Estamos na fase do fait divers da personalidade do ano de 2021. Concordo que o Vice-Almirante Henrique Gouveia e Melo (hoje já Chefe de Estado Maior da Armada) foi um personagem novo, inovador, trabalhador, sério e, por isso, extraordinário que nos apareceu este ano. Cumpriu a missão que lhe foi incumbida, apesar de não se esperar outro desfecho da Marinha Portuguesa. Esperamos que não caía no pecado da vaidade que o "advogado do diabo" sempre nos lembra.
Penso também que Prof. António Costa e Silva foi crucial para que o país voltasse a pensar e a debater uma Estratégia Nacional. Um País sem Estratégia torna-se um Protetorado e exógeno por seguir os interesses de outrem (tal como sempre nos lembra o Prof. Adriano Moreira e como já assistimos no Consenso de Washington do final dos anos 80).
Finalmente, concordo com o destaque a Carlos Moedas. Apesar de ter assistido ao nascer, ao viver e ao acontecer, fui crítico e não gostei da campanha "amorosa" que fez. Mas reconheço e orgulho-me de ter um presidente da Câmara de Lisboa que parece que não se vai envaidecer nem pela vitória nem pelo cargo que exerce. Parece e acredito que será um líder do Município de Lisboa humano, genuíno e humilde. Tudo boas características, especialmente, no spectrum político vigente.
Contudo, é interessante observar que os três personagens do ano foram "quasi-mortos" pelo regime vigente. Parece que a atual OligoPartidoMediocracia não aguenta nem competência, nem quem faz diferente, nem novas mentes e, muito menos, novas gentes. E no fim, ou os abandona à sua sorte, fazendo errar quando nunca erraram; ou prescinde, aproveitando sem dó nem piedade todas as ideias e ideais; ou os tenta liquidar com desafios impossíveis e nomeações discutíveis.
Este maquiavelismo político evidente nem na última Monarquia, nem na I República e muito menos no Estado Novo foi praxis. Aliás, basta lembrar os vários personagens (como, por exemplo, Prof. Adriano Moreira) que por criticarem e ousarem apresentar ideias novas foram convidados para integrar governos.
Posto isto, na minha opinião as Personalidades do Ano foram todos os cidadãos comuns que nunca deixaram de trabalhar. Que, apesar do ambiente confortável, possível e desejável para ficar em casa, nunca nos largaram. Nunca nos abandonaram, nem abandonaram as suas equipas.
Importa, por isso, realçar algumas pessoas sem medo com que me deparei durante este ano como o Senhor António pequeno empresário que nunca largou o seu negócio nem as suas equipas; a dona Adelaide, empregada de limpeza e de fábrica que garantiu sempre a limpeza dos seus serviços; o Senhor Carlos, camionista, que nunca deixou de garantir os bens precisos para as nossas vidas; o Senhor José, Bombeiro Voluntário, que esteve sempre disponível para nos vir salvar; a Enfermeira Paula que nunca deixou de cuidar de nós, das nossas famílias e dos seus doentes; o Senhor Filipe que continuou a limpar as nossas ruas e a levantar o lixo que sempre geramos; o Senhor Paulo Jorge que continuou a servir e a preparar as refeições que encomendávamos...entre tantos outros...
Foram estas pessoas, estes profissionais sem medo mas também, muitas vezes, sem a merecida remuneração, sem o devido reconhecimento e sem o devido protagonismo que garantiram a nossa sobrevivência. São estas pessoas e estes profissionais sem medo a quem devemos agradecer e sempre valorizar.
Por isso, a todos, um bom ano e muito obrigado.
Empresário