"A inteligência artificial traz oportunidades brutais na área farmacêutica"

O consultor Pedro Couto, da Accenture Technology, considera que a tecnologia está a provocar "uma revolução" na ciência, aumentando a velocidade da descoberta de novos medicamentos.
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A expressão "o mundo está a mudar" não é nova, mas ganha uma dimensão diferente à medida que surgem novos avanços tecnológicos, cada vez menos espaçados e com maior potencial de disrupção. Se o papel transformador atinge todas as áreas da sociedade, a ciência será, porventura, um dos setores que pode retirar maior benefício de soluções à base da inteligência artificial (IA), do machine learning ou do cloud computing. "A IA é utilizada na microscopia para acelerar a forma como adquirimos dados e para explorar os dados que já temos", exemplificou o investigador e bolseiro da Fundação La Caixa, Pedro Matos Pereira, durante a participação na DV Talk desta terça-feira sobre o impacto da tecnologia na ciência, organizada pelo Dinheiro Vivo.

O recurso à IA, continua, permite evitar os "preconceitos" do olho humano na análise de dados, que desta forma pode ser feita sempre com os mesmos padrões. "Tudo o que são processos repetitivos podem ser automatizados", acrescenta, realçando a capacidade de "escalar" a quantidade de dados que é possível analisar com a tecnologia. É precisamente por este aumento de velocidade e poder analítico que Pedro Couto, Associate Director da Accenture Technology, considera que "a inteligência artificial traz oportunidades brutais na área farmacêutica". O consultor refere-se ao desenvolvimento de novos medicamentos, cujo melhor exemplo está nas vacinas contra a covid-19. "O caso óbvio das vacinas é revolucionário", defende Matos Pereira.

Embora não menospreze a componente humana associada à investigação, o bolseiro e investigador do ITQB-Nova, destaca a "evolução disruptiva" que a tecnologia permite, poupando tempo e recursos enquanto, em simultâneo, aumenta a eficácia do trabalho científico. "Não consigo pensar numa área das ciências exatas onde este avanço tecnológico não seja positivo", diz.

Porém, há desafios que importa enfrentar e resolver para que a ciência, em particular em Portugal, possa ter sucesso e contribuir para a criação de soluções com impacto na sociedade. "A massa crítica em Portugal é comparável com qualquer sítio", aponta, pedindo, no entanto, que exista mais estabilidade e previsibilidade nos programas de financiamento da ciência. "A ciência para ser bem-sucedida precisa de ser aborrecida", acredita. Isto significa, concretiza, construir uma estratégia nacional forte para o setor, instituir concursos de financiamento regulares e ter regras transparentes e previsíveis. "Se acontecer, os cientistas vão continuar a fazer o bom trabalho que estão a fazer", remata.

Pedro Couto, por outro lado, mostra-se preocupado com a capacidade do país de aproveitar os fundos comunitários do Plano de Recuperação e Resiliência, bem como do Portugal 2030, com "projetos que nos façam, de facto, avançar". "Vai haver muito dinheiro, esperemos que ele seja canalizado para a inovação", conclui.

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