Não fazia ideia que havia um interesse súbito por Portugal. Por cá, os ministros e a malta dos negócios, que viaja, gosta de dizer que sim, que a reputação de Portugal mudou e que toda a gente fala. Aqui e ali aparecem rankings de hotéis e cidades, que o pequeno português, complexadamente, dissemina pelas redes sociais. Eu desconfio destes indicadores muito pessoais e pouco científicos, mas a verdade é que, de acordo com o meu amigo, fala-se de Portugal..Ainda uma semana antes, durante o programa "Expresso da Meia-Noite", a reputação de Portugal tinha sido assunto e eu tinha ensaiado uma explicação, a mesma explicação que dei ao meu amigo. Disse-lhe que era o top of mind, a mais mágica de todas as qualidades comunicacionais. Explico-me:.O top of mind é o indicador da posição de uma marca, ou de um assunto (as marcas são assuntos) na cabeça dos consumidores. É um ranking. Um ranking de notoriedade espontânea. De que marcas de automóveis se lembra? De que países europeus se lembra? De que candidatos às eleições europeias se lembra?.A resposta fornece um ranking. Mais tarde os marketers podem, e devem, investigar as razões pelas quais os assuntos são mais lembrados, mas isso é outro estudo, um estudo dos atributos das marcas. O top of mind é apenas o ranking dos que primeiro vêm à cabeça, dos que são mais vezes lembrados em primeiro lugar. Ora isto consegue-se só por aparecer, só por ser falado..Durante os últimos três anos a notoriedade de Portugal aumentou de certeza absoluta. Quando, no passado, estudava os atributos da imagem de Portugal, o dado mais relevante era a sua falta de notoriedade. A reputação podia ser isto ou aquilo, mas o principal dado sempre foi a ausência completa de notoriedade e, assim, de qualquer reputação..Com estes três anos de uma presença mais assídua nos media internacionais, sobretudo por causa da crise da dívida, o nome de Portugal apareceu mais vezes do que era normal. Não admira que os amigos chiques do meu amigo, que vivem em Upstate New York e que leem o FT, o NYT, a Monocle e cia, tenham ficado curiosos. Quando se fala muito de uma coisa, sem se saber bem o que se passa com ela, fica-se curioso, imagina-se. Há mistério naquilo que é mais falado. Portugal foi mais falado. Os jornalistas vieram cá, andaram no 28, foram à rua cor-de-rosa e às tascas. E gostaram. O Obama disse que a América não era Portugal, o que até pode parecer um elogio..O Tyler Brûlé da Monocle, aquele sr. que escreve uma coluna no FT Weekend sobre os aeroportos que frequenta, depois de ter vindo a Portugal derramar charme perante uma assembleia de adoradores babados, escreveu que muitos dos seus amigos falam e vêm a Portugal e que ele tinha ficado com a sensação de que estava a perder uma grande festa. É uma boa imagem que ilustra o poder do top of mind..Não se passa aqui nada de verdadeiramente novo ou diferente. A nossa reputação não disparou de repente nas dimensões geradoras de respeito, como a malta governamental apregoa (não houve tempo para isso); nem nos tornámos mais notórios como país de contestatários queimadores de pneus e apedrejadores de montras como as esquerdas da rua sonharam..Não, apenas fomos mais falados e aparecemos mais vezes nestes últimos três anos: por causa da dívida, por causa do Ronaldo, por causa das ondas gigantes da Nazaré. Pouco mais. E já chega para dar nas vistas..Não importa se falam bem ou mal, é preciso é que falem. É essa a magia do top of mind..Publicitário, psicossociólogo e autor.Escreve à sexta-feira.Escreve de acordo com a antiga ortografia