A mobilidade elétrica está aí, mas há desafios que importa resolver

A crise dos semicondutores tem abrandado as vendas de veículos novos, contribuindo para o aumento do preço dos usados. Ainda assim, os elétricos e híbridos plug-in continuam a ganhar quota de mercado. Será suficiente para atingir o objetivo definido para 2030?
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O objetivo nacional passa por atingir, até ao final desta década, 30% de veículos elétricos de passageiros na frota portuguesa. Porém, avisam consultoras e especialistas, a este ritmo não será possível. "Não conseguiremos chegar lá", aponta Nuno Castel-Branco, diretor-geral do Standvirtual. O problema, diz, está no número de automóveis vendidos e na capacidade de renovação do parque automóvel, que tem sido também prejudicada pela crise mundial de semicondutores e pela maior dificuldade em colocar viaturas novas no mercado. Na segunda talk do Barómetro Automóvel - uma parceria TSF, Dinheiro Vivo e Standvirtual -, analisam-se os principais obstáculos à generalização da mobilidade elétrica.

Apesar de não acreditar que seja possível chegar a 2030 com cerca de 1,5 milhões de automóveis elétricos, Nuno Castel-Branco não deixa de sublinhar a evolução positiva nas vendas em Portugal. "As pessoas estão a olhar muito mais para a mobilidade elétrica, toda a comunicação das marcas está orientada à mobilidade elétrica e, nesse sentido, tivemos um crescimento de cerca de 70%", revela. Os números da UVE - Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos relativos a janeiro confirmam isso mesmo: registou-se um crescimento, no primeiro do mês de 2022, de 68,9% na venda de veículos elétricos e híbridos plug-in em relação ao período homólogo. "Mais carros houvesse, mais se vendia", acredita.

Pedro Vinagre, responsável pela área de mobilidade da EDP Comercial, assume-se mais otimista em relação ao crescimento da quota de mercado dos elétricos nos próximos anos. "O número de veículos elétricos está a disparar. A média do ano foi de 20%, mas nos últimos meses tivemos cerca de 30% de quota. Esta é uma tendência que esperamos em 2022", antecipa. Contudo, o especialista identifica alguns obstáculos que importa resolver para que essa tendência se intensifique, nomeadamente ao nível de incentivos à compra de veículos e à expansão da rede pública de carregamento. "Num inquérito recente, mais de 80% das pessoas dizem que querem comprar um carro elétrico", observa. A questão está na "ansiedade" da autonomia causada pela existência de relativamente poucos postos de carregamento em todo o país, que dificultam o abastecimento para aqueles que não dispõem de garagem ou wall box no local de trabalho.

Reaprender a abastecer

Conduzir um automóvel elétrico ou outro a combustão é uma experiência diferente, desde logo na forma como "abastecemos" o veículo. "O conceito vai ser de always charging, vai existir a necessidade de carregarmos convenientemente enquanto vamos às compras ou almoçar", exemplifica Nuno Castel-Branco. Esta nova forma de gerir a autonomia fará com que os condutores utilizem os carregadores super-rápidos apenas quando precisam de fazer viagens maiores. "As pessoas acham que vão carregar a bateria toda todos os dias. Não é verdade. Fazemos, em média, 50 a 60 quilómetros por dia e carregaremos apenas aquele bocadinho de bateria", complementa Pedro Vinagre. Apesar disso, a EDP Comercial tem vindo a fechar parcerias com a Brisa, McDonald"s ou o grupo Iberfood para a instalação de carregadores de alta velocidade um pouco por todo o país.

"Cada vez mais vamos ter pessoas a entrar na mobilidade elétrica que não têm as mesmas condições daquelas que têm entrado. Levanta-se uma questão muito complexa, que é a educação dos consumidores", afirma Castel-Branco. Esta responsabilidade, acredita, deve ser entregue às marcas automóveis e aos agentes do mercado.

Combustão VS elétricos. Qual o mais barato?

Com ou sem aumento dos combustíveis fósseis, utilizar um veículo movido a energia elétrica pesa menos na carteira. De acordo com a UVE, percorrer 100 quilómetros num automóvel a gasolina custa, em média, cerca de 12,46 euros, enquanto um motor a gasóleo implica o gasto de 9,72 euros. Se o abastecimento for feito com energia elétrica, e mesmo que aconteça num carregador rápido da rede pública, o custo cai para 6,40 euros. "Mesmo quando olhamos para um carregador super-rápido, o custo vai estar abaixo dos dez euros", realça Pedro Vinagre. Porém, é no carregamento doméstico que os utilizadores mais podem poupar - o valor para 100 quilómetros varia entre 1,60 euros e 3,20 euros, consoante a tarifa contratada. "Não é um tema de competitividade", remata o especialista em mobilidade.

Todos os meses, a TSF, o Dinheiro Vivo e o ​​​​​​​Standvirtual juntam-se para um novo episódio do Barómetro Automóvel, um espaço que privilegia a análise do setor, o esclarecimento de dúvidas e o debate sobre o futuro da indústria.

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