O Dexia não é um daqueles carros da antiga Europa de Leste que pareciam caixas de fósforos. Isso era o Trabant. O Dexia é um banco franco-belga e tem o motor a arder. Nos últimos dias, os depositantes entraram em pânico e levantaram 300 milhões de euros das contas. Em Julho, nos célebres testes de stress às instituições financeiras, este mesmo banco foi considerado o nono mais seguro entre 90 da União Europeia, com os rácios de capital (a pressão arterial e os triglicéridos dos bancos) muito acima daquilo que exigem os reguladores. Era, portanto, uma história de sucesso. Respirava saúde. Um bom sítio para guardar as poupanças. Entretanto, veio a saber-se que o Dexia tem 20 mil milhões de euros de dívida de países suspeitos. Ora, isso é como ter os bolsos cheios de dinamite ao pé de um prédio a arder.
Há três anos, quem tinha hipotecas-lixo (subprime) americanas no balanço estava como estão hoje os que têm dívida soberana da Grécia, Portugal, Irlanda Espanha e Itália. Na base do problema está a sensação de que estas dívidas são tão elevadas que se tornaram impagáveis. Ou seja, os ditos países periféricos são para os mercados como aqueles americanos desempregados da periferia absolutamente viciados em compras pela televisão, pela Internet ou em visitas descontroladas aos centros comerciais. Gente ignorante que colecciona cartões de crédito e que, um dia, rebenta deixando atrás de si um rasto de dívidas e de terra queimada.
Há qualquer coisa que não cola nesta descrição. A Itália, por exemplo, tem o terceiro maior mercado de dívida pública do mundo e um primeiro-ministro grosseiro que mistura a vida pública com a privada. Uma aberração. Mas esta é a mesma Itália do design, do turismo e de uma poderosa indústria pesada que vale e produz biliões em mercadorias e serviços para todo o mundo.
Tem problemas? Tem, como Espanha, Portugal e a Irlanda também têm - graves e estruturais -, mas há qualquer coisa de lunático em defender que são subpaíses, falidos e sem capacidade para mudar - como a Grécia. Não é verdade. Combater esta ideia deveria ser prioritário. Como? Recapitalizando de forma coordenada os bancos europeus para que sejam capazes de absorver o default da Grécia. Essa é a única certeza que há: a Grécia vai cair e os bancos europeus têm de preparar-se para essa inevitabilidade. Se não o fizeram, a Zona Euro vai ao fundo - como o Dexia.