Nos dias que correm, existe uma preocupação cada vez maior com o termo "poupança". Com uma guerra a decorrer na Europa, a inflação a disparar e as despesas cada vez mais elevadas, a sombra de uma crise financeira começa a pairar sobre as famílias portuguesas..Durante tempos incertos como estes, poupar e manter uma reserva financeira ganha ainda maior importância. No entanto, há números que comprovam que grande parte dos portugueses não o consegue fazer, ou devido à escassa liquidez mensal ou por dificuldade em controlar o seu orçamento. O Inquérito à Situação Financeira das Famílias realizado pelo Banco de Portugal em 2020 e pelo INE revela que cerca de 46,6% das famílias têm dívidas, sendo que o endividamento dos particulares cresceu 3,1% no último ano, valores que se começam a aproximar dos níveis registados na crise financeira de 2008..Deparo-me diariamente com uma generalizada falta de conhecimento por parte dos portugueses sobre como gerir o dinheiro do seu agregado familiar. Um panorama que pode estar relacionado com o estudo do Banco Central Europeu (BCE), de 2020, que colocou Portugal no último lugar do ranking, entre os 19 países da zona euro, na temática da literacia financeira. Está mais que provado que baixos níveis de literacia financeira estão, por norma, associados a más escolhas no que diz respeito às finanças pessoais, com um impacto negativo direto na qualidade de vida..A literacia financeira passa pela compreensão e consciência de saber analisar e, posteriormente, gerir a condição financeira pessoal, mas também por perceber a economia em geral. E como é que podemos adquirir esta competência? Para além de procurarmos informação e obter conhecimentos sobre este assunto, é crucial que a educação financeira comece em casa e possa ser incluída, desde cedo, no contexto escolar..Explicar o que são finanças às crianças é possível. Importa ensinar o valor do dinheiro e que o mesmo é um recurso limitado, conquistado com trabalho. Resultará se for adotado um discurso simplificado, facilitador e poderá incluir atividades orientadas para os mais novos. Uma das soluções pode ser a implementação através de jogos didáticos ou colocando-lhes alguns desafios e objetivos, por exemplo, se a criança pede um brinquedo que tem um valor elevado, pode ser incentivada a fazer algumas tarefas em casa para entender que para o adquirir é necessário algum esforço. É, ainda, importante explicar-lhes a importância de usar o dinheiro com responsabilidade e, sobretudo, de poupar para conseguir ter dinheiro suficiente para comprar algo que queira muito..Entender como funciona o dinheiro é essencial para gerir as economias pessoais e entender como funciona o "mundo". A mudança para conseguirmos ter uma sociedade mais instruída financeiramente pode estar nas mãos dos mais pequenos, que podem ser formados para terem a capacidade de tomar decisões financeiras mais conscientes no futuro. Até porque não nos podemos esquecer que os mais novos têm um forte poder de influência junto dos seus pais. Não é em vão que todos nos lembramos do impacto que a aprendizagem sobre a reciclagem, especialmente nas escolas, teve na mudança de mentalidade de muitas famílias levando-as a adotar esta boa prática ambiental nas suas casas..Dotar os mais novos de conhecimentos na área financeira, pode, não só fazer com que as crianças consciencializem os pais para a importância de poupar e de gerir as suas economias de forma sustentável, como vai ensinar desde cedo estes futuros adultos a saber controlar o seu orçamento e a fazer escolhas financeiras mais conscientes e responsáveis..Marta Almeida, Diretora Coordenadora Nacional da DS INTERMEDIÁRIOS DE CRÉDITO