A IA generativa vai roubar os nossos empregos?

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Pai do conceito de macroeconomia, John Maynard Keynes foi o economista mais influente do século XX. No seu artigo de 1930, “Economic possibilities for our grandchildren” (Possibilidades económicas para os nossos netos), há uma passagem que diz assim: “Estamos a ser afetados por uma nova doença de que alguns leitores podem ainda não ter ouvido falar, mas de que ouvirão falar muito nos próximos anos - o desemprego tecnológico. Trata-se do desemprego que advém de novas descobertas de meios para economizar o uso de mão-de-obra e que estão a ultrapassar o ritmo a que conseguimos encontrar novas utilizações para a força de trabalho.”

Dito de outra forma, Keynes anteviu que a automação de determinados processos levaria as máquinas a roubar trabalho humano. Este conceito - eu diria mais, este medo - ganhou terreno ao longo de todo o século XX através dos avanços da programação e da robótica, e estendeu-se ao século XXI, mais recentemente, através da Inteligência Artificial (IA).
A ideia de que os robôs vão roubar os nossos empregos já é antiga, só que agora o nosso foco está na IA.
Esta semana, o Goldman Sachs emitiu uma nota de research sobre o impacto da IA generativa na produtividade e no PIB. A publicação surge dois meses depois de uma outra nota do mesmo banco de investimento norte-americano a explicar que, no último ano, defenderam que a IA generativa poderia levar a um aumento da produtividade do trabalho nos mercados desenvolvidos de 1,5 pontos percentuais (ou cumulativamente aumentar a produtividade do trabalho em cerca de 15%) dez anos após uma onda de investimento e adoção generalizada. “Neste Global Economics Analyst”, verificamos o estado da transição para a IA, constatando que está bem encaminhada, mas que os impactos macroeconómicos significativos ainda estão provavelmente a vários anos de distância.”

Já no relatório mais recente, em resumo, o Goldman Sachs diz: “Continuamos a ver uma vantagem económica significativa da IA generativa, com a nossa estimativa de base a implicar um aumento de 15% na produtividade do trabalho e no PIB dos EUA (assumindo que o stock de capital evolui para corresponder ao aumento do potencial de trabalho). Um trabalho recente do economista do MIT Daron Acemoglu argumenta que o lado positivo da produtividade é muito mais limitado, com um aumento de base de 0,7% na produtividade total dos fatores e um aumento de 1,1% no nível do PIB.”

Ainda que o investimento em IA generativa tenha acelerado bastante, a verdade é que demora a sentir-se o impacto económico. Não sei se Keynes veria aqui uma nova doença, mas é certo que a IA generativa está a mudar o futuro do trabalho. Como disse recentemente Ryan Roslansky, diretor executivo do LinkedIn, cabe aos líderes das empresas investir no desenvolvimento de competências internas que trarão às suas organizações vantagem competitiva e tornarão mais eficientes, dedicadas e equitativas as suas equipas. Esta grande mudança está a acontecer agora, no século XXI, não vamos ficar para trás.

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