Numa altura em que o aeroporto de Lisboa enfrenta diversos constrangimentos operacionais, as agências de viagens estão a responder "da melhor maneira", e isso passa por "levar os clientes ao colo", de acordo com a expressão usada ontem, nos Açores, pelo presidente da Associação das Agências de Viagens e Turismo (APAVT).
Questionado pelo Dinheiro Vivo sobre como é que o setor está a dar a volta ao problema, Pedro Costa Ferreira disse que levar os clientes outgoing "ao colo" tem sido a solução: "Explicar-lhes a situação, dizendo-lhes a que horas devem chegar e que comportamento devem adotar, de maneira a que os problemas sejam os menores possíveis face à realidade".
Quando "as consequências passam os limites", entenda-se perdas ou cancelamentos de voos, as agências continuam igualmente a "apoiar os clientes, redirecionando-os, ou, em última instância - que é aquilo que nem o cliente nem a APAVT quer, uma vez que é uma venda não feita é uma viagem que ficou por fazer - reembolsando-os", avançou o responsável, no evento em que anunciou o 47.º congresso da Associação, a decorrer de 8 a 11 de dezembro em Ponta Delgada, nos Açores.
Apesar das dificuldades nos aeroportos, Pedro Costa Ferreira afirmou que, de um modo geral, o diálogo entre agências e clientes "tem estado a correr bem".
"De certa maneira, nós vemos isto como uma excelente oportunidade para ganharmos quota de mercado", acrescentou, lembrando que as agências de viagens foram um "bom porto de abrigo" nos tempos mais agudos da pandemia, tendo em conta toda a logística de apanhar um avião, admitindo que "nem sempre é fácil acompanhar todos as restrições face à covid-19".
Pedro Costa Ferreira observou que, do ponto de vista comercial das agências, quase que se diria que "estas desorganizações e problemas operacionais são bem-vindos", pois, nos tempos que correm, torna-se "muito mais fácil viajar com uma agência do que sem elas".
Quanto aos problemas relacionados com a receção de turistas, o presidente da APAVT classificou-os como "absolutamente inqualificáveis". Contudo, adiantou que aquilo que tem ouvido "é que a receção aos turistas melhorou efetivamente no mês de junho" e que, apesar de continuar a haver momentos de pico, "as filas estão mais controladas". "Isto pode virar o jogo", observou, afirmando considerar possível retomar os números de viagens de 2019 em 2023.
Portela, Montijo e Alcochete
Quanto à polémica em torno das soluções para servir Lisboa, Pedro Costa Ferreira disse que o foco deve passar por aquilo que é uma resposta "mais efetiva e mais breve: obras no atual aeroporto".
"Sabemos que estamos a perder milhões de euros e sabemos que vamos perder cada vez mais ao longo dos anos até termos uma solução aeroportuária, seja ela Portela mais um (Montijo) ou a construção de um novo aeroporto", observou o responsável. Através de um software de gestão de espaço aéreo, "comprado há anos", e de "algumas obras no aeroporto de Lisboa", seria possível - "e muito", segundo o dirigente da associação - melhorar as condições operacionais. "Em muito é, nos momentos de pico, passar dos 40 movimentos por hora para 48", clarificou.
"Se pensarmos que o Montijo vai ter 24 movimentos por hora, numa primeira fase, significa que ainda é possível aceder a um terço [da capacidade] do Montijo no aeroporto da Portela", referiu o presidente da APAVT, considerando que esta deveria ser a primeira fase "pela qual deveríamos todos lutar, depois, enquanto essa fase acontecesse, arranjar uma solução".
Ressalvando que a associação "não tem conhecimentos técnicos para saber qual seria a melhor opção", Pedro Costa Ferreira arriscou dizer que, aparentemente, o mais "rápido e fazível seria Portela mais Montijo". Do ponto de vista das agências de viagens e do turismo de Portugal, a APAVT "ficaria satisfeita se fizessem as obras na Portela, depois no Montijo e ainda em Alcochete", adiantou o responsável, rematando que, tendo sempre em consideração a avaliação dos timings e da necessidade, esta pareceu ser "uma abordagem coerente".
Sobre a discussão futura sobre esta matéria, Pedro Costa Ferreira admitiu não ter havido um retrocesso ao ponto de partida, até porque "o Governo aparenta ter ideias muito concretas". No entanto, deixou nota de que espera que haja um "diálogo com frutos" com a oposição e que os políticos deem um "bom exemplo daquilo que não têm feito" - pensar nos portugueses.
A jornalista viajou a convite da APAVT