A grande oportunidade da green tech

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Enquanto a Amazónia arde, Greta Thunberg pede aos bancos que não financiem "a destruição do clima" e Jane Fonda protesta contra a exploração de petróleo em Laguna Beach, os Estados Unidos e a União Europeia anunciam acordos para renovar a parceria de combate à crise climática.

Mas para lá das manchetes que estão a ser escritas a partir da Cimeira do Clima COP26, há um movimento concertado no mundo da tecnologia para empurrar a green tech para a fila da frente. O momento é agora. Não foi uma janela de oportunidade que se abriu, foram os portões que se escancararam. E apesar de nenhum sector poder ser a panaceia para todos os males que afligem a Terra, estes desenvolvimentos podem conter o travão que nos impedirá de rasgar o abismo.

A pandemia de covid-19 trouxe um ímpeto renovado à necessidade de acelerar a descarbonização e procurar alternativas ao modo de vida que nos colocou neste precipício. Isso é evidente e também está por trás de um dinamismo reforçado na inovação ligada ao ambiente.

No entanto, não há inovação que sobreviva à escassez de investimento disponível, e é por isso que as últimas semanas têm sido tão importantes. As declarações de Larry Fink, CEO da firma de investimento Blackrock, deu um impulso decisivo ao sector quando disse que os próximos mil "unicórnios" não vão ser na área dos média nem dos motores de busca, mas sim na green tech. Vão ser as startups que estão a desenvolver "hidrogénio verde, agricultura verde, aço verde e cimento verde."

Isto é, como disse o Chief Impact Officer da Web Summit, Peter Gilmer, uma profecia auto-realizável. Alguém tão determinante apontar o caminho para a green tech inspirará uma nova geração de fazedores a apostar no sector e incentivará investidores a porem lá o seu dinheiro.

Arriscar em tecnologia que ajude a mitigar a crise climática parece extremamente óbvio numa altura em que os alarmes estão todos a tocar e ninguém sabe como os calar - porque a casa está, efectivamente, a arder. Só que é preciso um efeito bola de nova, um efeito cumulativo que dê balanço a este tipo de inovações. Ideias não faltam, o que tem levado demasiado tempo é a financiá-las e a implementá-las de forma maciça. A resistência à mudança é grande. A diferença, dentro de pouco tempo, é que os efeitos das alterações climáticas vão ser tão visíveis e perniciosos que já não teremos escolha.

É preciso ter sempre em conta que a tecnologia não pode resolver os problemas sozinha. Há que haver vontade política - algo que Joe Biden e Ursula von der Leyen sinalizaram ao nível macro, mas que precisa de acompanhamento sustentado ao nível local. Há que haver também vontade empresarial, o que muitas vezes não acontece até ser absolutamente necessário por via da regulação ou da exigência dos consumidores.

E há que haver disponibilidade pessoal para um ajustamento do modo de vida. A tecnologia pode ajudar a resolver problemas como as emissões de gases nocivos do gado bovino, mas pensar que será possível mandar inovação para cima dos problemas e eles vão magicamente resolver-se enquanto mantemos o statu quo não é realista.

Não é sequer uma questão de poder fazer tudo ao mesmo tempo, é uma obrigatoriedade: temos de andar e falar ao mesmo tempo. Casar a enorme oportunidade da green tech com disponibilidade de investimento, vontade política e vontade empresarial. Quanto mais soluções inovadoras forem financiadas e implementadas, mais gás darão às outras componentes. Vamos a isto, que a Terra não se vai salvar a si própria.

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