A Mossack Fonseca, a empresa que está no centro do escândalo de corrupção Panama Papers, era, até agora, uma sociedade de advogados discreta sediada no Panamá. Mas a sua atividade era tudo menos inofensiva: criar estruturas offshore em paraísos fiscais que depois eram usadas para, por exemplo, fugir aos impostos.
Precisamente por ser uma empresa discreta, a Mossack Fonseca, tinha um lista de clientes muito prestigiados, alguns dos quais estão agora a ser visados nos mais de 11 milhões de documentos a que o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI) teve acesso e divulgou no domingo à noite e que mostram esquemas de corrupção nas offshore criadas por esta empresa.
Segundo a Lusa, a Mossack Fonseca, cuja sede está instalada no bairro de torres de vidro no centro de negócios do Panamá, foi fundada há 30 anos por Jürgen Mossack e Ramón Fonseca Mora, ambos advogados.
Mossack nasceu na Alemanha em 1948, mas pouco depois terá emigrado com a família para o Panamá e foi aí que se formou em Direito. De acordo com o artigo do CIJI, citado pelo Lusa, o pai de Jürgen Mossack era um nazi, que serviu nas SS, a polícia secreta das forças alemãs durante a Segunda Guerra mundial.
Já Ramón Fonseca Mora, nasceu em 1952 no Panamá e também foi lá que licenciou em Direito, mas esteve depois na London School of Economics, no Reino Unido. Diz a Lusa que o advogado contou numa entrevista que terá pensado tornar-se padre.
Os dois abriram a Mossack Fonseca primeiro nas Ilhas Virgens Birtânicas, considerado um paraíso fiscal, e só mais tarde se mudaram para o Panamá. Ainda assim, de acordo com o ICIJ, metade das sociedades criadas pela Mossack Fonseca - mais de 113 mil - estão sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas.
Apesar dos documentos revelados conterem informações que vão desde 1977 a dezembro de 2015, as atividades da Mossack Fonseca começaram a ser seguidas há relativamente pouco tempo.
A empresa aparece citada na operação Lava-Jato, o escândalo de corrupção no Brasil, que envolve a petrolífera Petrobras e que estalou há cerca de dois anos. Aliás, o português que aparece na lista do Panama Papers surge precisamente ligado à operação Lava Jato.
Ora, conta a Lusa que, no mês passado, Ramón Fonseca Mora - que é conselheiro do presidente panamiano, Juan Carlos Varela, desde 2014 - anunciou que iria tirar umas férias para "defender a [sua] honra", na sequência da multiplicação das acusações em que a sociedade se viu envolvida no âmbito das investigações da justiça brasileira.
Tem sido ele a falar com as várias agências noticiosas mundiais, como a Reuters ou a France Press, dizendo sempre que a Mossack Fonseca não tem nada a ver com os que seus clientes fazem nas empresas que eles criaram nem com o dinheiro que era movimentado.
Na verdade, diz mesmo que está a sofrer um ataque contra a privacidade, dado a sua empresa ter sido alvo de um hacker que depois originou esta fuga de informação em massa que, entretanto, foi divulgada fora de contexto.