O eleitor padrão de Jair Bolsonaro acreditou, durante a campanha eleitoral para presidente do Brasil em 2018, que o rival Fernando Haddad, ia, caso ganhasse, impor biberões em forma de pénis, as famosas "mamadeiras de piroca" na gíria local, de forma a combater a homofobia.
Ainda no contexto da campanha, os bolsonaristas embarcaram na tese de internet que o mesmo Haddad dissera a um jornal que ao Estado é que competiria decidir o sexo das crianças.
Acreditaram que a inscrição "Jesus é Travesti" numa t-shirt de Manuel D"Ávila, candidata à vice-presidência na lista de Haddad, era verdadeira e não uma montagem grosseira.
E engoliram sem pestanejar a notícia de que o também candidato Ciro Gomes, que acabaria como terceiro mais votado, havia agredido a sua ex-mulher, a atriz Patrícia Pilar, mesmo depois desta gravar um vídeo a desmentir o que chamou de "absurdo".
Os eleitores bolsonaristas, acreditaram mesmo que Marielle Franco, a vereadora do Rio de Janeiro cujo assassinato, às mãos de milicianos cariocas, poderia prejudicar a campanha, pertencia à organização criminosa Comando Vermelho e engravidara, aos 16 anos, de um traficante famoso.
Eles acreditaram até que um programa de entretenimento da Rede Globo, outro dos supostos inimigos de Bolsonaro, tinha pago obras na casa de Adélio Bispo, o esfaqueador do candidato.
Eles, não por acaso apelidados de gado, acreditaram em todas as fake news, mesmo nas mais patéticas.
Mas não se deixam enganar, era só o que faltava, pelo voto eletrónico, a última obsessão do seu líder, depois da inútil cloroquina no combate à covid-19 e antes da próxima idiotice.
Apesar de o Supremo Tribunal Federal investir em permanência na segurança das urnas; de todos os presidentes do Tribunal Superior Eleitoral desde 1988, ano da redemocratização, assinarem uma nota a defender o sistema; de o equipamento ser auditado três vezes, incluindo no dia votação, com a presença de representantes dos partidos candidatos; de especialistas brasileiros e estrangeiros atestarem a sua fiabilidade; de técnicos dos Estados Unidos invejarem a sua rapidez por comparação com os obsoletos papelinhos e cartõezinhos usados nas eleições americanas; apesar disso, o eleitor padrão de Bolsonaro desconfia.
É capaz até de ir para a rua, perder preciosas horas de um domingo, reclamar com a coisa porque Bolsonaro anda há meses a dizer que tem "provas de fraude" no sistema.
Aliás, o presidente do Brasil convocou a população para uma live, na semana passada, onde iria apresentar essas provas. Eis o início da sua intervenção: "eu não tenho provas mas...". E a seguir apertou o play e fez correr meia dúzia daqueles vídeos de grupo de Whatsapp tão credíveis como uma "mamadeira de piroca".
Bolsonaro e os bolsonaristas vivem no seu mundo, seja por maldade, por alienação, por burrice ou por tudo junto. Mas a estupidocracia tem hora marcada para acabar: outubro de 2022 com voto eletrónico ou à mão, inscrito num papiro.