A Maldição do Petróleo

Era 7 de Setembro de 2009, dia de mais um aniversário da Independência do Brasil, e Lula falava à nação. "A descoberta de reservas de petróleo ao largo da costa brasileira é a nova independência do Brasil", garantia o então presidente, depois de se ter deixado fotografar numa refinaria de sorriso aberto e petróleo a jorrar-lhe nas mãos. O antecessor de Dilma Rousseff desconhecia a Teoria da Maldição do Petróleo.
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A Teoria da Maldição do Petróleo diz basicamente que os países com valiosos recursos naturais, como o próprio ouro negro, os diamantes ou o gás natural, acabam na maioria das vezes por crescer menos do que o suposto.

Porque não diversificam a economia, como aconteceu com a Holanda nos anos 60 do século passado que, ao especializar-se na extração de gás, enfraqueceu o setor manufatureiro.

Porque tendem a derivar em ditaduras ou democracias musculadas e a gastar demasiado em armamento para proteger os seus recursos, como sucede com um punhado de países africanos.

Ou porque se tornam um ninho de corruptos ativos, passivos, potenciais, eventuais, arrependidos, assumidos ou assustados onde todos desconfiam da própria sombra - o Brasil, com economia apesar de tudo diversificada, uma democracia aparentemente estável e nenhum inimigo no horizonte, a não ser ele próprio, foi atingido por este último vértice da maldição.

Ao ponto de a presidente Dilma Rousseff sugerir sujeitar os nomes que foi escolhendo a conta gotas para o seu novo governo à aprovação prévia do Ministério Público (MP). Como 40 políticos, quase todos da sua base aliada, já foram implicados no Petrolão, o escândalo de corrupção da petrolífera Petrobrás, e o MP ainda investiga, sob segredo de justiça, mais umas dezenas ou centenas de ministeriáveis, a presidente, num misto de ingenuidade e pragmatismo, decidiu enviar os nomes dos candidatos a ministros ao poder judiciário com uma pergunta anexa: "Este pode?"

A presidente encara, pois, os futuros ministros como um grupo de potenciais cadastrados. Dilma já não confia em ninguém à sua volta. Aliás, parte da opinião pública nem em Dilma confia. Ninguém no país confia em ninguém, para dizer a verdade. Nem em si próprio.

Não é para menos. Com o Petrolão, maior escândalo de corrupção da história do país, caracterizado pela atribuição de obras hiper-inflacionadas a construtoras em troca de dinheiro para operacionais da Petrobrás e para os cofres de partidos políticos, está em causa uma soma superior a 200 mensalões, maior do que o PIB de 52 países. Dez das maiores empreiteiras brasileiras estão envolvidas, além das tais dezenas - talvez centenas - de políticos beneficiados com dinheiro oleoso nas suas campanhas eleitorais saído de uma empresa que representa 13% do PIB brasileiro.

E o Procurador-Geral da República confessa não saber ainda avaliar o número de envolvidos e o alcance financeiro totais do esquema (pormenor: quando um operacional de terceira linha da Petrobrás concorda em devolver aos cofres públicos mais de 80 milhões de euros, fica-se com uma pequena ideia do que foi desviado pelos mentores da fraude).

Nos últimos dias, até uma cidade americana, Providence, capital de Rhode Island, processou a Petrobrás por ter investido na empresa e perdido dinheiro por causa dos subornos. Perdido e de que maneira: de empresa com maior valor de mercado no Brasil, a Petrobrás passou em meses a quarto lugar (atrás da Ambev, companhia de cervejas, e dos bancos Itaú e Bradesco) e não se pode atribuir a queda apenas ao decréscimo mundial do preço do ouro negro.

Hoje, a petrolífera vale um sexto do que chegou a valer. Vale menos do que antes da descoberta do pré-sal nos mares brasileiros, em 2008, quando Lula, de sorriso aberto e mãos sujas de petróleo, anunciou ao mundo a segunda independência do Brasil.

Lula, provável sucessor da sua sucessora nas eleições de 2018, terá entre as suas missões declarar o Brasil independente do petróleo.

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