Luís Barreto Xavier, presidente do Instituto do Conhecimento da Abreu Advogados, não tem dúvidas: "O mundo está em transformação acelerada". Significa "que os postos de emprego nas organizações não são estáticos, não se mantêm" como até aqui. "Com automação e digitalização, há trabalhos que desaparecem e outros surgem, e os que existem transformam-se". É neste contexto de mudança global que a Abreu, uma das quatro principais sociedades de advogados do país, decidiu avançar com o processo de certificação do seu Instituto do Conhecimento, como entidade formadora. A certificação da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) foi obtida em agosto e permite à sociedade "vender" formação a empresas, a usar para cumprimento das obrigações legais que têm com os colaboradores. O Instituto está certificado na área jurídica, na gestão e no desenvolvimento pessoal, com soft skills.
"A certificação permite que sejamos relevantes no cumprimento das 40 horas anuais de formação aos seus colaboradores, além de terem vantagens, como a isenção de IVA", diz Barreto Xavier. "A nossa ideia é que a formação é essencial - sempre foi, mas hoje, é ainda mais premente."
Segundo Barreto Xavier, "a formação é um instrumento essencial quer para quem está nas empresas e precisa de estar preparado para encarar novos problemas, quer para quem quer mudar de vida ou tem mesmo de o fazer".
A Abreu fundou o Instituto do Conhecimento em 2012, como "uma espécie de academia corporativa que n primeira fase funcionou sobretudo para formação interna, realização de publicações em parceria com as Edições Almedina, realização de conferências, atribuição de prémios de investigação, entre outros". Agora, "decidiu-se apostar especialmente na formação dirigida a empresas e outras organizações". A Abreu aproveita o facto de ter "como colaboradores uma série de professores universitários" e está "no processo de alargar a carteira de formadores certificados pela DGERT".
Com a obtenção da certificação, vai passar a ter "duas linhas desenvolvimento da formação externa". Por um lado, atua na formação aberta, desenvolvendo cursos que serão divulgados para o exterior e nos quais qualquer pessoa se pode inscrever. Quando é apoiada pelas empresas, a inscrição serve para cumprimento da tal obrigação legal. A Abreu promove formação em várias áreas, incluindo os ativos digitais e finanças alternativas. E tem um protocolo com a brasileira Future Law, com a qual está a desenvolver projetos em conjunto e promete novidades para breve.
"Vamos ainda desenvolver formação à medida das empresas e organizações", frisa Barreto Xavier. "Os nossos objetivos são a partilha de conhecimento; uma forma de expor a nossa marca e saber; contribuir para o networking."
O envolvimento de Luís Barreto Xavier com o Instituto do Conhecimento da Abreu começou em 2019, quando assumiu a função de coordenador, ficando ainda responsável pela área da inovação. Antes, desde 2018 que era consultor da Abreu, trabalhando como jurisconsulto, essencialmente em matérias relacionadas com o Direito Internacional Privado. É também professor universitário e fundou e dirigiu a Católica Global School of Law. Conta ainda com vasta experiência na representação do Estado português em diversos processos de contencioso e junto do Tribunal de Justiça da União Europeia e integra o Grupo de Investigação Multidisciplinar sobre Inteligência Artificial e Direito, criado em 2018 no âmbito do Católica Research Centre for the Future of Law.
Para Barreto Xavier, os tempos pós-crise da pandemia trazem mais necessidades de formação para as empresas. A aceleração da transformação digital já em curso traz desafios e novas tendências, como teletrabalho, direito a desligar, flexibilidade; mas também a automação, com o desaparecimento de postos de trabalho e o surgimento de novas necessidades laborais cujo preenchimento dependerá cada vez mais de formação.
Por outro lado, a crise energética e as alterações climáticas também estão a provocar mudanças. A sustentabilidade e a ecologia estão agora no centro das atenções, apesar de há décadas se saber da necessidade de haver mudanças ao nível das decisões políticas e nas práticas de produção industrial e consumo.
Também o mundo financeiro global está a transformar-se, com o advento da blockchain, finanças descentralizadas e moedas digitais. Com todas estas mudanças e desafios, surgem alterações ao nível da legislação que as empresas precisam de acompanhar. Além dos desenvolvimentos na formação, o Instituto do Conhecimento organizou a sua 3.ª edição do Lisbon, Law & Tech no final de outubro, com oradores nacionais e internacionais. Entre os temas abordados estiveram essencialmente alguns relacionados com o futuro e as tendências no setor da advocacia, incluindo o que envolve a evolução de tecnologia, como inteligência artificial e os robotlawyers.