Acelerar o passo político para reforçar a economia portuguesa
As eleições legislativas constituem tradicionalmente um fenómeno complexo de gerir e que colocam para uma parte da economia, um grão desnecessário na engrenagem. Agora imagine-se num ciclo como o atual, onde a execução do programa de apoios europeus para a transformação estrutural do país é crucial para que o país não perca o comboio da modernização, que pode bem vir a separar por várias décadas o conceito de economias desenvolvidas, das restantes. O tempo urge, e exige respostas por parte de todo o país para que se possa definitivamente voltar a crescer e não desperdiçar esta oportunidade. E existem três reflexões sobre três variáveis relevantes que não podemos deixar de fazer.
Em primeiro lugar, saber qual é a estabilidade política com que podemos contar. Os portugueses não podem estar de forma eterna a serem chamados de ano a ano a eleições legislativas. O mundo mudou, o sistema político também, está mais fragmentado e é mais difícil criar um parlamento com maiorias políticas muito homogéneas. Neste momento, as sondagens indiciam que das próximas legislativas não resultará um parlamento muito diferente do atual. Portanto, existem duas opções à cabeça: ou se mudam as regras eleitorais que permitam um prémio eleitoral ao vencedor para obter estabilidade (exemplo: à semelhança da Grécia, onde o partido vencedor tem 50 lugares adicionais no parlamento) , ou os partidos do hemiciclo mudam as suas próprias regras do jogo, e começam a governar com o parlamento que os portugueses elegeram. Esta ultima, na minha opinião, seria um sinal de maturidade política que teria um valor incalculável para economia portuguesa.
Uma segunda reflexão é ter noção da mudança do contexto internacional atual, e de como é perigoso para Portugal. A nossa estratégia de crescimento passa por grande abertura da nossa economia ao exterior. Num mundo cada vez mais protecionista, e onde as barreiras e ofensivas tarifárias são a regra, é preciso acautelar a capacidade de competir, e ser inovador em todas as verticais de negócio das nossas empresas. Desde a conceção dos nossos produtos, pela promoção dos mesmos, passando pela capitalização das empresas, do apoio à sua gestão de tesouraria (sobretudo nas de menor dimensão), do acesso ao investimento privado ou na facilitação dos incentivos à internacionalização, tudo será crucial nos próximos anos, para agarrar esta oportunidade geracional, num mundo mais complexo e competitivo pelos recursos e pelo acesso à tecnologia. Um país como o nosso não pode hesitar. Tem demasiado em risco e não tem suficiente escala da procura interna para compensar a perca do mercado global.
Por fim dizer, que há muito a perder se Portugal não resolver o impasse político e lidar com o contexto geopolítico. Neste momento já estão em curso uma série de medidas para acelerar economicamente o país. O exemplo mais recente vem do programa Reforçar, que é uma resposta mais estruturada e preparada para resolver grande parte dos desafios das empresas nacionais, sobretudo das PME’s. A grande novidade prende-se com uma resposta muito mais integrada sobre todo o ciclo de trabalho das empresas. A implementação desta e outras medidas similares não são ideológicas urge, mas tendem a ser prejudicadas com impasses relacionados com agendas partidárias e eleitorais. É preciso por isso saber separar e criar condições para que Portugal se possa também reforçar, não deixando que um parlamento bloqueado, coloque também, a economia portuguesa num beco, num momento crucial como é o atual.
*Luís Tavares Bravo é Economista, Presidente do Internacional Affairs Network