Tenho esperança na devolução de salários, quero acreditar que os impostos pornográficos baixarão, que a economia crescerá e que a decadência dos serviços (públicos e privados), resultante da filosofia do cortar a qualquer custo, irá ser invertida.
Com a chegada das nêsperas e dos primeiros morangos com sabor, acredito no futuro. Como poderia não acreditar, quando os pássaros cantam lá fora?
Nesta estação em que tudo renasce e cresce, quero acreditar que voltaremos ao crescimento; acredito mesmo num renascimento, depois do coma a que nos submetemos durante quatro anos.
Quero acreditar que a mesma magia que a Primavera encerra, e que nos traz as cerejas, traga também competência, honestidade, bom senso e bom gosto aos nossos empresários; para que passem mais tempo a trabalhar, a gerir de mangas arregaçadas, a resolver problemas, a ter novas e pertinentes ideias; e menos tempo a almoçar, a fazer networking, a citar apelidos e a roubar. Empresários competentes e trabalhadores: isso sim, era a cereja no topo da recuperação económica.
E, finalmente, com a chegada do verde aos prados e aos montes, quero acreditar no fim da lama. Quero acreditar que os aldrabões e os ladrões que restam tenham aprendido a lição deste Inverno, e tenham medo, muito medo, de ser apanhados. Quero acreditar que se vai, finalmente, cuidar da terra. O adubo faz crescer os morangos, mas também as ervas daninhas. E de ervas daninhas é do que mais padece a nossa economia: dar incentivos a um ladrão apenas aumenta o roubo e o seu pecúlio; e dar incentivos a um incompetente apenas amplifica a sua incompetência. Quero acreditar que esta terra vai dar. Queremos todos.
Ah a Primavera. Devo estar bêbado de Primavera.