Num relatório que avalia o ranking internacional de competitividade, Portugal desceu num só ano seis posições, o que é muito preocupante.
É verdade que nesta evolução não podemos dissociar os fortes impactos da pandemia, face à maior dependência relativa do turismo - setor amplamente afetado.
A fonte de preocupação reside, sobretudo, por esta queda ter a ver com a não resolução de causas estruturais da economia e não tanto como o resultado de aspetos conjunturais.
Destaco a política fiscal, onde mantemos uma das piores posições (56.ª). Ou seja, em mais de 60 países só há sete pior classificados.
Como insistentemente tenho alertado, a elevada carga fiscal sobre as empresas e as famílias conduz à menor atratividade de investimento (nacional e estrangeiro), à redução do rendimento líquido disponível (agora agravado pela inflação galopante) e à menor capacidade de atração e retenção de talento, tão essencial ao país.
A "receita" para melhorar a competitividade está alinhada com aquilo que a AEP defende e reafirma no recente estudo "Do Pré ao Pós Pandemia: Os novos desafios", nomeadamente a necessidade de promover um crescimento sustentável do PIB acima da média europeia e dos seus pares, através de estratégias nacionais que melhorem o empreendedorismo e as competências, que estimulem as transformações digital e energética, que saibam lidar com o desafio demográfico, pelas implicações diretas no mercado de trabalho. Também, a reforma do setor público, designadamente na Justiça e a garantia de um nível sustentável de dívida.
Fazendo o benchmarking internacional, os constrangimentos e os caminhos a seguir estão perfeitamente identificados. Importa as políticas, fazendo o bom uso da generosa dotação de fundos europeus para a década.
Reafirmo a convicção quanto à desejável alocação de cerca de 60% dos fundos europeus aos principais criadores de riqueza: as empresas, por forma a melhorar a produtividade e, por essa via, o rendimento médio do país, a condição que permitirá praticar melhores salários, dada a forte correlação entre estas variáveis. De outro modo, continuaremos a perder competitividade!
Como realça o estudo da Fundação José Neves "O Estado da Nação-Educação - Emprego - Competências 2022", "O aumento da produtividade das empresas portuguesas e da economia é crucial, para que os salários médios possam crescer e acompanhar o aumento de qualificações, limitando assim a saída de talento para o estrangeiro".
Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP)