Se há coisa para a qual nunca estamos preparados é para a água fria, quando estamos à espera que seja quente. E foi isso que nos aconteceu a todos com a pandemia. Um "balde de água fria" que nos obrigou a repensar o presente e olhar para o futuro de uma forma diferente daquela para a qual fomos preparados.
E quais serão então, as receitas para o futuro próximo?
Olhando para os estudos que as nossas empresas vão fazendo, conseguimos identificar algumas tendências. Por exemplo, constatamos que, após o confinamento, o número de empresas que digitalizaram o seu negócio triplicou em relação aos níveis pré-pandemia, com um pico em julho de 2020. E desde essa altura que a mudança para o digital se tem mantido num nível elevado. Por outro lado, os comerciantes locais conseguiram crescer 8%, apesar das vendas das lojas nos centros das cidades terem decrescido 33%, em relação a 2019. E ao longo de 2020, e em comparação com 2019, a abertura de novas pequenas empresas aumentou mais de um terço, 8 vezes mais do que a criação de grandes empresas. Na vertente do turismo, verificámos que os alojamentos tiveram um desempenho muito positivo nos verões de 2020 e 2021, ao contrário dos grandes hotéis nas grandes cidades; e a restauração, apesar do contexto adverso, foi o setor que apresentou melhor desempenho, sobretudo em 2021.
Ficámos, ainda, a saber que no pico da crise, as vendas feitas pelas PME ficaram 20% abaixo das vendas feitas pelas empresas de maior dimensão. No entanto, ao longo deste ano, houve uma recuperação e as vendas totais registadas pelas PME aumentaram 4,5% até agosto, em comparação com o mesmo período de 2020. Por outro lado, foi interessante verificar que, no mesmo período, as vendas feitas através de comércio eletrónico aumentaram 31,4%.
Estas conclusões mostram-nos que as oportunidades estão a voltar e que os empreendedores devem saber olhar para o potencial que a digitalização e a inovação terão no desenvolvimento dos negócios, porque serão um pilar fundamental para o sucesso e, por conseguinte, para o crescimento da economia.
Mas há outros dados que nos dão confiança para continuar a apostar em Portugal. Além de sermos reconhecidos como early adopters ao nível tecnológico, ficámos também a saber que o nosso país ocupa a 13ª posição ao nível da confiança no ecossistema digital, à frente de países como os Estado Unidos, Austrália ou Japão. Entre as várias curiosidades deste estudo elaborado pela Fletcher School, da Tufts University, está o facto de Portugal aparecer na32ª posição no Novo Índice Global de Inteligência Digital.
Apesar destes bons resultados, Portugal ainda tem um caminho para se reinventar, aprendendo com os países líderes. Ou seja, tirar partido do talento disponível, sobretudo através de mais parcerias e mais interações ao nível de I&D, entre empresas e a academia. Parcerias essas que devem, ainda, ser alargadas a instituições públicas e organizações sem fins lucrativos para que o resultado possa ser um modelo de desenvolvimento mais inclusivo e uma economia digital sustentável para todos, porque, ao longo do último ano, ficou claro que o bem-estar das pessoas, da economia e do planeta estão interligados.
Só assim as palavras mágicas Digitalização, Empreendedorismo e Inovação poderão funcionar como verdadeiros catalisadores da mudança para um futuro melhor.
Maria Antónia Saldanha, Country Manager da Mastercard Portugal