Co-fundador e CEO da MASH Project Foundation, uma comunidade para empreendedores sociais que foi distinguida com o prémio GoalKeepers Global Goals pela Fundação Bill e Melinda Gates em 2020, Aashish Beergi é também um dos Jovens Embaixadores das Conferências do Estoril (Índia). É um dos mais de 70 oradores da conferência este ano e estará em Lisboa, na Nova SBE, a 1 e 2 de setembro, para falar da sua experiência e ajudar a responder à pergunta "O que fazer agora que temos o poder de chegar a qualquer pessoa, em qualquer momento e em qualquer parte do mundo?".
A MASH Project Foundation está quase a completar 10 anos. Como tem ajudado a mudar a economia indiana?
A Índia é um dos países com maior percentagem de população jovem e uma das economias que mais cresce no mundo. Mas as disparidades económicas também crescem, designadamente no que se prende a questões como o acesso à educação e aos recursos, e a pandemia veio piorar a situação. Criamos a MASH com a intenção de desenvolver um ecossistema que permita que todos os jovens, que estão empenhados em quererem resolver alguns destes problemas sócio-económicos, possam não só encontrar a comunidade certa para isso, como possam desenvolver as suas capacidades, ao nível do conhecimento e das competências. Tudo isso lhes é disponibilizado através de uma plataforma que lhes permite amplificar as suas vozes, de modo a que o seu trabalho seja visto e ouvido. Termos uma das maiores populações jovens do mundo é um dos maiores ativos da Índia, mas, a verdade é que se não for bem utilizado e canalizado, será também uma enorme oportunidade perdida.
Quantos jovens conseguiu já a MASH impactar?
Diretamente, cerca de 10 mil. Estamos a falar dos que participaram nos nossos programas de treino e nas nossas iniciativas de community building, ou em que realmente influenciamos o seu trabalho. Se incluirmos todos os que envolvemos nas nossas campanhas digitais e noutras iniciativas que desenvolvemos, diria que meio milhão de jovens. E, até 2030, teremos atingido, pelo menos, 100 mil jovens agentes da mudança que, estarão, por sua vez, a tomar iniciativas em variadas áreas das metas do desenvolvimento sustentável. Pressupondo que cada um deles impacte, pelo menos, 100 pessoas, estaremos a falar em 10 milhões. Há vários programas e iniciativas que estão a ser levadas a cabo e que irão contribuir para estes números.
Como é que o prémio da Fundação Bill e Melinda Gates influenciou o modo como o projeto é visto no mundo?
Os prémios são excelentes formas de celebrarmos o que temos vindo a fazer e vindo de uma organização reconhecida como esta, trouxe grande reconhecimento ao nosso trabalho e isso ajudou-nos muito. Deu-nos também maior credibilidade, o que ajuda à expansão do projeto.
CitaçãocitacaoQuando somos jovens somos muito impacientes, mas fazer a mudança não é fácil, nem rápido, sem simples. É preciso perseverança
A pandemia afetou o desenvolvimento dos projetos da MASH?
Os primeiros meses foram muito desafiantes, porque muito do nosso trabalho era no terreno e tivemos de o interromper. Mas, quando se quer mudar o mundo, não se veem problemas, veem-se oportunidades para fazer melhor e ajudar a resolver problemas. E foi isso que procurámos fazer, com a ajuda de voluntários. E foi essa experiência que nos levou a focar-nos do desenvolvimento de iniciativas digitais. Foi uma jornada em montanha russa, mas permitiu-nos pensar de forma diferente, mudarmos o sentido e mudarmos o nosso marketing, o que hoje nos está a ajudar muito a crescer, a ter um impacto muito maior e a escalar de forma muito mais acelerada. A pandemia foi uma boa experiência de aprendizagem.
Vai estar em Portugal em setembro. Que mensagem traz aos jovens portugueses?
Portugal e a Índia partilharam sempre excelentes relações, há uma grande ligação histórica, e eu estou muito entusiasmado por poder ir a Portugal onde tenho bons amigos, alguns dos mais fantásticos agentes de mudança que conheci ao longo dos anos em várias conferências pelo mundo. Eu espero aprender com os jovens portugueses e partilhar algum do nosso trabalho. Mais importante, espero encontrar mais oportunidades de colaboração e de parcerias, porque todos nós precisamos de colaborar uns com os outros para criarmos um mundo melhor. Ninguém o pode fazer sozinho.
Vai participar no debate sobre o novo mundo digital e a capacidade de chegar a qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Como é que a internet ajudou a mudar o empreendedorismo?
Ajudou muito, como acredito que os novos meios digitais de social media, como o Instagram ou o Tik Tok e outras plataformas digitais são vitais para fazer chegar a informação a todo o mundo.
E como é que se ajuda os jovens a serem agentes de mudança?
Assim de uma forma simples, diria que há que encontrar uma paixão, conhecer novas pessoas, com ideias interessantes, ser voluntário em diferentes organizações, tudo ajuda a que descubram o que querem fazer. Foi o que aconteceu comigo, fiz muito voluntariado e acabei a interessar-me cada vez mais pelas alterações climáticas e comecei a trabalhar num projeto de gestão de lixo e para o implementar acabei a conhecer imensa gente, que me apoiou e me ajudou. É importante ter acesso a uma comunidade de mentores, de gente que ajuda. Conferências como a do Estoril são um excelente local para isso, ou entidades como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. E é preciso haver muita perseverança, sobretudo se querem construir uma carreira nesta área. Fazer a mudança não é fácil, nem rápido, nem simples.
E como podem os jovens financiar os seus projetos de empreendedorismo social?
Fazem-me muito essa pergunta, mas a verdade é que o dinheiro não é um desafio assim tão grande. Não faltam recursos. Os maiores desafios envolvem a aceitação social, a capacidade de influenciar quem está à sua volta, e de ter o know how e as skills necessárias para aceder aos recursos. E é esse tipo de trabalho que nós desenvolvemos. E como nós há imensas plataformas e iniciativas como as Conferências do Estoril que ajudam a juntar os líderes, os agentes da mudança e quem os pode ajudar. E a internet é uma ajuda preciosa; os jovens devem tirar partido dela para porem em pé as suas estratégias e para acederem a mais e mjais oportunidades.
Quanto ao futuro, que projetos tem em mente?
Vou continuar a trabalhar com os jovens e a usar a tecnologia para os ajudar. Por exemplo, criamos um curso online chamado "Skills to Serve". É um curso de 12 semanas, sendo oito de aprendizagem e quatro de estágio junto de organizações não governamentais e empresas da área social. Tem sido um projeto piloto, mas estamos muito empenhados em expandi-lo.