Pelo menos, é isso que nos é garantido pelas autoridades de supervisão, pelo FMI, pela OCDE, pelas agências de rating e pela Comissão Europeia, que, alegadamente, sabem de (quase) tudo o que se passa nos balanços destas instituições.
Mas isso está longe de querer dizer que está tudo bem. É isso que nos vão transmitindo, em doses pequenas e sequenciais de informação. Sinais das dificuldades, de bancos descapitalizados e entupidos em ativos tóxicos.
Há razões para preocupação se lermos duas vezes as frases que nos vão sendo ditas. As do FMI, que no final de junho, dizia que o maior banco alemão e um dos maiores da Europa, o Deutsche Bank, apresenta o maior risco para a estabilidade financeira mundial; as da mesma instituição, que esta quinta-feira, referiu que os bancos portugueses têm que mudar, rapidamente, de estratégia e que a reestruturação do crédito deve ser, por cá, uma prioridade nacional; ou ainda as da Fitch, que esta semana avisou para os “ativos problemáticos” do sector financeiro” português.
De facto, basta uma viagenzinha pelo noticiário para perceber que à banca faz falta milhares de milhões de euros. Não só em Portugal e na Alemanha, como também em Itália e Espanha.
É raro o dia em que não é anunciado um plano de corte de milhares de balcões e trabalhadores. Os espanhóis, com uma forte presença em Portugal, apresentam, sem constrangimentos, planos de recuperação portentosos.
O Banco Popular, por exemplo, avisou que iria fechar 300 agências e dispensar cerca de 3.000 pessoas. A mesma instituição que fez, recentemente, um aumento de capital de 2,5 mil milhões e, ainda assim, tem em carteira 27 mil milhões de ativos tóxicos.
Os tempos dos lucros recorde acabaram, agora custa a sair do vermelho. O negócio mudou. Basta olhar para o nascimento continuado de fintechs.
O problema é que nada melhorará, pelo contrário, sem que se faça alguma coisa, dentro de portas e a nível transnacional.
Não é fácil encontrar acionistas para um banco e, assim, como está, o sector não só continuará a cavar o buraco, como afetará -- já afeta -- as economias. Portugal é muito dependente dos bancos e sem medidas concretas para, pelo menos, reduzir o problema, não se sairá daqui.
A Associação Portuguesa de Bancos (APB) apresentou, em maio, soluções ao Governo. A Unidade de Missão para a Recapitalização das Empresas trabalha há meses neste dossier. As GOP 2017 também apontam a recuperação da banca como prioridade.
Mas nada acontece, ao fim de muitos meses. Quantos mais até agir?
Jornalista e diretora do Dinheiro Vivo