Abril

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Nascido no período pós-revolução, sou de uma geração que cresceu com os valores civilizacionais da Revolução e que beneficiou, na plenitude, de todas as suas conquistas de Liberdade, Igualdade e Justiça Social.

Valores impulsionadores das grandes transformações democráticas da nossa sociedade. Nestes 47 anos venceram-se desigualdades que marcaram gerações e consolidaram-se direitos fundamentais.

Temos hoje uma Constituição da República das mais progressistas da Europa, um poder local democrático e manifestamos livremente as nossas convicções políticas. Somos cidadãos de pleno direito, livres, no livre-arbítrio e na expressão.

A Revolução consagrou, num país então em guerra, amordaçado, condenado à censura, à pobreza e exclusão, marcos fundamentais, como o acesso à Escola Pública e à Habitação, o Direito à Greve, ao Divórcio, ao Serviço Nacional de Saúde, entre tantos outros.

Tolerância, democracia e liberdade. São estes os valores que devem servir de pilar para que nestes tempos incertos se continuem a combater novas e velhas desigualdades, acentuadas pela pandemia da Covid 19.

O período que atravessamos, e as clivagens que a pandemia agravou, são o momento para invocar os valores coletivos da solidariedade e do respeito pelo outro.

As consequências desta crise não podem ser desvalorizadas. A pobreza, o abandono escolar, a desigualdade de oportunidades, as questões de género, o desemprego e as condições precárias de trabalho, as questões ambientais e a luta climática, são combates a travar e que a todos nos convocam numa ação mobilizadora para uma sociedade mais progressista e inclusiva.

É tempo de políticas públicas robustas e multidimensionais, é tempo de solidariedade, de investimento na coesão territorial.

Celebrar o dia da Liberdade é lembrar o seu significado e honrar o seu legado, é continuar um caminho de desenvolvimento. É assumir o compromisso de prosseguir o trabalho incompleto de construção de uma sociedade mais justa, em que o papel do Estado é tão mais forte quanto os movimentos cívicos que o constituem.

Preocupante é também a retórica associada aos discursos populistas, separatistas e extremistas que se agudizam neste dia. Os seus autores vivem à sombra das conquistas alcançadas pelo sacrifício e coragem de outros, protagonizando momentos repletos de saudosismo, com narrativas de ódio, ignorando o simples facto de que só o podem fazer pelas portas que Abril abriu.

Por tudo isto, é tempo de se fazer cumprir Abril e de lutar para que nunca se deixe cair em esquecimento tudo o que foi conquistado no "dia inicial inteiro e limpo".

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