A segurança energética, lado a lado com a transição energética

Publicado a

O desenvolvimento sustentável da sociedade pressupõe um conjunto alargado de medidas propulsoras que permitam o bem-estar das pessoas, sem comprometer, nem o presente, nem o futuro. São muitos os avanços civilizacionais que conseguimos nas últimas décadas, graças aos investimentos na eficiência energética, na robustez das infraestruturas e das cadeias logísticas. A energia é, por excelência, o vetor da
transformação, desenvolvimento e competitividade das nações, pelo que não conseguiremos continuar a avançar sem uma visão holística e agregadora deste recurso tão nevrálgico.

O primeiro parágrafo poderia ser o prelúdio sobre a transição energética, mas é antes sobre a segurança energética, que não é dissociável da primeira, nem perfila para uma outra direção. A atual conjuntura internacional preconiza-nos alguma reflexão sobre o futuro, ou melhor, sobre o presente que não queremos indigente, mas antes inclusivo.

O setor energético assume-se como um vetor preponderante da economia portuguesa. A sua grande cadeia de valor impele uma análise estrutural, que coadune com a importância da energia no dia-a-dia das pessoas e das empresas. O Plano Nacional integrado Energia Clima (PNEC), que reflete o compromisso da União Europeia com a descarbonização e a neutralidade carbónica, é o principal instrumento da política energética de Portugal. Corrobora a importância de garantir uma transição energética justa, democrática e coesa, "que potencie a geração de riqueza e uso eficiente de recursos".

Os objetivos elencados no PNEC têm como desígnio a concretização de cinco dimensões, a descarbonização, a eficiência energética, a segurança do abastecimento, o mercado interno e a investigação, inovação e competitividade. Para concretizar estes desígnios, não podemos cair na insídia da precedência excessiva a uma determinada fonte de energia e/ou negligenciar a infraestrutura logística existente, que tão importante tem sido nos últimos meses para manter vivas as cadeias de valor.

A segurança aumenta à medida que existe mais do que uma opção, não é algo inaudito. O mesmo acontece com a segurança energética e com a diversificação de fontes de energia. Esta asserção assume ainda mais relevância quando, efetivamente, os combustíveis de baixo carbono já são uma realidade. No ano passado, a Repsol incorporou 95.000 m3 de biocombustíveis nos combustíveis líquidos rodoviários, o que permitiu reduzir 260 quilotoneladas de CO2 no setor dos transportes e contribuir, desta forma, para a descarbonização da frota automóvel portuguesa. Tudo isto potenciando as infraestruturas existentes, a tal eficiência de recursos, plasmada no PNEC.

A continuação da operação de muitas empresas depende não apenas da energia e da capacidade de acesso a ela em condições competitivas, mas também, ou essencialmente, da previsibilidade. Não podemos onerar as pessoas, nem comprometer o seu futuro negligenciado soluções energéticas em detrimento de outras. Todas elas têm um papel fundamental na transição energética e complementam-se entre si.

Quando em 2019 fomos pródigos no objetivo de neutralidade carbónica até 2050, dissemo-lo que tão ou mais importante como a meta é o trajeto, com uma redução gradual de emissões. Uma visão estratégica que pressupõe a multienergia e a continua aposta na eficiência de todos os processos, de todos os negócios: essenciais na competitividade das empresas, na recuperação económica e na coesão social.

Armando Oliveira, Administrador-delegado Repsol Portuguesa

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt