na implementação prática - sobretudo se existirem sinais evidentes de nervosismo nos mercados financeiros. Ou seja, será mais uma escaramuça, que uma guerra comercial. Pode não ser mais do que a exigência pública da presidência dos EUA de que a China proceda a uma correção do seu défice comercial com os norte-americanos em mil milhões de dólares. Reduzir este défice, que se encontra em 375 mil milhões, acaba por ser pouco significativo, mas politicamente providencia argumentos muito favoráveis para a agenda do presidente.

Por fim, mesmo sendo expectável que a China responda com medidas equivalentes, é provável que no final desta “escaramuça” o efeito no crescimento económico global não seja significativo - alguns analistas apontam para um impacto de 0,1% a 0,2% no PIB global, caso as tarifas as importações entre EUA e China atinjam valores elevados entre 15% e 20%. Obviamente, existem sempre os riscos imprevisíveis relacionados com efeitos de bola de neve associadas à essência protecionista, que no entanto deverão permanecer controlados, mas não deverão evitar um período de maior volatilidade nas bolsas.

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