Afinal, o que é isso do blockchain? 

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O mundo está a mudar rapidamente, e todos os dias vemos novas disrupções que prometem alterar no curto prazo a forma como vivemos. Algumas destas invenções ou saltos tecnológicos são muito evidentes, e outros são mais silenciosos, e nem sempre se explicam facilmente ao público em geral e vão percorrendo o seu caminho até a sua presença se tornar inevitável e tomar conta das rotinas e das vidas das pessoas. E este pode ser o caso da tecnologia Blockchain, uma expressão complexa que diz pouco ainda ao público em geral, associada muito à criptomoeda, mas que representa tecnologicamente muito mais que isso.

Mas o que é isto do blockchain? E como funciona? De forma resumida, a blockchain é uma tecnologia que funciona como uma espécie de protocolo, baseado na confiança entre pares, ou seja, é uma arquitetura em rede P2P (peer-to-peer) que distribui e divide informação de forma descentralizada por uma série de participantes na mesma. No caso desta tecnologia, esta funciona como um livro-razão contabilístico que regista informações, transações e gestão de ativos, mas que é completamente descentralizado, e livre de qualquer autoridade central - o que significa que os dados sobre as transações são geridos diretamente entre as partes, retirando o fator de intermediação da transação, tornando-a mais eficiente, mais transparente e mais segura uma vez que é descentralizada e criptografada digitalmente.

Porque é que cria valor? E o que é a tokenização de ativos? Os ativos sobre os quais os protocolos de transação blockchain podem funcionar podem ser tangíveis (uma casa, ou um carro, ou moeda), ou intangíveis (propriedade intelectual, marca, etc). Ou seja, praticamente qualquer item de valor pode ser controlado e comercializado em uma rede de blockchain, o que reduz os riscos e os custos de todas as partes envolvidas. Por exemplo, existe um enorme potencial ligado a vários pontos de atuação da tecnologia blockchain, e que está sobretudo ligada ao conceito da tokenização dos ativos. A tokenização refere-se à criação de “tokens”, que não são mais do que partes de código alocado num blockchain, com dados sobre ativos e passivos subjacentes, que podem incluir - entre outros - atributos, histórico de transações ou propriedade. Estes “tokens” digitais viabilizam a negociação e transferência de titularidade e títulos de valor diretamente, e através do modelo de livro de razão digital.

Esta década poderá ser de enorme evolução da tecnologia blockchain, e que pode ser convertido em milhares de milhões de utilizadores e triliões de dólares em valor. De acordo com uma análise recente do Citgroup (Citi GPS Março 2023), o nível compatível com sucesso está associado a mil milhões de utilizadores. Este crescimento deverá ser impulsionado pela adoção de moedas digitais (CBDCs) pelos grandes bancos centrais do mundo, assim como pelos como ativos tokenizados em jogos e pagamentos baseados em blockchain nas redes sociais. Até 2030, um valor de até 5 triliões de dólares em moedas digitais dos bancos centrais (CBDCs) deverão estar a circular nas principais economias do mundo, metade ou que podem estar vinculados à tecnologia de blockchain. A tokenização de ativos financeiros deverá também impulsionar o avanço da blockchain, sendo que esta cresça num fator de 80 vezes nos mercados privados e atinja quase quatro triliões de dólares em valor, também até 2030. A mudança é silenciosa, e pode ser ainda pouco visível, mas está em curso - os governos, as empresas e instituições estão neste momento a proceder a testes e provas de conceito - e promete marcar de forma irreversível o curso da economia, mas também dos hábitos e rotinas da sociedade.

Economista, presidente do Internacional Affairs Network

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