Acordo UE-Mercosul: a globalização sobrevive!

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"É um dia verdadeiramente histórico. Conseguimos um acordo ambicioso e equilibrado”, disse Ursula von der Leyen. A presidente da Comissão Europeia não estava a ser hiperbólica no seu juízo: de facto, a parceria económica e política firmada entre a UE e o Mercosul reveste-se da maior importância estratégica para ambas as partes. Negociado ao longo dos últimos 25 anos, o acordo abre boas perspetivas de liberalização das trocas comerciais entre parceiros europeus e sul-americanos, com um impacto de mais de 45 mil milhões de euros anuais.

A parceria UE-Mercosul promete maior liberdade de comércio, investimento e intercâmbio entre dois importantes blocos económicos. Neste sentido, contraria perentoriamente o “espírito do tempo” e tem um claro significado geopolítico. Com este acordo, cria-se uma brecha na cortina protecionista e isolacionista em que o mundo se está a enclausurar.

Esteve bem, portanto, a UE ao reagir contra o colete de forças que lhe querem impor outros blocos económicos, agravando - ou prometendo agravar - as tarifas alfandegárias sobre os produtos europeus. É fundamental defender o livre comércio e a globalização económica, princípios essenciais para a prosperidade, desenvolvimento e sustentabilidade global.

Na verdade, ainda falta a ratificação do acordo pelo Parlamento Europeu e pelos Estados-membros. Este processo promete ser longo e espinhoso, conhecidas que são as resistências internas à parceria, designadamente da todo-poderosa França, a braços com a contestação dos seus agricultores. Por este prisma, o acordo UE-Mercosul é também um teste à capacidade da Europa para se manter unida e saber conciliar os interesses nacionais - sem egoísmos estéreis, pulsões protecionistas, obstinação ideológica ou incapacidade estratégica.

Os 27 têm de perceber a extrema importância do comércio mundial para a economia europeia e para a própria sobrevivência do projeto comunitário. Sendo o segundo maior exportador e importador de bens do mundo, bem como o principal parceiro no comércio mundial de serviços, a UE depende muito da cooperação com outros blocos e países para o seu crescimento económico.

Ora, a abertura do vasto mercado sul-americano traz excelentes oportunidades de negócio e investimento para o tecido empresarial europeu, em especial para as 60 mil empresas que já exportam para o Mercosul. Para além das poupanças em tarifas e custos alfandegários (cerca de 4000 milhões de euros), a Europa ganha acesso facilitado a matérias-primas e diversifica as suas cadeias de abastecimento, mitigando as dependências que revela a este nível.

De todos estes benefícios usufrui também a economia portuguesa. Aliás, as nossas empresas têm uma vantagem suplementar que lhe é dada pelas afinidades históricas, culturais e linguísticas com Argentina, Paraguai, Uruguai e especialmente Brasil. Nós, portugueses, entendemo-nos bem com estes países e há já um sólido trabalho de cooperação entre Portugal e a América Latina, para o qual a CIP tem contribuído. O acordo alcançado pela UE vem, pois, ao encontro dos interesses estratégicos do nosso país e vai certamente aprofundar as relações que temos hoje com o espaço latino-americano.

Obviamente que é também um desafio à competitividade da economia portuguesa. Só aproveitaremos verdadeiramente o acordo se formos capazes de oferecer produtos mais inovadores, com tecnologia e valor acrescentado. Para isso, é necessário que Portugal invista em indústrias estratégicas e eleve o perfil do seu tecido produtivo. 

Presidente da CIP

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