Economia e finanças são coisas diferentes. No mundo das empresas, a perspetiva económica tem a ver com proveitos e custos, enquanto a financeira se prende com recebimentos e pagamentos. Há, obviamente, uma ligação entre ambas, mas está, na realidade, a falar-se de vertentes distintas da atividade empresarial.
Ao nível da governação de um país, as pastas da Economia e das Finanças têm também âmbitos e missões diferentes. Enquanto a primeira se foca na competitividade, no crescimento e no desenvolvimento económico, a segunda prende-se com a gestão - na tripla aceção de planeamento, execução e controlo - dos dinheiros públicos.
Aquilo que se pede aos titulares dessas pastas são coisas totalmente distintas. Ao Ministro da Economia pede-se que adote políticas e apresente projetos que desenvolvam o país na área económica. Da mesma forma que ao Ministro da Educação se pedem políticas e projetos que promovam o sistema educativo; à Ministra da Saúde, políticas e projetos que assegurem serviços de saúde de qualidade e acessíveis a todos; à da Justiça, políticas e projetos que promovam a existência de um verdadeiro Estado de Direito; e por aí fora.
Por outras palavras, espera-se que todos os ministros apresentem políticas e projetos para promover as respetivas áreas de atuação de uma forma coordenada entre eles e consistente com o programa do Governo. Todos? Não! Todos menos um: o Ministro das Finanças. Deste espera-se que assegure de forma sustentável a existência de meios que garantam o financiamento de políticas e projetos apresentados pelos seus colegas de governação.
Sustentável não significa dizer "sim" a todos, uma vez irá, certamente, implicar muitos "nãos". Significa, acima de tudo, assegurar contas certas a longo prazo. Porque se tal não ocorrer, é a própria independência do país que fica em causa pois passa a estar nas mãos dos credores - algo que a nossa esquerda tem dificuldade em entender.
Poderá Fernando Medina vir a ser um bom Ministro das Finanças? Claro que sim - mas para isso não pode cair na tentação de atuar como Ministro da Economia, porque se isso vier a ocorrer as finanças públicas estarão certamente em apuros.
Isto não quer dizer que a gestão dos dinheiros públicos seja uma mera atividade de um financial controller. Claro que há opções políticas, claro que deve haver graus de liberdade. Mas um país como o nosso, com um nível de endividamento excessivo, com um historial de défices crónicos e com uma pressão inflacionista pela frente, não tem grandes graus de liberdade.
Por isso, o melhor é esperar que Fernando Medina seja apenas aquilo que se deseja de um bom Ministro das Finanças na atual situação: alguém que saiba trabalhar com o Excel. Pode ser uma versão mais atualizada do que a utilizada por Vítor Gaspar, mas tem, acima de tudo, de controlar receitas e despesas.
E então não se deve preocupar em apresentar projetos para desenvolver o país? Sinceramente não, pois para isso é que lá estão os seus dezasseis colegas do Governo. Se cada um fizer aquilo que lhe compete, e em particular Medina, o país irá agradecer. Doutra forma, arriscamo-nos a ficar afogados nos milhares de milhões do PRR e a ter de pedir nova intervenção de mais uma troika quando esse tsunami de dinheiro fácil passar.
Carlos Brito, professor da Universidade do Porto - Faculdade de Economia e Porto Business School