A tecnologia está a revolucionar a investigação científica

Desde a criação de sistemas que simulam o funcionamento de órgãos humanos ao <em>machine learning</em>, os cientistas têm hoje novas ferramentas para estimular a inovação e acelerar a resolução de problemas.
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Há décadas que livros e filmes testam os limites da imaginação com tecnologias fantasiosas que parecem inatingíveis, ainda que a fronteira entre a realidade e a ficção tenha vindo a esbater-se. Pedro Matos Pereira, investigador do Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier (ITQB-NOVA), da Universidade Nova de Lisboa, é testemunha do papel que as novas ferramentas têm na aceleração da descoberta científica. "Estou a desenvolver sistemas artificiais que simulem órgãos humanos", exemplifica ao Dinheiro Vivo. O bolseiro da Fundação La Caixa é um dos convidados da próxima DV Talks sobre o papel da tecnologia na investigação, e que contará também com a presença de Pedro Couto, Associate Director da Accenture Technology.

Criar um organ-on-a-chip (órgão em chip, em tradução livre) não é um mero exercício para a prova de um conceito. É, sim, um trabalho que pretende "testar novos antibióticos e outros compostos farmacológicos" e o seu efeito nos órgãos do ser humano para evitar a utilização de testes em pessoas de carne e osso, assim como dispensar modelos animais. "Além dos problemas éticos da utilização de modelos animais, que são importantíssimos, estes são difíceis e caros de manter", explica. Através deste sistema artificial, é possível identificar e testar mais moléculas do que seria através dos métodos habituais e, eventualmente, "permitir acelerar muitíssimo a chegada desses compostos ao mercado", conta, entusiasmado, Pedro Matos Pereira.

A formação em biologia, química e microbiologia permite ao investigador focar a sua atividade científica em questões relacionadas com a interação entre patogénicos e as células hospedeiras, que acontece, diz, a uma escala muito reduzida. "São coisas extremamente pequenas", que agora podem ser analisadas e estudadas com a introdução, ao longo dos anos, de novas técnicas de microscopia "que permitem descobrir um mundo de coisas que até agora não se sabiam" no mundo da biologia.

Com os avanços sucessivos da tecnologia, as novas ferramentas digitais colocadas ao serviço da ciência permitem, por exemplo, que um computador faça análise em massa de imagens, através de machine learning, para encontrar diferenças entre modelos que seriam quase impossíveis de identificar através do olhar humano. "São técnicas que permitem analisar um sem número de condições muito rapidamente e testar moléculas com potencial farmacológico. Há vários tópicos em que a tecnologia foi transformadora", aponta.

Para Pedro Matos Pereira, o processo de desenvolvimento das vacinas para a covid-19 é "um exemplo perfeito" do poder da tecnologia, que partiu de investigações focadas no combate a outras doenças e conseguiu, rapidamente, adaptar esse conhecimento ao novo coronavírus.

João Casanova, ginecologista oncológico e investigador na Fundação Champalimaud, olha mesmo para a criação destas vacinas como "um dos maiores feitos da humanidade" e recorda ainda a utilização de "supercomputadores para fazer análises de quase todos os fármacos disponíveis que pudessem ser reaproveitados para o tratamento da covid". "É uma altura excitante da ciência", sublinha.

O médico faz questão de lembrar como a tecnologia não ajuda apenas o trabalho dos investigadores, acelerando-o e tornando-o mais eficaz, mas também permite inovações na área clínica com benefícios claros para os doentes. "A cirurgia robótica é um exemplo com que trabalho e que, de há uns anos para cá, se disseminou e permitiu a realização de procedimentos complexos através de cirurgia minimamente invasiva", diz. Os ganhos, garante, são evidentes. "Permite reduzir a dor no doente, diminuir o número de infeções, os dias de internamento e acelerar as recuperações. Isto é a tecnologia a ter impacto nos cuidados médicos do dia a dia", reforça.

A utilização de ferramentas inovadoras no processo de investigação científica, o seu potencial para o futuro da ciência e a forma como Portugal se posiciona na produção de conhecimento com apoio tecnológico serão alguns dos temas abordados na DV Talks, que será emitida no site do Dinheiro Vivo no próximo dia 19 de outubro.


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