Alfaiates dos barcos algarvios produzem à medida com apoio de fundos europeus

90% dos barcos únicos que a Nautiber constrói, como o de investigação marinha <em>Mar Profundo</em>, beneficiam do apoio de fundos europeus, como o Programa Operacional CRESC ALGARVE 2020.
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Com estaleiros quase à beira do Guadiana, paredes meias com Espanha, e de olhos postos no Atlântico quente do Algarve, a Nautiber anda há 30 anos a construir e restaurar embarcações à medida da vontade do cliente. Os Alfaiates dos barcos, como são conhecidos, sedeados em Vila Real de Santo António, são especialistas na construção de pequenos navios (entre os 9m e os 30m fora a fora, ou de comprimento, para os leigos) em fibra de vidro e praticamente não fabricam dois espécimes iguais - a não ser encomendas em série para o mesmo cliente. Nos últimos anos, 90% dos que saem dos seus estaleiros para o mercado da atividade marítimo-turística têm sido construídos com o apoio de fundos europeus, como os subjacentes ao Programa Operacional CRESC ALGARVE 2020.

"Cerca de 90% das embarcações que construímos para o mercado nacional têm por trás produtos financeiros de subvenções nos diferentes quadros comunitários", revelou Rui Roque, engenheiro naval e CEO da Nautiber, em entrevista ao Dinheiro Vivo. Entre eles os do PO CRESC ALGARVE 2020 (veja aqui o vídeo da Nautiber), programa criado com fundos europeus e dedicado ao desenvolvimento da região, com base na captura de valor gerado a partir de recursos locais.

"Para nós isso é fundamental", continuou Rui Roque, referindo-se a esse financiamento precioso. "Sem essa alavancagem seria muito difícil nós mantermo-nos no mercado e mantermos a nossa atividade ou, pelo menos, crescermos da maneira como crescemos."

Rui Roque conta que as subvenções para a construção de embarcações de pesca nacionais, o seu principal mercado, foram desaparecendo nos sucessivos quadros comunitários, tendo os últimos apoios acontecido para o mercado Açoriano, que trabalhou ativamente, pelo que a Nautiber teve de se virar para a exportação. "Neste momento, cerca de 80% do nosso trabalho é para a exportação. Temos agora a expectativa, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, que consigamos fazer mais alguma coisa para cá", diz o CEO. Por enquanto, "o nosso trabalho anda na casa dos seis milhões de euros por ano", concluiu.

Em média, a Nautiber fabrica oito a dez barcos por ano. Desde que Rui Roque tomou conta dos estaleiros - em inícios da década de 1990, então com o nome Bota Abaixo - já construiu 362 embarcações.

"Há conjuntos de embarcações iguais para o mesmo cliente, mas, de uma forma genérica, as embarcações são todas diferentes. Aliás, as nossas embarcações acabam por ter particularidades próprias da nossa marca e até particularidades um pouco das pessoas que as constroem. Às vezes, consigo identificar qual o carpinteiro que fez determinada ponte", contou, para explicar o epíteto de Alfaiates dos barcos, há muito aplicado à Nautiber. "Desde sempre, temos essa especificidade: construir à medida do cliente", afirma, rindo.

Partindo da tradição da construção em madeira que já existia em Vila Real de Santo António, a Nautiber aproveitou esse know-how e fez o upgrade para a fibra de vidro. Recentemente, dos estaleiros da Nautiber saiu o Mar Profundo, um navio especial, de investigação marinha, autêntico laboratório científico, encomendado pelo Inesc Tec, do Porto.

"Um estaleiro só cria competência quando faz, quando executa. Essa oportunidade, que nos foi dada, de contratar e de executar essa embarcação criou-nos a competência de construir barcos desse tipo e colocou-nos no mercado desses navios", disse Rui Roque. Por causa do Mar Profundo, a Nautiber já teve duas consultas para fabricar dois barcos semelhantes, uma da Madeira e outra de Espanha.

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