Paulo Portas é dos políticos que mais marcou os últimos 30 anos da política portuguesa. E se lembrarmos a sua missão de publisher e opinion maker então, percebemos que, este homem liderou, directa e indirectamente, durante largos anos os temas, as práticas, o soundbite, a conjuntura e o rumo da política portuguesa. Mesmo a partir de uma minúscula cadeira mais à direita e na oposição.
O seu verdadeiro problema foram as contingências que a sua missão jornalística passada, "o coveiro do cavaquismo", condicionou-o e só lhe permitiu espaço vital num partido mais à direita. Um partido que, quando o tomou, estava no limite de perder peso e expressão nacional.
Paulo Portas com a sua inteligência pegou numa espécie de Fiat 600 e deu-lhe um rendimento Volkswagen Sharan 2.8, a gasolina, com full extras, 7 lugares, e velocidades de um motor de 204 cavalos. Não era o carro mais atractivo ou bonito, mas levava muito mais gente, era confortável e eficiente (mas com um motor fora de moda).
A verdade é que o CDS o limitava na sua ambição política e crescimento. Seria impossível conseguir, como José María Aznar em Espanha, fazer crescer este pequeno partido fundador da democracia portuguesa e torná-lo dominante no centro e direita portuguesa.
O partido e o seu património estavam demasiado presos à direita, e o seu espaço de crescimento ficou sempre condicionado por um PSD que lhe tinha uma enorme hipersensibilidade ou alergia pessoal; por mais quadros competentes arregimentasse para as suas hostes a liderança do centro direita estava-lhe vedada; apenas conseguiu ir condicionando posições do PSD e obrigando-o a com ele governar.
Em abono da verdade, a conjuntura política também não lhe foi amiga. E a sua liberdade pessoal e uma certa inconstância cíclica, que muitas vezes também lhe foi uma arma, o condicionaram muitas vezes numa representação de respeitabilidade.
Uma das vantagens de Paulo Portas é que é um homem muito culto, que sempre fez pontes com quem não pensa como ele (as suas origens de pai, mãe e irmãos garantiam-lhe isso de alguma forma também). Portas podia ter sido o grande político português. Só a conjuntura e a sua natureza não o permitiram. Há vários ex-governantes que podiam ter sido decisivos se a conjuntura e o seu tempo o tivessem permitido, pessoas preparadas que não tiveram lugar no seu tempo, recordo facilmente de Salgado Zenha, Medeiros Ferreira, Leonor Beleza ou Adriano Moreira (desculpem, esta lista pode não ser a mais evidente, mas como em tudo, parte sempre de um prisma mais pessoal).
E um dia, como todos sabemos, Paulo Portas cansou-se de estar a correr sempre em esforço e a puxar por um Fiat que, já não conseguia fazer andar mais e onde todos os artifícios já tinham sido esgotados. Com uma conjuntura política pela frente que o condenava a um enorme deserto, decidiu fazer-se à vida privada e garantir a sua reforma.
Com as últimas presidenciais, o final do deserto começa a estar à vista; e o PSD e a direita continuam numa deriva no alto-mar da política, sem rumo e sem comandante. E o CDS viu-se tomado por questiúnculas internas de quem perdeu um pai e não sabe governar a própria casa quanto mais apresentar-se ao país.
A agressividade das redes sociais e os novos fenómenos de media deram espaço a novas tendências políticas mais populistas, até há pouco ignoradas no nosso país; e o futuro do CDS ficou em perigo como nunca esteve anteriormente.
E com tudo isto como fica Paulo Portas? O regresso da direita à governação, nas actuais circunstâncias, parece altamente incerto. Mas o desaparecimento do CDS pode não ser totalmente mau para este enfant terrible. O desaparecimento do seu partido poderá até aproximá-lo do centro. Poderá aproximá-lo do PSD com o qual governou por duas vezes (ou três... se lembrarmos o episodio de Santana Lopes de má memória).
Paulo Portas poderá ser finalmente o candidato do enorme centro. (É verdade, do centro!, os novos partidos são mais extremados e alteraram a sua posição relativa.) Com o eventual desaparecimento do CDS, Paulo Portas fica com mais espaço de acção, corta as amarras e pode pensar numa candidatura à Presidência da República. Basta que continue a revelar-nos grandes causas comuns, a dar a cara com uma incrível pedagogia e preparação nos nossos serões televisivos. E aguardar. Aguardar sem pressa. Conseguirá?
Ah, tudo isto será apenas válido se Passos Coelho não tiver a mesma intenção de se candidatar ao apetecível lugar, mas isso já seria um outro artigo.
Duarte Mexia, duarte.mexia@gmail.com
(O autor escreve segundo a antiga ortografia.)
(Nota: A pedido do autor, no primeiro parágrafo a palavra melhor foi alterada por mais, porque, por lapso, não era este o sentido que o autor queria dar texto)